O smartphone pode ser um aliado na educação
Sabryna Ferreira
Em tempos de supervalorização do digital, a tecnologia tem mudado a forma de viver das pessoas. Reuniões importantes são feitas sem que as pessoas precisem se encontrar, e os aplicativos trazem cada vez mais comodidade, ao mesmo tempo em que deram um novo significado à prestação de serviços.
Como muitos aspectos da vida social foram impactados pela tecnologia, a educação não ficou de fora. Hoje em dia, é comum crianças e jovens terem um celular que os acompanha em todos os lugares, inclusive na sala de aula. Em vez de declarar guerra ao aparelho, alguns educadores decidiram fazer do mesmo um aliado.
Segundo a especialista em T.I. e analista comportamental Renata Lopes é necessário que os professores reaprendam a dar aula e a manejar as novas tecnologias que surgem a cada momento. Quanto mais dinâmica e interatividade, maiores são as chances de os alunos se sentirem parte da construção do conhecimento apresentado. “Os alunos hoje não querem mais simplesmente imaginar um fenômeno, mas vivenciá-lo, e com a tecnologia é possível ter uma aula completamente interativa, onde imagens e situações podem ser retratadas em 3D”, pontua.
O celular tornou-se o aparelho que resume muitos outros em um só, na palma da mão. Sendo assim, Renata recomenda que os professores propiciem aos alunos a oportunidade de aprenderem a usar a internet de forma saudável e mudarem a sua forma de estudar e aprender.
“Os professores precisam entender como as novas relações são estabelecidas pelas redes sociais e, então, explorá-las a favor do engajamento dos alunos”, incentiva. A analista observa que educação ficou mais fácil de ser adquirida, porém, não mais fácil de ser absorvida, já que muitas aulas são ministradas em forma de vídeos gravados por professor. “Continuam passando um conteúdo sem graça. É preciso entender que o aluno deve se envolver, juntar elementos, experimentar, errar e acertar em um processo de construção prático do conhecimento”, critica.
Muitos educadores ainda têm certa resistência à informatização do processo educacional. Renata sugere que isso se deve à falta preparo, estudo e investimento das instituições na adoção das tecnologias. “Por mais boa vontade que os professores possuam para adotar a tecnologia, sem um trabalho conjunto não haverá efeito. Antes de aplicar aos alunos, os professores estão carentes de treinamento”, completa.
O sistema de ensino Poliedro, por exemplo, é uma instituição que, há seis anos, aderiu às metodologias de ensino tecnológicas. Massayuki Yamamoto, representando a instituição, explica que o sistema é baseado num ambiente virtual chamado P+, onde todos os conteúdos estão interligados e indexados, seja pelo aplicativo no celular ou pelo computador. “A lousa e o caderno do aluno estão num ambiente digital e compartilhados em tempo real, ou seja, a aula dada pelos nossos professores já está disponibilizada para cada aluno”, explica Yamamoto. Por esse sistema, os professores também têm acesso aos cadernos dos alunos a qualquer momento. Assim, eles podem verificar tarefas, atividades em sala de aula ou corrigir tarefas no celular.
Esse novo modelo de ensino traz implicações não só para os alunos e para o processo de aprendizado mas, principalmente, para os professores e para a forma de elaboração do conteúdo didático. Yamamoto ressalta que essa “nova” forma de pensar a aula possibilitou ao professor um melhor planejamento das aulas. Assim, é possível ter mais tempo para administrar e controlar o conteúdo programático, trazendo transparência dentro do ambiente escolar, pois agora os pais, coordenadores e alunos tem acesso a tudo que é ministrado em sala de aula. “Os professores reagiram de forma muito positiva, tanto que temos hoje 100% de adesão ao sistema. Para eles, a percepção é que o processo de aula, apesar de exigir o planejamento prévio, ficou muito mais fácil de administrar. Ele pode retomar um conteúdo anterior, resgatar toda uma linha de raciocínio em segundos, algo inconcebível no meio ‘analógico’”, garante.
A exemplo do Sistema Poliedro, o nosso uso de tecnologia deve dialogar com o projeto pedagógico, ou seja, as soluções precisam estar alinhadas e discutidas com coordenação e professores. “Nos baseamos no conceito da tecnologia como ferramenta, apenas um meio para dar direcionamento ao aluno dos conteúdos ministrados”, reconhece. Yamamoto acredita que essa imersão tecnológica só se torna um problema quando não há planejamento e acontece para fins de marketing. “Se pensarmos em uma necessidade de mercado e não uma necessidade pedagógica, com certeza o uso de ferramentas tecnológicas trará poucos benefícios, até mesmo efeitos negativos, pois a ferramenta por si só não substitui uma boa aula”, ressalta.
Em 2013, a Unesco publicou um guia de recomendação sobre o uso de celulares como ferramenta pedagógica a ser adotada por governos:
– Criar ou atualizar políticas ligadas ao aprendizado móvel
– Conscientizar sobre sua importância
– Expandir e melhorar opções de conexão
– Ter acesso igualitário
– Garantir equidade de gênero
– Criar e otimizar conteúdo educacional
– Treinar professores
– Capacitar educadores usando tecnologias móveis
– Promover o uso seguro, saudável e responsável de tecnologias móveis
– Usar tecnologia para melhorar a comunicação e a gestão educacional
*Foto: https://goo.gl/pTRPiW