Muitos pensam no internato como um regime absolutamente fechado, com normas e na maior parte do tempo solitário, mas dentro deste sistema, existem profissionais prontas para conceder auxílio, atenção e orientação como se fossem mães.
Laura Rezzuto
O Ensino Médio e o Ensino Superior no contexto de internato fazem com que o jovem seja obrigado a tomar decisões difíceis, como ficar a milhares de quilômetros de distância de familiares e amigos. Para muitos, ousar ficar separado da mãe, é a única forma de cuidar, garantir o próprio futuro e o da pessoa que os educou e protegeu.
Porém, escolher viver com essa saudade, não traz apenas solidão, tristeza e outros mistos de sentimentos desagradáveis. O sistema de internato proporciona alguns presentes especiais, como: o desenvolvimento de independência e amadurecimento; experiências profissionais e espirituais; colegas de quarto, os amigos da mesa do restaurante e, claro, várias mães.
Acordar cedo, bater ponto, acompanhar nas refeições, educar na rotina, perceber o outro, ouvir a cada instante, entender sem restrições, orientar sabiamente e inspirar. Rotina de quem ama e atitudes conhecidas por serem destinadas à uma mãe.
É assim que funciona o dia a dia das preceptoras do UNASP. Mulheres que receberam uma missão: atender e suprir a necessidade de figura materna das alunas internas do campus.
Elisabete Nascimento é preceptora há 10 anos e conta sobre a importância dessa presença na rotina de quem está longe da sua família. “Elas já estão longe de casa, morando com pessoas que nunca viram e algumas vezes com idioma, religião ou cultura diferente. Ocasionalmente conversamos com meninas que ao fim do assunto dizem que nunca tinham tido a oportunidade de ouvir ou desabafar sobre aquilo. O preceptor é a pessoa que precisa representar a família que está longe ou que muitas vezes o aluno não tem. Então, é significativo”, explica.
Há muito espaço durante a rotina das internas para educar e disciplinar. As alunas do Ensino Médio, por exemplo, são acompanhadas constantemente pelas preceptoras de plantão para que não cheguem atrasadas em suas aulas, sigam um determinado padrão de comportamento que as favoreçam no futuro, utilizem seu horário de estudo, façam suas atividades e mantenham uma boa média escolar.
“É muito boa toda a orientação que nós recebemos, nos traz uma certa base. Nós somos aconselhadas sobre diversos assuntos que às vezes não tínhamos noção antes daquele momento. Então, nós temos suporte aqui”, confirma a aluna do ensino médio Isabella Maciel, de 17 anos.
É graças a esse acompanhamento feito pela equipe de preceptoras que vários pais viram o desempenho das filhas crescerem desde que foram matriculadas no UNASP. Alunas que ao ingressarem na instituição apresentaram dificuldades na transição do sistema por sentirem saudades de casa, mas foram auxiliadas por essas tutoras em período integral.
Segundo a preceptora Elisabete, as alunas chegam ao internato com a personalidade que foi formada ao decorrer dos anos, por isso, o processo deve ser o mesmo de quando se educa uma criança nos primeiros anos de idade. “O que me aproxima das meninas é o fato de eu me preocupar e tratá-las como eu trato a minha filha de sangue. Eu não faço essa distinção, eu brinco, dou bronca, converso e lido da mesma forma. A partir daí criamos uma conexão”, ressalta.
Já para Isabella, o que a aproxima da preceptora são as atitudes dela com as alunas. “É o cuidado dela. Já teve madrugada que eu precisei ir para o hospital, ela me levou, ficou comigo e literalmente, em nenhum momento, soltou a minha mão. E ela sempre conversa comigo e com as minhas amigas sobre assuntos que são pautados como tabu, mas toda mãe deveria falar com a filha sobre. A paciência dela nos conquista”, finaliza.
Porém, não somente de trabalho interno vivem as preceptoras, cada uma possui os seus afazeres do lar, além disto, a maioria é mãe. Por isso, dividir a rotina entre o residencial feminino e a casa é um grande desafio que só pode ser vencido por quem tem o instinto materno para atender, cuidar e defender.
“Nós ficamos muito tempo no residencial nos dedicando às meninas, então quando eu chego em casa, busco dar atenção total para a minha filha, que entende a importância do meu trabalho, caso eu precise correr para atender algum chamado, auxiliar em algum problema que possa vir do internato ou até mesmo estar presente para uma aluna”, enfatiza a preceptora.
Ao serem questionadas, algumas preceptoras não puderam definir as suas atividades como uma obrigação. “Eu tenho as minhas funções no dia a dia, mas eu sempre faço, por instinto, além do que me é pedido. Eu sempre ando uma milha a mais porque eu não me considero uma preceptora pelo meu salário, mas sim, para transformar vidas. E eu faço isso por amor”, declara a preceptora Jam Karla Alves.
Para as alunas, a proximidade dessas figuras maternas traz mais segurança, pois podem pedir conselhos e até mesmo chorar, como se estivessem na presença da própria mãe.
Hellen Freitas, estudante de Jornalismo, acredita que as visitas espontâneas no quarto e os puxões de orelha a fazem se sentir em uma relação de mãe e filha. “É diferente chegar em um lugar onde tudo é novo. Então a transição foi mais fácil tendo essas pessoas aqui no UNASP, que têm a função de cuidar de nós, meninas, em momentos que nos sentimos desamparadas e longe de casa”, reforça.
Segundo a preceptora Elisabete, que sempre sonhou em ter muitos filhos e hoje possui uma filha, a profissão foi um chamado e presente de Deus para ela, que até os 30 anos, pensava não poder ter filhos. “Eu entendi que Deus estava me dando os filhos que eu tanto queria, e a partir daí, eu sou apaixonada pelo que eu faço. Eu sempre deixo claro que o dia que eu precisar ser preceptora delas e não mãe, eu peço a minha conta, porque é isso o que eu me considero para elas: mãe. Inclusive, toda vez que alguém precisa tomar um novo rumo que não tenha a ver com este lugar, um pedaço de mim vai embora. Então, eu me sinto muito agradecida por ser tão feliz nessa área”, finaliza.
Essas mulheres, de fato, tornam o ambiente propício para estreitar os laços com a instituição. Esqueça os ambientes escuros e o acompanhamento inflexível vistos em filmes, o UNASP, com a ajuda das preceptoras, acomoda confortavelmente mais de 700 meninas que são vistas como filhas.
“Eu sou muito privilegiada e grata. Eu criei um sentimento materno. Para mim, esse sentimento é um dom divino. Não é apenas ter um parto, é você ter esse carinho e amor dado por Deus por alguém que você não gerou”, conclui a preceptora Jam Karla.
A equipe conta com a dedicação das preceptoras Mariane Mateus, Lucinéia Vitoriano, Elaine Sousa, Angela Peres, Elisabete Nascimento, Jam Karla, Márcia Paiva e Renata Gonçalves. Para elas, ser preceptora é um sentimento que marca a alma. Cada qual sabe que vida de mãe é feita de erros e acertos, visto que, ser mãe não é ser perfeita, é estar disposta a aprender e evoluir constantemente, para que desta maneira, os filhos possam amadurecer a cada passo.
Já para as alunas, ter uma preceptora por perto, é: amar uma mãe que não a criou, mas que está fixada em seu coração. É ser cuidada, aconselhada, defendida e sonhada com a mesma intensidade que a mãe de sangue a desejou. É olhar nos olhos de quem a acompanha e aprendeu a amá-la e reconhecer nada menos que uma mãe.