Especialistas afirmam que o ambiente virtual pode proporcionar melhor absorção do conteúdo através do aprendizado prático.
Sâmilla Oliveira
Tindin é um aplicativo com carteira digital que ensina educação financeira para crianças. A empresa é uma startup de educação (edtech) que usa a gamificação como instrumento para potencializar os quatro pilares da educação instituídos pela UNESCO: aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a conviver e aprender a ser. A plataforma já é usada por escolas no estado de São Paulo em aulas sobre finanças.
Eduardo Schroeder, criador do aplicativo, conta que a ideia da plataforma veio para solucionar o consumismo infantil detectado dentro da própria casa, com seu filho, que na época tinha três anos. Para evitar a compra compulsiva de qualquer brinquedo que o filho gostava, Eduardo experimentou a mesada educativa. O método incentivou o pequeno a primeiro poupar para depois comprar.
A plataforma trabalha o autoaprendizado de forma prática. “Usamos dinâmicas de games e de simulação também para outras áreas do conhecimento. Foi assim que surgiu o Metaverso Educacional da Tindin”, afirma Eduardo. O propósito transformador massivo (PTM) da Tindin é “educar toda criança para a vida”. A empresa defende que o aprendizado prático pode ser até 15 vezes mais eficiente para a retenção do conteúdo que uma aula exclusivamente expositiva.
O fundador acredita que, aos poucos, o futuro da educação está deixando de focar na quantidade de informação que a mente de uma criança é capaz de armazenar, e migrando para a capacidade que essa mente terá em transformar informações em novos conhecimentos. “Einstein costumava dizer: ‘a imaginação é mais importante que o conhecimento’ e estamos matando sistematicamente a criatividade de nossas crianças com um sistema arcaico de ensino e aprendizagem”, argumenta Eduardo.
Um metaverso seria um ambiente virtual onde as pessoas interagem através de avatares em um reflexo do mundo real. Para o especialista em realidade virtual, Rodrigo Mulinário, aprender com a realidade virtual se encaixa no jeito prático de aprender. “De acordo com o psiquiatra americano, William Glasser, quando você lê, a porcentagem de retenção de conteúdo é de 10%; quando você ouve, 20%. Mas quando você aprende praticando, a retenção da informação sobe para 80%”, declara Rodrigo.
Para Eduardo, é importante desmistificar o conceito de metaverso. Ele afirma que o metaverso não se resume em grandes recursos tecnológicos como óculos de realidade virtual ou realidade aumentada. “A verdade é que nossos filhos já estão habituados a este conceito há anos. Todos já interagiram e interagem com metaversos como Roblox, Minecraft e Second Life”, comenta.
Diante do cenário da pandemia, no qual as crianças gastavam boa parte do dia em plataformas desse tipo, a Tindin lançou o seu metaverso educacional. “Na prática, ele é um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA/LMS), dentro do qual o aluno deixa de ser um mero usuário para se transformar em cidadão da própria plataforma educacional”, afirma o fundador. Ele ainda conta que dentro desse simulador de vida, o aluno é convidado a aplicar o conhecimento teórico multidisciplinar em tomadas de decisões cotidianas.
Rodrigo Mulinário também trabalha como game designer. Ele defende que a realidade virtual é muito mais que ver imagens, vídeos ou um slide. “Eu acredito que ela torna o aprendizado mais palpável. Trazer isso para dentro de escolas é conseguir ensinar de forma mais lúdica. Sempre que me perguntam o que eu faço, eu digo que sou um tradutor de ideias. Eu pego o imaterial que está na mente de alguém e transformo em realidade virtual”, declara.
De acordo com a planejadora financeira pessoal Sâmela Silva, os hábitos que são aprendidos quando criança são levados ao longo da vida, mesmo que inconscientemente. “Quanto mais a criança participa do orçamento em casa, mais ela se prepara para o momento de receber o dinheiro dela. Assim ela também aprende a administrar. Entrar em contato com o mundo do dinheiro desde cedo gera a consciência financeira”, afirma.
Sâmela sustenta que a esperança de trazer esse conteúdo para crianças é que gerações futuras tenham um resultado diferente do que se tem hoje. Segundo ela, hoje mais de 70% das famílias brasileiras têm dívidas grandes e uma das maiores expectativas é reduzir esse grau de endividamento. A especialista afirma que “dessa forma, as crianças se tornarão adultos que sabem a hora correta de comprar algo, sabem como trabalhar com o crédito, em que momento pegar um empréstimo, financiamento, consórcio, entendem os cálculos que estão por trás disso, as consequências do parcelamento, entre outras coisas.”
A planejadora afirma que as instituições financeiras não ajudam as pessoas a entender a importância de investir e poupar. “Nós crescemos com falta de informação. Nosso nível de educação e de consciência é muito baixo e mesmo que hoje esse conteúdo seja encontrado na internet, é apresentado de maneira muito complexa. Se as crianças começarem a entender desde agora a importância de poupar e investir, a qualidade e o padrão de vida delas na fase adulta será melhor”, assegura Sâmela. Ela conclui dizendo que se a semente da educação financeira for plantada cedo, poderá gerar bons frutos em um futuro próximo.