Elas são pedreiras, mecânicas e barbeiras
Lia Costa
As mulheres foram vistas por muito tempo como sexo frágil ou incapazes de exercer “trabalhos masculinos”. No entanto, elas estão quebrando as regras, arregaçando as mangas e mostrando toda força e capacidade que possuem.
O Projeto Colher de Pedreira aconteceu em 2010 com o intuito de capacitar mulheres para o trabalho em obras de construção civil. A inciativa do Centro Dandara foi financiada pela Petrobras. O curso durou três meses e ainda hoje, sete anos depois, existe briga para aceitar as pedreiras no mercado de trabalho.
Regina Celly foi uma das mulheres que participou do projeto. Seu pai trabalhava na construção civil e desde os nove anos de idade ela o ajudava. Em 2007 fez um curso de diagramação de ferragem, pela Petrobras. Ela conta que a mão de obra feminina é menos valorizada mesmo sendo mais detalhista. Isso quando uma mulher é escolhida para a construção civil, o que não acontece na maioria das vezes.
Hoje Regina é autônoma, não por escolha, mas porque não conseguiu serviço registrado como pedreira. “Nós parimos, construímos e dirigimos esse mundo. Nós existimos e somos 52% da população, ainda sendo tratadas como minoria”, critica. Regina afirma que é um trabalho como qualquer outro e que a mulher tem tanta força quanto o homem para tal.
Agda Oliver comprou seu primeiro carro em 2008. Seus amigos lhe disseram que precisava fazer revisão, pois era usado. A bancária pagou por volta de 680 reais no serviço que durou apenas uma hora. Com a nota de garantia em mãos, foi alertada para o fato de que algumas peças que foram “trocadas” sequer existiam no seu carro. Ficou chateada e resolveu estudar para entender o que havia acontecido, mas no fim se apaixonou. Depois de ser enganada, a empreendedora abriu a primeira oficina mecânica do Brasil para mulheres.
Mesmo sendo profissional, declara que já sentiu preconceito e ainda sente. “Há pessoas que chegam na oficina e não acreditam no nosso trabalho”, revela. A Oficina “Meu Mecânico” tem homens e mulheres atendendo, mas há clientes que não se sentem confortáveis com o atendimento feminino. “É chato, mas respeito! Aos poucos mostramos que somos capazes e sempre conseguimos reverter a situação”, diz.
Naomi Nishida já tinha trabalhado como auxiliar de cabeleireiro e seu sonho era ser hairstylist com foco em cortes. “Quando descobri cortes de barba e o quanto eles mudam o rosto vi que era com isso que eu queria trabalhar”, declara. Ela trabalha no Circus Hair, um salão de beleza em São Paulo. Ao invés de terem mulheres barbadas, o Circus tem as mulheres barbeiras. São quatro meninas que atendem a agenda normalmente como qualquer profissional.
A barbeira conta que não sofre preconceito na área, pois o mercado está abrindo portas. Mesmo assim, no início o cliente ficava receoso de deixar o corte nas mãos de uma menina jovem. “Mas essa preocupação logo acabava assim que ele olhava o resultado”, revela. Para ela, apesar dos pesares essa geração dá oportunidade de poder trabalhar, ser e ter o que quiser. “O que mais me marcou no trabalho foi ter o poder de falar e mostrar o que eu sei, sem que os outros subestimem ou duvidem do que eu faço”, afirma.
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