Embora sejam a maioria dos jogadores, as mulheres ainda sofrem violência de gênero em jogos digitais no Brasil.
Sara Helane
Dados obtidos pela Pesquisa Game Brasil (PGB) em 2021, mostraram que as mulheres correspondem a 53,8% do total de jogadores eletrônicos, porém um outro levantamento, realizado em maio de 2021, pela Lenovo, revelou que 59% delas ainda escondem o gênero nos jogos para evitar assédios.
Nathalia Duarte, jornalista e editora de jogos e esportes do site “TechTudo”, diz que a forma como as jogadoras são vistas no meio digital é um reflexo da maneira como são tratadas no mundo real. “Todas as violências, preconceitos e machismos que as mulheres estão propensas a viver na sociedade em geral, elas também podem sofrer no ambiente digital”, enfatiza.
Ainda segundo Nathalia, infelizmente, é muito comum que as mulheres sejam desacreditadas no espaço dos jogos digitais por questões relacionadas ao gênero. Apesar disso, enxerga um comportamento otimista por parte das empresas em relação a essas jogadoras. “Depois que as mulheres foram vistas como um grande público alvo, as empresas e comunidades de jogos, têm voltado suas atenções para criar um ambiente mais amigável, já que elas sofrem muitos ataques e assédio”, infere.
As mulheres gamers estão presentes nos mais variados tipos de jogos. Bruna Zordan, gamer e conhecida no universo dos jogos como “Geek Mãe”, diz curtir diferentes estilos, e ainda ressalta que, mesmo tendo muitas jogadoras nesse meio, ainda falta muito respeito. “Somos assediadas e criticadas o tempo todo.”
A gamer relata que muitas jogadoras se escondem atrás de nicknames (apelidos) masculinos para evitar assédio, e ainda diz que os comentários maldosos são frequentes. “Sempre rola comentários como: ‘já lavou a louça?’, ‘Jogando mal assim, só pode ser mulher’ ou ‘só faz sucesso ou ganha itens porque é mulher”, relata.
A gamer e atriz em dublagem, Debora Lira ,diz conseguir lidar com comentários maldosos relacionados ao fato dela ser uma mulher que joga e costuma não se retrair quando isso acontece. “Eu levo na brincadeira, acho que só um me tirou do sério até hoje, mas eu respondo a pessoa na mesma altura.” A jogadora ainda conta que apesar de seus amigos virtuais serem homens, há um grande respeito por parte deles.
Raquel Luz, streamer e criadora de conteúdo, diz perceber muita relutância com relação à aceitação das mulheres que jogam ou que trabalham com games. Porém, reconhece que já há um acolhimento a essas jogadoras nesses ambientes eletrônicos. “Aos poucos vejo mais aceitação, mas é lento.” Ela complementa dizendo que a luta para conquistar o respeito nesses ambientes é diária, e se esforça para conscientizar as pessoas sobre esta questão. “Tento construir uma comunidade consciente e que apoie mulheres jogadoras.”