Pesquisas revelam que as duas doenças estão acontecendo ao mesmo tempo, o que pode sobrecarregar o sistema de saúde brasileiro.
Melissa Maciel
Dados do último boletim epidemiológico do Governo Federal indicam crescimento significativo da contaminação por dengue em diversas regiões do país. O número de janeiro deste ano é aproximadamente 50% superior ao mesmo período do ano passado.
Alguns estados se encontram em situação de alerta, entre eles São Paulo. De acordo com dados do Info dengue, sistema de monitoramento organizado pela Fiocruz em parceria com a FGV (Fundação Getúlio Vargas), no mês de janeiro o estado registrou quase 12.000 casos de dengue e 10 cidades estavam em situação de epidemia para a doença.
De acordo com a médica infectologista Christianne Takeda, infectologista do Hospital São José, no estado do Ceará, a dengue e a Covid-19 apresentam sintomas muito parecidos no início de sua manifestação, o que pode gerar confusão quanto ao diagnóstico. Entre os sinais coincidentes estão febre, dor de cabeça, dores no corpo e nas juntas, cansaço e mal-estar.
A médica acrescenta que no período do ano de março a junho, quando o clima fica mais úmido devido à elevação do regime de chuvas, há um pico nos casos de dengue. Mas, além disso, há a manifestação de infecções por Zika Vírus e Chikungunya, que também apresentam sintomas semelhantes à dengue e à Covid.
Takeda ressalta a importância da procura de assistência médica mediante a manifestação dos sintomas, porque a dengue continua sendo um grande problema de saúde pública no Brasil. “A dengue é uma doença que pode evoluir com gravidade, resultando em morte, e o manejo para as pessoas que têm o quadro grave muitas vezes exige cuidado assistido em hospitais” explica Christianne. Além disso, qualquer pessoa de qualquer idade pode atingir o estágio grave da doença.
Ela destaca ainda que é preciso estar atento aos sinais de alerta, que incluem vômitos persistentes, sangramento de mucosas, dificuldade de respirar, agitação e irritabilidade, queda de pressão, entre outros.
A também especialista em infectologia, Letícia Fiorio Baptista, declara considerar o acúmulo de epidemias uma situação preocupante, pois torna o cenário nacional ainda mais complexo. Ela explica que a simultaneidade das epidemias “pode impactar ainda mais o sistema de saúde brasileiro, já que a tendência é que subam os números de atendimentos e internações por quadros graves, sobrecarregando os recursos do sistema de saúde pública.”
Ela expõe que “com a coincidência dos agravos, os serviços que já apresentavam deficiências no atendimento de outras doenças, precisam se adaptar para ampliar sua estrutura física, adquirir equipamentos e insumos, preparar os profissionais e aumentar a capacidade de testagem.”
Tal cenário gera preocupação, pois o tratamento da Covid-19 ainda exige elevada demanda de leitos de terapia intensiva em diversas regiões do país e o esgotamento destes já é uma realidade enfrentada pelas equipes médicas.
Neste mês de janeiro, a Vigilância Ambiental em Saúde realizou, no estado de São Paulo, a atividade de Avaliação de Densidade Larvária (ADL), que mede a taxa de infestação do mosquito Aedes aegypti em sua fase larval. A atividade apontou que 5,4% dos locais avaliados apresentaram larvas do mosquito. De acordo com a classificação do Ministério da Saúde, este índice representa risco de transmissão.
Segundo a prefeitura de Artur Nogueira, no interior de São Paulo, quando há confirmação ou suspeita de casos, estes são encaminhados para a Vigilância Sanitária (VISA) que, por sua vez, os encaminha para os agentes controladores de vetor.
Quando há efetiva contaminação, agentes vão até às casas dos moradores, onde é feito o trabalho de orientação, incluindo distribuição de cartilhas informativas, que também são disponibilizadas nos Postos de Saúde Familiar (PSFs) e nas escolas. A cartilha é a mesma disponibilizada pelo Ministério da Saúde.
As autoridades orientam que a pessoa infectada procure o PSF mais próximo de sua casa, pois lá é feita a avaliação, coleta de sangue e o encaminhamento para o devido tratamento médico.
”Vale destacar que os casos de Covid são tratados em uma tenda instalada no Hospital Municipal, já os casos de dengue, em todos os 12 postos de saúde da cidade, bem como no pronto-socorro do Hospital Municipal. Dessa forma, não há limitação no tratamento”, concluem.