Porque é o depois que realmente importa
Camila Torres
O relógio marcou meia-noite e o dia 8 de março chegou ao fim.
Mas, e daí? Se o pai de um ex ainda vai reclamar da roupa da futura nora assim como reclamava da minha?
Ontem foi dia 8, e daí? Se um colega de trabalho ainda vai fazer alguma piada machista disfarçada em frases subjetivas?
Ontem foi dia 8, e daí? Se o namorado de uma amiga vai continuar brigando quando ela come algo que atrapalhe ela a ficar magra nos padrões dele?
Ontem foi dia 8, e daí? Se o namorado de uma amiga de um amigo ainda vai bater nela quando estiver “estressado” e quase ninguém vai saber?
Ontem foi dia 8, e daí? Se um professor ainda vai lançar piadinhas sobre a vida amorosa de outra professora relacionando isso ao seu desempenho profissional?
Ontem foi dia 8, e daí? Se eu vou pensar cinco ou seis vezes antes de sair com aquele vestido num sábado a noite qualquer?
Ontem foi dia 8, e daí? Se uma amiga ainda vai ser acusada de ter traído o namorado porque resolveu terminar o relacionamento?
Ontem foi dia 8, e daí? Se o ex colega de trabalho ainda vai assediar outra nova colega por aí?
Ontem foi dia 8, e daí? Se uma amiga vai ser alvo de comentários maldosos por causa da cor, corte ou textura do cabelo?
Ontem foi dia 8, e daí? Se o presidente do país faz um discurso exaltando as qualidades domésticas da primeira-dama como se isso a tornasse uma “mulher de família”?
Ontem foi dia 8, e daí? Se eu tenho que tomar cuidado com as denúncias contidas em cada frase para não piorar a situação de uma dessas mulheres que ainda vivem nisso?
Ontem foi dia 8, e eu recebi flores que vão murchar tão logo quanto os gifs de homenagem serão substituídos por frases sexistas na primeira caixa de comentários disponível.
Crédito da foto: Uol