A volta às aulas nas zonas rurais deve receber atenção especial dos educadores e da área de educação do governo.
Amanda Talita
No Brasil, das mais de 180 mil escolas existentes, 55 mil estão localizadas em zonas rurais, segundo dados do Censo Escolar de 2019. Com a suspensão das aulas em lugares como Porto Velho-RO devido a falta de transporte para a locomoção dos alunos, é certo que muitos têm tido dificuldade para aprender a distância.
Nas áreas rurais, os desafios têm sido cada vez maiores devido à baixa qualidade do sinal de internet para assistir às aulas, bem como à falta de recursos para garantir o acesso domiciliar. Como as casas são muito distantes umas das outras, e para muitas crianças não há outro tipo de transporte, o trajeto é realizado por um ônibus escolar disponibilizado pela unidade de ensino.
Com recursos próprios, a prefeitura de Porto Velho entregou, em 25 de fevereiro deste ano, sete vans e um caminhão para os 45 mil alunos da rede municipal de ensino, nas áreas urbana e rural. O investimento foi de aproximadamente 1,4 milhão de reais.
Porém, em abril, escolas rurais da rede municipal de Porto Velho adotaram as aulas remotas. A informação foi confirmada pela Secretaria Municipal de Porto Velho em um memorando. De acordo com a prefeitura de Porto Velho, a medida foi adotada como medida preventiva, devido a previsão de chuvas recorrentes nos próximos três meses.
Com estas condições meteorológicas, as estradas rurais estão intransitáveis, as pontes estão danificadas e as escolas são de difícil acesso, por isso existem riscos durante o transporte escolar rural.
Para Mônica Molina, professora e diretora do Centro Transdisciplinar Rural e de Desenvolvimento Rural da Universidade de Brasília, é importante garantir o que está previsto no artigo 206 da Constituição Federal. O Fórum Nacional de Educação do Campo realizou uma pesquisa e constatou que a maior taxa de acesso à internet nessas regiões é de 25%. “Isso significa que a maioria dos estados não tem internet e aqueles que possuem, têm acesso insuficiente porque as famílias só têm celulares de banda larga lenta”, disse Mônica em entrevista ao blog “Nova escola”
A diretora também alerta sobre a importância de políticas públicas que levem em conta as particularidades das escolas do campo. O parecer n°5/2020, do CNE, aprovado pelo MEC, orienta as redes de ensino sobre a reorganização do calendário. No entanto, o dossiê vetou o artigo que afirma que avaliações e exames não consideram atividades remotas como dias, mas apenas conteúdos efetivamente oferecidos aos alunos.
Além disso, Mônica reforça a importância de abranger todas as diversidades da educação no Brasil. “Nós precisamos entender que a educação não acontece apenas na escola. Há vastos espaços e tempos para os alunos aprenderem, envolvendo relacionamentos e o próprio trabalho de campo. Neste momento, pensamos mais em garantir a segurança das pessoas e menos em conteúdos”, finaliza.
Já para Denise Paim, orientadora do Colégio UNASP (Centro Universitário Adventista de São Paulo) localizado na zona rural de Engenheiro Coelho, a base de uma instituição com alunos interessados é de responsabilidade governamental e a direção do próprio colégio. “O papel da instituição é relevante e precisa atender às necessidades de cada aluno, respeitando a realidade de cada criança”, declara.
O espaço escolar permite ao aluno participar de processos e escolhas que contribuirão para seu futuro e seu desenvolvimento como cidadão. Através desse processo, as crianças começam a entender seu papel na sociedade e a ver maneiras de interagir e aprender com seus pares.
No entanto, para desenvolver uma socialização de qualidade, é necessário que tanto o governo quanto os profissionais relacionados à faixa etária estejam realmente preparados para trabalhar de forma responsável.
“É somente através da educação e instrução que a sociedade infantil pode crescer e se desenvolver. Estamos bem atentos, dispostos a ouvir e sabemos que as crianças são totalmente dependentes de cada um de nós. Nos importamos com a realidade de cada um e queremos atender a necessidade de todos por igual”, completa Denise.