Com a intenção de aproximar as mães dos seus filhos, o tema tem provocado discussões e discordâncias na internet.
Mariana Santos
Existe um ditado muito conhecido que diz que “um fruto não cai muito longe do pé”, mas será que não cai mesmo? Na maternidade esse assunto pode ser um ponto muito sensível e cheio de controvérsias, principalmente quando se trata da educação dos filhos.
Considerando as diferenças entre as gerações, pode ser difícil imaginar que a forma como as mães criavam os seus filhos tenha mantido as mesmas estratégias até os dias de hoje, mas muitas vezes essa é a verdade. De uma maneira ou de outra, o “cantinho do castigo”, palavras duras e até palmadas permanecem bastante populares nas casas brasileiras. Mas será que os pais conhecem formas de educar seus filhos sem o uso de violência?
A jornalista e escritora Fabiana Bertotti conta que foi criada em um ambiente em que a noção de disciplina, de esforço e de punição sempre esteve muito presente. “Eu tive uma educação bastante conservadora (…) só que algumas coisas dos meus pais eram muito diferentes de outros pais da mesma região. Uma delas era o conceito de auto responsabilidade”, aponta.
Fabiana é mãe de Theodoro, de cinco anos, Valentina e Catarina, que são gêmeas com pouco mais de dois anos, e percebe na educação dos seus filhos um pouco da noção herdada dos pais. “Meus filhos tem muita noção de responsabilidade, de hierarquia e de auto responsabilidade (…) por outro lado, eu não acredito na violência física como um recurso funcional e eficiente de disciplina e de aprendizado”, explica.
Por mais que a educação não violenta seja um tema bastante discutido, é na internet que Fabiana percebe a dificuldade dos pais em lidar de forma positiva com a educação dos filhos. Por trabalhar com redes sociais, ela explica que quando toca no assunto “existe muita resistência e muita agressividade”.
De acordo com a professora Paula Carvalho, que é idealizadora do projeto Educação Positiva na Prática e especialista em Educação Positiva, muitos pais agem com violência devido às expectativas irreais que eles mesmos criam. “Eu percebi que o pessoal estava colocando nas crianças as expectativas de um olhar adulto, mas não dá para esperar do outro o que ele ainda não tem para oferecer”, argumenta a professora.
Paula explica também por que decidiu estudar mais os métodos positivos de educação. “Eu percebia que os alunos traziam de dentro de casa o medo errar, o medo de falar em público, o medo de toda hora ser controlado, então eu falei ‘espera aí, tem alguma coisa errada’”, relembra.
Para exemplificar o papel do professor na educação positiva, Paula conta uma experiência que viveu em sala de aula: ela decidiu fazer combinados com os alunos e ao perguntar se os alunos tinham sugestões, uma aluninha propôs: “respeitar o professor”. Paula sugeriu então que o combinado fosse “respeitar a todos”, afinal o respeito deveria ser mútuo.
O problema da falta de respeito e empatia com os mais jovens é visível em situações do cotidiano. “Quando você vê um adulto chorando, você se preocupa, você consola e tenta ajudar. Então por que quando uma criança chora já começamos a reclamar e ameaçar colocar de castigo?”, questiona Paula.
Em casa, Fabiana e seu marido Rodrigo Bertotti têm se esforçado para colocar em prática os métodos ideais de educação não violenta e para ela os resultados são satisfatórios. “Quando eu vejo meu filho correndo para mim, ao invés de correr de mim quando ele faz alguma coisa que ele percebe que foi errada, eu vejo um grande sucesso”, explica a mãe.
Theodoro, o filho mais velho da escritora, ainda é muito novo, mas é através das percepções dele como criança que os pais percebem a importância da educação positiva.
“Uma vez eu lembro que o Bertotti pegou o cinto e estávamos nós três na cama assim brincando. Então ele pegou o cinto, dobrou e mostrou: ‘O que é isso Teodoro?’ Ele fez uma cara de bravo e o Teodoro na maior inocência do mundo falou assim: ‘é de botar na cintura, de botar na barriga’. A gente começou a rir e eu fiquei muito emocionada porque para o meu filho isso não remete a uma sensação de medo, não remete a uma violência, porque ele não sabe que existem pais que usam aquele mesmo instrumento para machucar os seus filhos”, comenta.
Tanto no perfil pessoal de Fabiana quanto no perfil profissional do Instagram de Paula, pode-se observar um interesse crescente a respeito de novas abordagens na forma de educar. No caso da escritora, sempre que é tocado no assunto, diversos seguidores que foram educados de forma pouco ou nada sensível fazem comentários pedindo dicas para “cortar o ciclo de violência”, demonstrando pelo menos a tentativa de fazer “o fruto cair longe do pé”.