Um em cada quatro municípios que realizaram testes encontraram produtos acima do limite permitido.
Helena Cardoso
Uma pesquisa realizada pelo portal Repórter Brasil mostrou que a água de 763 cidades esteve contaminada com elementos químicos entre 2018 e 2020. Os testes foram realizados em água já tratada e abrangem regiões como São Paulo, Guarulhos e Florianópolis. Esses dados chegaram através de informações enviadas ao Sisagua (Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano) por empresas de distribuição de água.
Quando a quantidade dessas substâncias está dentro dos padrões permitidos pelos órgãos de saúde, a água é considerada potável e própria para consumo. Entretanto, quando acima do limite, os produtos químicos podem causar muitos danos a quem os ingere. O médico gastroenterologista Gabriel Nogueira alerta para os perigos de consumir essa água contaminada: “a pessoa que entra em contato com esses elementos vai desenvolver várias patologias e sintomas diferenciados, desde febres e diarréias agudas até problemas no sistema nervoso central.”
Rebecca Lima é moradora de São Paulo, cidade que encontrou três tipos de substâncias nos três anos analisados. Ela conta que seu sentimento ao descobrir os resultados da pesquisa do Repórter Brasil foi de abandono. Para Rebecca, o problema em sua cidade é mais complexo do que parece. Ela conta que em lugares mais periféricos, onde mora e estuda, é fácil perceber seus efeitos. “Essa semana mesmo, aqui em minha região, já recebemos o aviso de um surto de GECA [inflamação gastrointestinal] por conta disso”, relata.
Luísa Morato também mora na capital paulista e compartilha o mesmo sentimento de Rebecca. Ela, que sempre apresentou intranquilidade em relação à água da cidade, agora se encontra mais preocupada. Luísa diz que “infelizmente, não posso fazer nada a respeito e preciso continuar utilizando-a”, e Rebecca afirma que “não temos para onde correr”. Ambas expressam sua indignação frente aos dados da pesquisa. “É revoltante como eles não ligam para a saúde e bem-estar da população e como não podemos confiar em nada, nem na água que estamos utilizando”, desabafa Luísa.
Para o médico Gabriel Nogueira, a água da maior parte do Brasil não é própria para consumo, já que “ultrapassa muito o limite de substâncias prejudiciais”. Por isso, “milhões de pessoas, principalmente crianças, morrem todo ano por conta das patologias que a água mal tratada pode ocasionar”, explica. O saneamento feito de forma eficiente contribui para evitar problemas à população, além de economizar dinheiro público antes destinado ao tratamento dessas doenças.