Na semana do dia 4 de outubro, a CPI assiste aos últimos depoimentos e o presidente da Comissão prevê leitura do relatório final para este mês.
Melissa Maciel
O senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI da pandemia, afirmou no último dia 30 uma previsão para a leitura do relatório final: dia 19 de outubro, uma terça-feira. A Comissão, desde sua instalação em 27 de abril de 2021 por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), já presenciou uma série de confusões e desavenças.
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), instrumento utilizado por membros do Legislativo para avaliar algum fato de suma relevância à vida legal do país, diante do cenário pandêmico investiga possíveis fraudes e omissões do governo federal na gestão da crise sanitária.
O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, prestou seu depoimento no dia 4 de maio. Seus principais apontamentos foram a postura negacionista do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e sua tomada de decisão desvinculada das orientações do Ministério da Saúde e da própria ciência, mesmo com o alerta de que muitas vidas estariam em risco.
Mandetta criticou a preferência do presidente em incentivar o uso de medicamentos sem eficácia ao invés de promover uma conscientização sobre as medidas de restrição defendidas pelos profissionais da saúde.
Além disso, revelou que Bolsonaro intencionava modificar a bula da cloroquina para usá-la no tratamento da Covid-19, mesmo que o medicamento não tivesse eficácia comprovada. Essa informação foi confirmada, posteriormente, pelo presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres.
“Hoje, 410 mil vidas me separam do presidente”, disse o ex-ministro em referência às mais de 400 mortes pela Covid até então.
O ex-presidente da Pfizer no Brasil, Carlos Murillo, expôs que o Governo Federal não respondeu a três ofertas de 70 milhões de doses do imunizante feitas em agosto de 2020.
Segundo Murillo, não houve atrasos no cronograma de entrega da empresa até a data em questão, portanto, se as ofertas tivessem sido aceitas, as doses poderiam estar no Brasil desde dezembro de 2020 e a vacinação já seria iniciada com um pedido de aprovação da Anvisa para aplicação emergencial.
O administrador explica também que durante a negociação com o ministério da Saúde, eram colocados entraves relacionados à questão logística. No entanto, quando a companhia propunha soluções, o governo brasileiro apresentava novos obstáculos burocráticos alegando a necessidade de aprovação prévia da Anvisa.
Em seu depoimento, o ex-ministro da saúde, Eduardo Pazuello, fez o possível para desvincular o presidente Jair Bolsonaro de qualquer acusação relacionada a decisões sobre a pandemia tomadas no ministério da Saúde.
Sobre o caso Manaus, Pazuello afirmou que só tomou conhecimento sobre a probabilidade de colapso no abastecimento de oxigênio no dia 10 de janeiro, entretanto, evidências trazidas por parlamentares contradisseram tal afirmação.
Uma comitiva do Ministério da Saúde já havia sido enviada a Manaus no dia 3 de janeiro para avaliar as condições de atendimento do município. Inclusive, um documento do Ministério da Saúde sancionado em 4 de janeiro, com o nome de Pazuello, revela que “há possibilidade iminente de colapso do sistema de saúde, em 10 dias”.
Em sua avaliação, o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), declarou que Pazuello “mentiu muito” em seu depoimento.
A sessão da CPI do dia 30/09 começou conturbada. O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) fez um discurso contestando a publicação de uma frase homofóbica nas redes sociais do depoente da sessão, o empresário bolsonarista Otávio Fakhoury.
A mensagem publicada por Fakhoury ironizava um erro ortográfico cometido pelo senador ao se referir ao depoimento do ex-ministro Fabio Wajngarten. Contarato afirmou que no depoimento evidenciou-se “estado fragrancial.”
Diante disso o empresário escreveu: “O delegado, homossexual assumido, talvez estivesse pensando no perfume de alguma pessoa ali daquele plenário… Quem seria o ‘perfumado’ que lhe cativou?”, declara.
Com isso, o senador Contarato, em discurso com a voz instável, apresentou declarações em defesa de sua orientação e reflexões a respeito da conduta moral de Fakhoury: “A sua família não é melhor que a minha”, e ainda, “Eu sonho com o dia em que eu não vou ser julgado por minha orientação sexual”, expõe.
Ao fim da explanação Otávio Fakhoury se pronunciou em um pedido de desculpas ao senador e disse que o comentário foi “infeliz”.