Diversos motivos levaram os alunos a abandonar o Ensino Superior nos últimos anos.
Camilly Inacio
A taxa de evasão de alunos do Ensino Superior privado bateu recordes históricos e ultrapassou os 37% em 2020. Existem diversos motivos para a desistência dos alunos, porém, grande parte deles elege as dificuldades financeiras como uma das principais razões.
Segundo o Mapa do Ensino Superior, publicado pelo Instituto Semesp, o valor médio de mensalidade das instituições privadas do Brasil é de R$ 1.556,00. Mais de 15 cursos listados possuem o valor da mensalidade maior que o atual salário mínimo do brasileiro que é de R$ 1.212,00.
No entanto, os dados mostram que mais de 50% das residências que possuem ao menos uma das pessoas cursando o Ensino Superior, pertencem às classes D ou E, vivendo com uma média de 1 salário mínimo ou menos.
Uma pesquisa realizada pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostrou que o valor ideal apresentado de um salário mínimo para uma família de 4 pessoas atualmente seria de R$ 5.997,14.
O estudo teve como base o preço da cesta básica e o suprimento de despesas como alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência. No entanto, esse valor é quase 5 vezes maior que o salário mínimo atual no Brasil.
Eliane Rosandiski, economista e doutora em economia social e trabalho, comenta que o Brasil passa por uma crise econômica em decorrência da pandemia. “Todas as médias de distância social impactaram o fluxo de produção, geração de empregos e renda” expõe a doutora.
Com o desemprego alto, os salários baixos e o orçamento familiar de quem ainda possui emprego, comprometeu e a inflação chegou a uma alta de mais de 10% no último ano. A economista explica que “o quadro inflacionário somado à diminuição do poder de compra das pessoas que ainda possuem renda, a potência de crescimento econômico está duplamente comprometida”, ou seja, as pessoas ganham menos e as coisas estão mais caras.
Elaine acrescenta que, muitas vezes, as famílias não têm condições de sustentar os gastos da faculdade do aluno, com isso, muitos têm de recorrer a bolsas acadêmicas ou iniciar no mercado de trabalho, caso isso não aconteça, sua formação no Ensino Superior estará comprometida.
Caroline Almeida experimentou essa realidade na prática, iniciou o curso de Arquitetura e Urbanismo e tinha o desejo de se formar, mas “no final do segundo ano da faculdade, a mensalidade ficou muito pesada pro meu pai pagar sozinho e eu não trabalhava, tentei conseguir alguma bolsa pela instituição, mas não deu certo, inevitavelmente tive que trancar o curso”, relata a jovem.
Por outro lado, Sabrina Lima, que também iniciou o curso de Arquitetura e Urbanismo e é sustentada pelos pais, optou por fazer faculdade em uma cidade universitária. Por isso, além da faculdade, precisa custear moradia, alimentação, entre outros. Apesar disso, ela conseguiu uma bolsa de estudos e admite que “não conseguiria sem o auxílio estudantil, pois meus pais não dariam conta de arcar com todas as despesas”.
Já Hoguinei Filho está cursando Matemática aplicada a negócios na USP- RP, e explica que os pais o ajudam financeiramente. “Trabalho durante as férias e dou aulas particulares, mas recebo auxílio financeiro dos meus pais”, explica. Ele conta que se não estudasse em uma universidade pública não teria condições de arcar com os gastos de uma faculdade privada, além das despesas do custo de vida.
Uma possibilidade para alunos que possuem dificuldades financeiras é procurar meios oferecidos pelo Governo Federal, como Sisu, ProUni e FIES, além de planos de bolsas estudantis oferecidos pelas próprias faculdades.