Visto como uma abordagem que valoriza a formação integral do educando, hoje, esta modalidade é regulamentada por mais de 60 países.
Melissa Maciel
Que ser mãe, dona de casa e ainda ter uma carreira profissional é um estilo de vida desafiador, é fácil de imaginar. Mas imagina somar a tudo isso, a função de professora particular? Pois é, esta é a vida das mães homeschoolers, uma prática que vem ganhando reconhecimento no Brasil e no mundo.
No modelo de ensino domiciliar, a criança é estimulada de diferentes formas, tanto intelectual quanto artística e acadêmica. Os alunos podem focar em disciplinas que se adequam melhor às suas habilidades e pontos fortes, e ir além dos livros didáticos na metodologia de aprendizado.
Esta modalidade pode proporcionar a realização de pesquisas e projetos e contar com o apoio, além dos livros didáticos, de plataformas de ensino, sites e aplicativos, professores particulares e outros.
Segundo a plataforma LUMA de Ensino Individualizado, este modelo educacional potencializa o desenvolvimento da autonomia de aprendizado, promove um maior amadurecimento escolar e instiga a curiosidade por novas formas de aprender.
No Brasil a prática do homeschooling não é proibida, mas a Constituição Federal ainda não estabeleceu legislações específicas para regulamentação desta modalidade de ensino. No entanto, em 2021, o Ministério da Educação (MEC) lançou a cartilha “Educação domiciliar: um direito humano tanto dos pais quanto dos filhos” para servir de suporte às famílias que optarem pelo ensino formal em casa.
Segundo a Associação Nacional do Ensino Domiciliar (ANED), em 2016, cerca de 3200 famílias praticavam o homeschooling. Atualmente, calcula-se mais de 7500 famílias exercendo esta prática no Brasil.
Além disso, em 2017 o PhD Brian Ray publicou uma pesquisa em que analisou 14 estudos de caso realizados com peer-review acadêmico, ou seja, revisados com rigor científico. Por meio desses estudos, ele comparou o desempenho de alunos educados em casa com o de estudantes de escolas públicas e privadas.
Neste estudo foram abordadas diferentes áreas do conhecimento. Desde a linguagem, artes e estudos sociais à engenharia e ciências. O PhD explicitou que 11 dos 14 casos estudados mostraram que os alunos de ensino domiciliar tiveram uma performance superior aos estudantes do ensino público e privado.
A psicopedagoga, mãe e consultora pedagógica Flora Andrade, aplica o ensino domiciliar com seu filho e orienta inúmeras mães que buscam compreender melhor a maneira correta de aplicar esta abordagem educacional.
Ao ser questionada sobre a organização da agenda educacional de seu filho, ela expõe: “Tenho um planejamento anual seguindo objetivos para o ano escolar em que ele se encontra. A cada domingo, planejo a semana com atividades nos livros, experimentos, passeios e outros”, conta.
Algo que pode causar insegurança quanto a esta prática é saber como conciliar vida profissional e doméstica com a educação formal dos filhos. Quanto a isso, Flora esclarece que “é preciso planejamento, organização e constância. Atualmente eu trabalho durante algumas tardes e noites, mas as manhãs são dedicadas ao lar e às atividades escolares com meu filho.”
Como citado anteriormente, existem materiais de apoio que podem ser introduzidos no planejamento dos pais. A psicopedagoga explica que utiliza livros didáticos, mas destaca a importância de ir além destes recursos. “Ajudo muitas mães a entender que o recurso não é um fim em si mesmo. Tanto com meu filho quanto com meus alunos particulares, trabalho com lições práticas aliadas ao conhecimento acadêmico”, afirma.
A designer gráfica Juliana Coutinho, é mãe de duas meninas, de quatro e oito anos, e desde que nasceram ela as educa em casa. A designer explica que ao conhecer outras famílias homeschoolers e perceber o resultado desse tipo de educação, ficou encantada e resolveu aplicar com as filhas também.
Para o planejamento educacional, Juliana procurou orientação de uma pedagoga praticante do homeschooling que a ajudou a elaborar um delineamento semestral, semanal e diário com os conteúdos mais relevantes para a faixa etária da criança.
Juliana, assim como Flora, procura seguir uma linha educacional voltada para os valores cristãos. “Utilizo apostilas de pais e professores homeschoolers cristãos que criam materiais para esse público, além disso uso a Base Nacional Curricular para nortear os tipos de conteúdos que minha filha já está apta a aprender”, explica
Ela ressalta também, a relevância de apresentar o conhecimento trabalhado nas aulas, no mundo real e, para isso, faz uso de livros de referências visuais, vídeos, documentários educativos, além de passeios a museus, zoológicos, exposições e bibliotecas para complementar o ensino.