Após ser tema de discussões e denúncias, Enem ocorre normalmente nas datas previstas.
Lucas Pazzaglini
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) teve sua primeira fase no domingo, dia 21. A prova abordou temas como população indígena, desigualdade de gênero e minorias. O teste aconteceu após críticas feitas pelo presidente da república, Jair Bolsonaro, com relação ao conteúdo exposto no exame.
Denúncias feitas por um grupo de servidores do Inep, órgão responsável pela realização da prova, ao programa “Fantástico” da Rede Globo de Televisão, revelaram a preocupação com uma possível interferência do Poder Executivo, além de apresentar queixas com relação à censura na preparação da prova. As polêmicas com relação a esta edição do Enem foram alimentadas pela fala do atual presidente ao dizer que “o Enem começa a ter a cara do governo”.
Em resposta às acusações, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, assegurou que o Enem “tem a cara do governo, sim, no sentido de competência, honestidade e seriedade”. Bolsonaro ainda afirmou que não teve acesso a nenhuma das questões da prova.
Apesar das discussões, o professor de história Guilherme Freitas em entrevista à Folha de São Paulo, se mostrou surpreso com relação ao conteúdo cobrado: “a prova voltou a trazer questões que abordam a história contemporânea brasileira. Ainda que a ditadura militar não tenha sido abordada, outros períodos importantes apareceram”
Um exemplo que fascinou o professor foi a questão com a música “Admirável Mundo Novo” que pedia ao candidato a interpretação da letra da música e a partir disso a relação do trecho com a exclusão vivida pela população.
O tema da redação deste ano “Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no brasil” foi encarado com um dos mais difíceis dos últimos anos pelo professor de redação, Bruno Santos.
O professor apontou que a dificuldade, além do tema em si, surge do fato de que pouco se discute sobre o assunto em sala de aula. “Como há outras demandas mais visíveis, como a violência, desmatamento, preconceito, entre outros, essa temática é colocada em segundo plano, se é que ela vem a ser abordada em algum momento”.
A redação deste ano se tornou extremamente relevante ao abordar a questão do registro civil. Para Bruno existem várias questões que podem ser tratadas dentro desse contexto, como a crescente demanda de pessoas transgênero por reconhecimento.
“Em linhas gerais, o tema trata do acesso a um direito básico, que é o próprio registro civil, bem como uma questão identitária. Uma pessoa que luta pelo registro do seu nome grita, em última instância, pelo reconhecimento de que é alguém que existe e merece os direitos que a constituição lhe garante enquanto cidadão”, ressaltou o professor.
A edição deste ano teve o menor número de inscrições desde 2005. Segundo a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) um dos motivos para a baixa adesão teria sido a retirada da isenção da taxa de inscrição para aqueles que receberam o benefício na prova passada mas se ausentaram sem justificativas.
O número de pretos, pardos e indígenas participantes sofreu uma redução acentuada. Enquanto na edição passada 2,7 milhões de estudantes pardos realizaram a prova, dados levantados pelo Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp) mostraram que, neste ano, apenas 1,3 milhão de alunos se inscreveram, o que representa uma redução de 51,7%.
Pretos e indígenas tiveram o percentual de redução também acima de 50%, preocupando especialistas com relação à inclusão no ensino superior. Para o G1 a Semesp disse que “a queda representa um retrocesso em relação à inclusão e à diversidade de alunos na educação superior, já que o Enem é a maior porta de entrada para a universidade pública no país.”
O presidente do Inep, Danilo Dupas, afirmou que houve abstenção de 26% dos inscritos no exame. O número representa uma baixa em relação ao ano de 2020, quando o índice de faltantes foi de 51,5%.