Valores da tabela de fretes mínimos da ANTT são questionados. O argumento é de que a tabela nunca foi praticada.
Sâmilla Oliveira
As distribuidoras de combustível passaram a pagar 8,87% a mais no diesel no dia 10 deste mês. Os caminhoneiros criticam a alta e alegam que a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) faz reajustes insuficientes na tabela de fretes mínimos e não acompanha o valor real dos custos do transporte.
Desde o começo do ano, a ANTT, órgão que regulamenta os transportes rodoviários, fez dois reajustes na tabela de fretes mínimos, que norteia os valores para as cargas. Os dois reajustes, um de janeiro e outro de março, somam 23% de aumento. Em contrapartida, o diesel já aumentou em 47% desde janeiro.
“Eu acho um absurdo. Aqui na Bahia custa R$7,20 o litro. Desse jeito a gente não tem como andar. Quem sofre somos nós aqui nas estradas. Se eu não desse preço no meu frete, não daria pra continuar”, afirma o caminhoneiro Rodnei Molina, de 38 anos. Ele diz que a tabela da ANTT nunca foi praticada de fato, já que os preços não se refletem no dia a dia. “No fim das contas ela só tira o nosso dinheiro”, declara.
O caminhoneiro Aurifredo Silva esclarece que quando o preço chega na bomba, o impacto é imediato. “Afeta tudo, os outros insumos, pneus, peças, tudo aumenta. A gente é afetado de imediato. Eles podem até colocar na portaria lá, mas na prática não é obedecido. Nós, os pequenos, os que operam mesmo o negócio, somos obrigados a pegar frete de menor valor. É muito difícil essa guerra”, finaliza.
Segundo dados do Banco Mundial, 58% do transporte no Brasil é feito por rodovias. A pesquisa admite que quando o custo do transporte aumenta, tudo no mercado segue o mesmo rumo.
“Existe uma pressão, de vários lados, em passar esse aumento de custos para o consumidor. Obviamente, ninguém quer o aumento de custos porque ele diminui vendas, que por sua vez diminui a margem de lucro”, afirma o economista Paulo Tomasovic, graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Para o economista, a solução não está em aumentar a tabela de fretes. “A solução é investir numa malha de transportes que seja mais eficiente que a malha rodoviária. Investir para que nas próximas décadas o Brasil tenha mais opções de logística. Não podemos ser dependentes de um único meio de transporte”, concluiu.