A iniciativa dá chance de profissionalização e diminuição de pena, além de remuneração
Lia Costa
Muitas vezes, quando se pensa em presídio, a imagem que vem a mente é de um lugar frio, sombrio e cinza, cheio de ociosidade. No entanto uma parceria do Novo Conselho da Comunidade de São Gabriel do Oeste/MS (NCCSGO) juntamente com a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) trouxe o Ateliê D’Cela para as internas como oportunidade de recomeço.
A ideia surgiu há 3 anos quando Samatha Barione, juíza da primeira vara, chegou em São Gabriel e percebeu a necessidade de criação de vagas de trabalho dentro do estabelecimento penal. “Fiz um questionário e identifiquei que muitas tiveram contato com trabalho manual”, lembra. A próxima etapa foi otimizar o que tinham: espaço, talento e falta de dinheiro. Ela desenvolveu um trabalho manual diferenciado para ser absorvido pelo mercado. “O artesanato é complementação de renda e não fonte de sustento, ficamos preocupados porque isso podia coloca-las de volta no crime”, explica.
É um contrato de trabalho. Elas recebem dois terços de salário independentemente da produção ou venda. Com essa remuneração, as detentas podem ajudar a família e suprir suas necessidades pessoais. Os produtos custam de 10 a 50 reais, no máximo. Além disso, ainda tem a opção de pegar tudo no final quando saírem de lá. Foi criada uma Grife, pois o ateliê conta com etiqueta e slogan: “Costurando com dignidade à liberdade”.
Foi solicitado o empréstimo de máquinas ao município e também foi realizada uma parceria com comerciantes em troca de material e experiências para diminuir o máximo possível de custos. “Já existem trabalhos de artesanato com empresas que utilizam mão de obra carcerária, mas o viés de D’Cela é uma novidade”, enfatiza. A maior satisfação da juíza é a possibilidade de conseguir fazer com que as condenadas trabalhem e ingressem no mercado sem grandes investimentos.
A página do Facebook do Ateliê D’Cela exibe uma frase de Cora Coralina que diz: “Às vezes o coração, rasgado pela dor, vira retalho. Recomenda-se, nestes casos, costura-lo com uma linha chamada recomeço”. Foi assim com Tania*, mãe de três meninos que, antes de ser presa, era manicure. Ela tem 39 anos e é uma das internas que participa do Ateliê. Já fez lixinho de carro, bolsas, bonecas, entre outras peças. A detenta conta que antes do projeto abrir, fez um curso de corte e costura ali dentro mesmo. Isso deu oportunidade de desenvolver amizades, por isso nunca pensou em parar e pretende continuar quando for embora. “Em todos os sentidos que posso imaginar estou melhor”, declara.
No momento, o D’Cela ainda está em ordem crescente. Além de interesse, as que são mais cuidadosas com os detalhes também são mais aptas ao ateliê. De acordo com Albino Lima, diretor do presídio, as internas são constantemente sondadas e algumas são encaminhadas para serviços pelo conselho logo após saírem pois o esforço delas costuma ser reconhecido.
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