Na data dedicada a elas, mães contam como conciliam os desafios do trabalho e da maternidade solo.
Natália Goes
Criar, educar, trabalhar, buscar momentos de lazer, às vezes até estudar. Manter uma criança já não é uma tarefa fácil, imagine fazer tudo isso sozinha. As “mães solo” sempre existiram, o termo refere-se à não participação do homem quanto à responsabilidade afetiva ou financeira do filho.
Segundo dados mais recentes levantados pelos Cartórios de Registro Civil do Brasil, em quase dois anos de pandemia, mais de 320 mil crianças foram registradas somente com o nome da mãe na certidão de nascimento. Outros dados revelam que em 2010, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), 87,4% das mulheres eram responsáveis por suas famílias, sem cônjuge e com filhos.
Uma situação muito comum no Brasil é a utilização do termo “mãe solteira”. Ultrapassado, a forma faz pensar que mãe é um estado civil. Mas o que existe são mulheres que assumem sozinhas toda a responsabilidade que seria de duas pessoas. Por isso, elas devem ser chamadas de “mãe solo”.
A psicóloga Larissa Aragão de Freitas de Oliveira, pós-graduanda em saúde mental pela Faveni, explica que o termo mãe solo é o mais adequado para referir-se às mães que criam seus filhos sozinhas, não devendo utilizar o termo mãe solteira. “O termo mãe solo vem para quebrar com os paradigmas, pois não é necessário estar em um relacionamento para ser mãe”, destaca. De acordo com a profissional, o termo mãe solo reflete no exercício da parentalidade somente pela mãe, seja por uma produção independente ou mesmo que ela tenha um companheiro.
Embora exista muito a avançar, no dia 8 de março de 2022, o Senado Federal aprovou o projeto de lei 3.171/2021 que determina a Lei dos Direitos da Mãe Solo. A lei será voltada tanto para as mães quanto para os dependentes, nas áreas do mercado de trabalho, assistência social, educação infantil, habitação, mobilidade entre outros benefícios.
A Dona Julieta, teve dez filhos e por circunstâncias da vida foi mãe solo. Ela fala sobre as dificuldades que enfrentou durante a criação dos filhos, sendo mãe e trabalhando para sustentar a família. “A maior dificuldade em criar meus filhos era que para trabalhar, eu precisava pagar uma pessoa para ficar com eles e eu ganhava muito pouco”, conta.
Além disso, ela lamenta por não ter tido uma rede de apoio e uma sobrecarga de responsabilidades. “Não tinha nenhuma rede de apoio, nem dos pais dos meus filhos, nem de avós e nem de amigos. Era eu mesmo para o que der e vier e o apoio de Jesus Cristo”, destaca Julieta. Na época, com poucos recursos, o lazer também era limitado pois não havia praça, não tinha condições de ter uma televisão e dinheiro para ir aos parques.
Uma vida marcada por lutas e vitórias, dona Julieta conta que aos finais de semana quando não estava trabalhando estava cuidando das tarefas domésticas. “Aos finais de semana eu trabalhava, e quando ficava em casa colocava a trouxa de roupa na cabeça, caminhava 3km para lavar a roupa no córrego”, relembra.
Pedro Brandão ainda era bebê quando a mãe, Rose Brandão, tornou-se mãe solo. Hoje com 20 anos de idade, o jovem e Rose são, sobretudo, grandes companheiros. Fazem atividades juntos, como cantar em coral, assistir televisão, ir à igreja. “A gente passa por dificuldades, mas depois que passa a gente conta como se fosse mais fácil do que foi”, destaca Rose.
Por melhor que seja a fase que vivem hoje, nem sempre foi assim. Após ter lidado com um relacionamento abusivo e um divórcio, Rose lutou para que o filho tivesse uma melhor educação e estabilidade emocional. “Éramos só nós dois, passamos por muita coisa. O jeito dele me ajudou muito e eu lutei, eu fui uma leoa”, conta.
Ela relata que investiu na carreira para poder dar o melhor ao filho. Após passar em um concurso público mudou-se para o interior de seu estado, tendo dificuldade para se adaptar ao novo ambiente de trabalho e moradia, longe da família.
Apesar da distância, ela conta que a rede de apoio que ela teve a ajudou nessa etapa. “Tive o apoio da minha mãe, aos finais de semana que estava na capital, ficava na casa dela. Ela sempre apoiava, passava dias com a gente. Sempre esteve presente mesmo à distância. Sempre foi avó e mãe, minha irmã também sempre me apoiou”, conclui Rose.
A rede de apoio, segundo a psicóloga Larissa, é super necessária para qualquer sujeito em um estado de vulnerabilidade, principalmente a mãe solo que passa por preconceitos por questões culturais. Ainda complementa falando sobre a limitação da rede de apoio na maternidade solo. “ Não precisa limitar esse espaço a família. Em uma adoção podemos abranger os profissionais legais nesta rede de apoio. Dentro dessa rede de apoio a mãe solo pode ter amigos, psicólogos, assistente social, a família de um ex-parceiro. A mãe solo pode ter uma rede de apoio muito maior do que imaginamos”, ressalta.
Larissa Aragão frisa que frente às demandas da maternidade muitas mães abdicam ou esquecem do autocuidado. “Para além da mãe, existe uma mulher. Ela precisa de um espaço para ela, para conversar com o parceiro, sair com as amigas, para ir ao salão de beleza. Por isso, é importante a rede de apoio”, destaca.
Ainda sobre o autocuidado, a psicóloga salienta a importância dessa mãe praticar as atividades que fazia antes de ter o filho. Além do acompanhamento psicológico dessas mães, “ninguém ensina o que é ser mãe, não está na revista, no livro, não está com a vizinha. Esse autocuidado precisa antes, durante e após o nascimento do filho”, conclui.