Falta de chuva provocou grande redução na capacidade dos reservatórios de água do país, causando risco de apagões.
Melissa Oliveira
A escassez de chuvas evidenciada no decorrer do ano de 2021 tem provocado uma baixa no nível dos reservatórios das hidrelétricas, principalmente no sudeste e centro-oeste do país. De acordo com dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), tais reservatórios operam com apenas 22,7% da capacidade de armazenamento. Além de provocar um efeito cascata na economia, a crise hídrica revela, também, a má gestão dos recursos hídricos brasileiros.
No Brasil, há falta de controle sobre problemas ambientais como desmatamento, poluição e queimadas. Além do descaso com a educação para um consumo responsável de água e o aumento do consumo hídrico na agricultura, a indústria e a gradual retomada do ritmo econômico anterior à pandemia, expõem uma demanda por recursos hídricos que o país mostra não ter condições de suprir.
A gestão negligente é percebida através da infraestrutura de abastecimento precária. Diante disso, o mestre em Geografia Thiago César Sant’Ana, afirma: “O principal gargalo do sistema de distribuição de água no país é justamente a falta de investimento na modernização do setor, bem como a falta do uso de materiais adequados para atender demandas”.
No ano de 2020 foi aprovado o novo Marco Legal do Saneamento Básico, com ambiciosas metas para a recuperação da economia no pós crise sanitária e para a universalização do acesso ao serviço de maneira sustentável. O que se vê um ano depois, no entanto, não cumpre com as expectativas estabelecidas no documento.
“Há décadas a discussão sobre o Marco Legal do Saneamento se arrastou pelas esferas administrativas, enquanto isso, o investimento privilegiou grandes centros urbanos em regiões mais desenvolvidas do país, gerando uma grande desigualdade na oferta de um serviço eficiente”, esclarece Thiago.
Os impactos da crise hídrica reverberam em diversos setores da sociedade. Compromete o fornecimento de energia elétrica, diminui a oferta de água para a população, mas também para o agronegócio, o que reduz a oferta de alimentos, provocando alta da inflação e impactando diretamente o bolso do brasileiro. Diante de tal cenário, o Estado busca por medidas de emergência, entre elas um possível racionamento, que desestabilizaria a economia do país.
Sobre isso, o profissional de Relações Internacionais e consultor financeiro Philippe Bercovitch explica: “tudo se torna mais caro quando falta água e energia, seja por escassez da oferta, encarecimento da produção, e, num cenário de alta de quase 10% da inflação nos últimos 12 meses e desvalorização do real perante o dólar, o brasileiro continua perdendo poder de compra”.
A partir disso, evidencia-se uma desaceleração do crescimento da economia brasileira, ou seja, “o PIB vai sofrer, pois verá os efeitos da maior crise hídrica que vivemos em quase 100 anos”, expõe Bercovitch.
Dessa forma, a desestabilização do PIB poderá ser observada ainda por algum tempo. Sobre isso, o CEO do fundo de investimentos DSX FIDC, Gilberto Danieli, explicita que “com o aumento da inflação o poder de compra diminui, consequentemente, o crescimento da economia é reduzido”, e ressalta que “para 2022 a previsão é de um crescimento menor e nos próximos anos, também se vislumbra um crescimento muito irrisório”.