Governadores de diferentes estados anunciaram flexibilizações que elevam expectativas para eventos de final de ano.
Melissa Maciel
Na semana do dia 16 de outubro, governadores de diferentes estados promulgaram novos decretos de flexibilização quanto às atividades econômicas e sociais. A otimização da cobertura vacinal e a disponibilidade de leitos de UTI são alguns dos fatores que permitiram a retomada.
As novas flexibilizações permitem a ampliação da capacidade de público em eventos corporativos, estádios e restaurantes, bem como o aumento da capacidade de atendimento em lojas, museus, teatros, bibliotecas, entre outros. Além disso, será retomado o funcionamento de bares e restaurantes sem restrição de horários.
No Estado de São Paulo, por exemplo, estabeleceu-se retomada obrigatória das aulas presenciais nas redes municipal, estadual e particular com 100% dos estudantes. Porém, permanece a obrigatoriedade do uso de máscara e distanciamento de 1 metro entre os estudantes.
A prefeitura da capital paulista liberou salas de teatros e cinemas da necessidade de distanciamento mínimo, no entanto há requisições quanto ao uso de máscara, disponibilização de álcool em gel e comprovação de vacinação.
Outros estados, como Ceará, Pernambuco e Minas Gerais também apresentaram afrouxamento das regras sanitárias.
Por mais que todos estejam ansiosos para voltar às atividades o mais rápido possível e que o processo de vacinação esteja em um ritmo bom, a liberação preocupa profissionais da saúde.
Para o chefe do Serviço de Infectologia do Hospital das Clínicas de Porto Alegre, doutor Eduardo Sprinz, para que tenhamos uma flexibilização controlada e segura, seria ideal esperar que o número de novos casos diminuísse um pouco mais, pois quanto mais casos novos, mais chance de o vírus estar em circulação, o que abre portas para a atuação de novas variantes.
Segundo ele, para essa infecção, ainda não se sabe qual o percentual da população que deve estar adequadamente vacinada para que o vírus esteja sob controle, como se sabe para o caso de outras doenças, como a gripe.
Sobre isso, a médica infectologista Letícia Baptista comenta: “Hoje, no Brasil, cerca de 72% da população recebeu a primeira dose e quase 50% recebeu duas doses ou esquema vacinal de dose única, no caso da Janssen” e explica “os números são bons, mas ainda precisamos de mais, porque para que tenhamos uma segurança efetiva seria ideal níveis superiores a 80% com esquema vacinal completo.”
A situação controlada das UTIs neste momento da crise, com disponibilidade equilibrada de leitos, é outro fator que levou os governadores a promulgarem as flexibilizações, e quanto a isso a doutora Letícia Baptista declara: “pra nós que passamos por essa pandemia vendo hospitais lotados, UTIs sem vaga, pacientes falecendo a cada minuto, consideramos que estamos em um ótimo momento e acredito sim que isso nos permita retomar a vida, mas com cuidado”, afirma.
O doutor Sprinz, por outro lado, prefere não colocar a disponibilidade de leitos como fator que possibilite a liberação “porque dessa forma parece que banalizamos a morte e aceitamos que muitas pessoas vão morrer com a reabertura”, explica.
Com o anúncio das flexibilizações, elevaram-se os ânimos da população para a realização de festas de final de ano. Um exemplo disso foi a lotação da Rua 25 de Março, no centro da capital paulista, no final de semana do dia 16 de outubro com pessoas procurando itens de decoração para as festas de Halloween.
No que tange ao planejamento para retomada de grandes eventos, a doutora Baptista expõe que “quando se permite 100% da capacidade em alguns estabelecimentos, o monitoramento das restrições é muito delicado, principalmente quando se tem pessoas que já não respeitam mais as medidas”, diz.
Com saudade da vida social ativa, a estudante de Geografia Lorrane Cristina de Oliveira, de 19 anos, expõe: “eu saia todos os finais de semana e estou a 2 anos saindo somente para fazer o essencial” e continua “a minha expectativa é que dê certo porque eu não aguento mais, mas ao mesmo tempo confesso que tenho medo dessa flexibilização acabar piorando o que já foi resolvido”, explica.
“Embora eu seja super a favor da retomada dos serviços, na minha opinião grandes eventos que estão sendo planejados são uma flexibilização um pouco precoce e arriscada”, conclui Letícia.