Após o registro de 128 mortes, buscas por desaparecidos foram encerradas.
Yasmim Ferreira
Chuvas de intensidade forte têm atingido Recife e cidade vizinhas desde 23 de maio de 2022, deixando pessoas e casas ilhadas devido aos alagamentos e transbordamentos. Até agora foram registradas 128 mortes e 9,3 mil pessoas ficaram desabrigadas e foram levadas para 111 abrigos em 27 municípios, das quais 31 cidades foram decretadas em situação de emergência, sendo ao todo 51 afetadas pelas fortes chuvas.
Segundo a Defesa Civil da capital, em algumas partes da cidade foram registradas chuvas com 258mm, quase 80% do volume de água esperado para o mês de maio, que é de 328,90 mm. As informações divulgadas revelaram que o número de mortes provocadas pelas chuvas ultrapassou a enchente histórica de 1975 em Recife, na qual 107 pessoas vieram a óbito.
“Situação muito triste, difícil de aceitar. Ver o sofrimento das pessoas que perderam tudo e não sabem como vão recomeçar a vida. É preocupante. O que acontecerá com essas pessoas?” Este é o questionamento de Gabriella Paixão, moradora de Jaboatão dos Guararapes, um dos municípios afetados pela chuva.
A maior parte das vítimas foi soterrada pelo deslizamento de terra, alguns perderam seus móveis, comida, casa e outros perderam tudo o que tinham. Moradora do bairro da Várzea, um dos povoados mais afetados pela chuva, Liliane da Silva passou por essa situação pela primeira vez e teve de enfrentar uma inundação em sua residência.
“Aqui na minha casa entrou muita água. Tem uma canaleta entupida que quando chove muito, faz com que a água entre no meu lar e dos meu vizinhos. Chamamos a Defesa Civil mas até agora não fizeram nada. Boa parte dos meus móveis estão na igreja, alguns dos membros vieram e me ajudaram a retirar as coisas para levar até lá”, comenta Liliane.
Devido a grande área rural ter sido completamente alagada, a maioria das perdas nesta localidade não tem sido de vidas e sim materiais, como alimentos e moradias. Para Liliane, é muito difícil ver as pessoas que perderam tudo, inclusive suas casas, agora sem ter onde morar. “Eu e minha família também corremos o risco de perder nossa casa, mas mesmo em meio a toda minha tristeza, procuro ajudar outras pessoas que estão em uma situação pior do que a minha”, declara.
Mesmo aqueles que não moram em áreas de risco, estão sendo afetados pela tragédia. O advogado Hugo Leonardo, morador da capital Pernambucana explica: “Não moro em nenhum lugar ameaçado, e ainda assim vejo o nível da água aumentar enormemente. Como o solo da cidade é todo asfaltado, a taxa de absorção do solo recifense é extremamente baixa, a água não tem pra onde ir.” Segundo ele, devido a estas condições do solo, o risco de alagamento virou coisa do dia a dia.
A situação traz à tona sentimentos de tristeza e lamento, mas também causa indignação nos moradores. A moradora Gabriella Paixão conta um pouco do seu sentimento. “O governo e as prefeituras de forma geral não se preocupam em prevenir esse tipo de situação. Todo ano sabemos que vai chover nessa época, acidentes acontecem, a cidade para e nada nunca é feito para mudar isso, pelo contrário, verbas destinadas a esse propósito são transferidas para outra área”, desabafa.
Antes da ocorrência, a prefeitura de Recife publicou um alerta com orientações para que a população que vive em áreas de risco, como morros e encostas, procurasse abrigo e ficasse atenta às chuvas que estariam por vir. Segundo o prefeito João Campos, o objetivo era garantir a segurança e a vida das pessoas.
A Câmara Municipal do Recife anunciou que será repassado R$15 milhões para contribuir com o auxílio de R$2,5 mil que a Câmara, juntamente com a prefeitura e o governo do Estado vão pagar para as famílias mais atingidas pelas chuvas na cidade.