A dieta foi reconhecida pela UNESCO como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.
Príscilla Melo
Um novo estudo com a participação da Harvard School of Public Health mostrou que o conjunto de atividade física moderada, apoio profissional para perda de peso e a aderência da dieta mediterrânea, combinada com ingestão calórica reduzida, pode diminuir o risco de diabetes tipo 2 em até 31%.
Pesquisadores dividiram 4.746 participantes em dois grupos, um de intervenção e um de controle, e acompanharam seu desenvolvimento por seis anos consecutivos. Os participantes tinham entre 55 e 75 anos, estavam com síndrome metabólica, sobrepeso e obesidade, mas não apresentavam diabetes tipo 2.
O grupo de intervenção aderiu a dieta mediterrânea, recebeu acompanhamento profissional, para manter o controle da perda de peso, diminuiu o consumo de calorias em cerca de 600 por dia e praticou atividades físicas moderadas, como caminhada e exercícios de força e equilíbrio. No entanto, o grupo de controle aderiu a dieta mediterrânea sem acompanhamento profissional, sem diminuir o consumo de calorias e sem praticar exercícios físicos.
Após o fim do período, foi apurado que os integrantes do grupo de intervenção em comparação com o grupo de controle, apresentaram um risco 31% menor para diabetes tipo 2. Além de perder cerca de 3,3 kg e 3,6 centímetros de cintura, em comparação com o grupo de controle que perdeu 0,6 kg e 0,3 centímetros de circunferência da cintura.
O doutor Frank Hu, Professor Fredrick J. Stare de Nutrição e Epidemiologia, chefe do Departamento de Nutrição na Harvard TH Chan School of Public Health e coautor da pesquisa, afirma que estamos enfrentando uma epidemia global de diabetes. “Com evidências do mais alto nível, nosso estudo mostra que mudanças modestas e sustentadas na dieta e no estilo de vida podem prevenir milhões de casos desta doença em todo o mundo”, aponta.
A dieta mediterrânea consiste em um padrão alimentar inspirado nos hábitos tradicionais de países banhados pelo Mar Mediterrâneo, como Grécia, Itália e Espanha. É composta pela abundância de frutas, verduras, legumes, grãos integrais, feijões, oleaginosas, como nozes, castanhas e amêndoas. Em algumas versões incluem peixe, laticínios e até vinho em pequena quantidade.
A nutricionista Liliane Neto, relata que existem fortes evidências de que os benefícios dessa dieta estão principalmente associados à ênfase em alimentos vegetais e ao uso do azeite de oliva. ‘‘Mais do que uma ‘dieta’, é um estilo de vida que valoriza alimentos frescos, minimamente processados e consumidos de forma equilibrada, muitas vezes associados a momentos de convívio social e cultural’’, destaca.
Esse padrão alimentar foi descrito pela primeira vez nos anos 1950 e 1960 pelo pesquisador Ancel Keys, no famoso Estudo dos Sete Países, que comparou padrões alimentares e saúde cardiovascular. Nos quais ‘‘populações mediterrâneas apresentavam menor incidência de doenças cardíacas e maior longevidade’’ em comparação a países ocidentais.
‘‘Embora cada cultura tenha seus próprios hábitos alimentares, fica claro que adotar um estilo de vida mais natural, centrado em alimentos vegetais e minimamente processados, traz grandes benefícios para a prevenção de doenças crônicas’’, enfatiza Liliane Neto.
Desde então, centenas de estudos têm confirmado seus benefícios, o que levou a dieta mediterrânea a ser reconhecida pela UNESCO em 2013 como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, enfatizando os valores da hospitalidade, da vizinhança, do diálogo intercultural, da criatividade, e um modo de vida pautado pelo respeito pela diversidade. Diversas organizações de saúde também ressaltam a dieta como uma das formas de alimentação mais saudáveis do mundo.
O médico endocrinologista André Gonçalves, esclarece que as principais doenças endócrinas são aquelas relacionadas à síndrome metabólica. ‘‘No Brasil há uma prevalência de obesidade e de doenças relacionadas como, hipertensão arterial, diabetes, dislipidemia que são os problemas de colesterol e de outras doenças como ovário policístico, esteatose hepática, que é infiltração de gordura no fígado’’, explica.
A diabetes é uma doença relacionada ao ganho de peso, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS, 2020) existe um predomínio de sobrepeso e obesidade que atinge mais da metade da população no Brasil.
O doutor André Gonçalves alerta que o paciente que está acima do peso corre o risco de desenvolver condições como essas, portanto, é recomendado que procure um endocrinologista. ‘‘Com uma mudança de estilo de vida e com a adoção de hábitos saudáveis, doenças relacionadas ao excesso de peso podem ser evitadas’’, afirma.
Essas doenças e o ganho de peso estão relacionados ao grande consumo de alimentos ultraprocessados. Esses produtos têm uma ampla aceitação da população, pela sua fácil disponibilidade e preço acessível. O médico relata que quanto mais ultraprocessado o alimento é, maior o teor de gorduras, sal e açúcares, o que gera o aumento da incidência desses problemas.
Dessa forma, a dieta mediterrânea é uma alternativa saudável, por ser baseada em alimentos de origem natural e sem muita industrialização. ‘‘É uma dieta muito equilibrada do ponto de vista nutricional, rica não somente em termos proteicos, carboidratos e gorduras saudáveis, mas também em vitaminas e minerais. É bastante equilibrada e favorece a promoção da saúde’’, enfatiza.
A nutricionista esportiva Leticia Anselmo aponta que a dieta do mediterrâneo ‘‘é a mais fácil’’ de se aplicar na rotina.
Além da alimentação, a profissional expõe que existem outros fatores primordiais, os quais contribuem na prevenção de doenças. Além da base alimentar, explica que é muito importante seguir uma rotina de sono, prática de exercícios físicos e hidratação de no mínimo 2 litros de água por dia. Segundo ela, ‘‘não é apenas uma simples dieta, é um estilo de vida, por isso é tão eficaz’’.