Mídias sociais, pandemia e pressão social são os principais fatores para a decorrência do quadro.
Lana Bianchessi
Cerca de 4,7% dos brasileiros sofre de algum transtorno alimentar, no entanto, na adolescência esse número chega a 10%, segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde). Esse número se explica principalmente pela influência das redes sociais, constante pressão social familiar e situações de ansiedade causadas pela pandemia.
A adolescente de 18 anos que preferiu não se identificar, foi diagnosticada com anorexia aos 12 e explica sobre sua experiência. “Por ser uma fase de muitas mudanças, e também por sermos influenciados facilmente, principalmente por coisas que a gente vê na televisão ou redes sociais. Nós, adolescentes, caímos na ideia de ter uma vida ideal e perfeita, que muitas vezes gira em torno de ter o corpo ideal”, expõe.
Transtornos alimentares são comportamentos alimentares irregulares, preocupação com o peso ou a forma do corpo e sofrimento grave que afeta negativamente a saúde. De acordo com a professora Magda Ramos e o psicólogo Breno Sanvicente-Vieira, os principais transtornos são:
A professora do curso de Nutrição na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Magda Ramos, explica que as principais causas desse aumento se resumem no:
A estudante fala um pouco sobre o papel da mídia social em seu caso. “Com 12 anos foi a idade em que eu comecei a ter redes sociais e acompanhava com frequência blogueiras que passavam a imagem de ter a vida ‘perfeita’ e o ‘corpo perfeito’. Também foi uma época que eu comecei a assistir desfiles de moda e ver que só mulheres magras eram consideradas bonitas e desejáveis”, conta.
O doutor em psicologia, professor da PUC-Rio e coordenador do Laboratório de Pesquisa em Diferenças Individuais e Psicopatologia (LaDIP), Breno Sanvicente-Vieira comenta que o ambiente familiar, em geral, tem maior importância para essas condições do que a mídia. “Nós sabemos que os modelos de beleza e aceitação são principalmente impostos pela cultura que nós nos encontramos e grande parte disso acaba sendo repercutido através de canais de comunicação”, explica.
Com o acesso ao Instagram, é visto corpos expostos o tempo todo e demonstrando felicidade, isso cria supostos estereótipos do que o jovem precisa. Eles instintivamente associam características físicas com o sucesso e a alegria das outras pessoas. “Os jovens têm um fator de aprendizagem social muito forte, a mídia acaba sendo o canal de multiplicação e transmissão, não tanto de imposição de padrões”, acrescenta Breno.
A nutricionista oferece algumas dicas para que as pessoas possam identificar os sintomas. “Observar se há perda de peso, obsessão por modelos e padrões corporais, desejo de seguir uma dieta e procura de receitas de comida. É importante observar se a pessoa come na frente da família ou se vai ao banheiro logo depois”, explica.
Já a estudante conta que desconfiou que tinha desenvolvido o transtorno alimentar a partir do momento que notou estar obcecada por contar as calorias de tudo que comia. “Notei quando coloquei na minha cabeça que eu não podia comer carboidratos de nenhum tipo, não podia beber refrigerante e cortei todo tipo de guloseima do meu dia-a-dia”, relata.
“Na anorexia, o adolescente para de comer porque ele coloca um valor muito grande na comida e no que ela pode se transformar em seu corpo. Não é saudável ter um relacionamento dessa forma com a comida”, alerta o psicólogo.
A nutricionista explica que o transtorno alimentar exige o tratamento correto para cada tipo de condição e ter um acompanhamento por uma equipe especializada no assunto. É importante estar alerta, o transtorno é uma doença psicológica que sempre tem chance de haver uma recaída e reiniciar seu ciclo de novo.