Adalie Pritchard e Hellen Piris
“Honra, respeito, disciplina e lealdade!”, gritam as crianças juntas. Esse é o lema da academia de jiu-jitsu “Leão” do Bugaba, no interior do Panamá. Desde sua fundação em 2011, o Leão vem ensinando aos seus alunos a desenvolver a prática do jiu-jitsu, e fomentar valores. Se você algum dia assistir o treino da academia, encontrará muitas crianças focadas no que fazem.
O instrutor Van Stuard Hernandez, explica que a formação de crianças exige paciência, atenção, dedicação e sabedoria, já que você está lidando com seres que estão apenas começando a vida e ainda não têm uma personalidade sólida. Ele sustenta que: “tudo o que for projetado para essas crianças vai marcá-las e direcioná-las a esse ensino”, e por esse motivo, “é preciso ter muito cuidado com as doutrinas que ensinamos”. É importante não ser muito flexível, nem muito duro com eles. O instrutor acredita que quando a criança for corrigida por alguma coisa que fez errada, deve ser informada do motivo para entender o porquê.
Com o objetivo de colocar essas convicções em prática, as artes marciais cultivam os valores por meio de ações e não apenas reforço verbal. O instrutor Van cita alguns exemplos que são colocados em prática na academia:
Seja no interior do Panamá, ou no nordeste do Brasil, a prática das artes marciais tem sido adotada e é profundamente respeitada por aqueles que a desenvolvem. Este é o caso de Dalisson, um baiano de 27 anos apaixonado pelo karatê. Dalisson Santos é pai de Natan, trabalha como técnico em logística de transporte e pratica o esporte desde os sete anos. Ele foi influenciado pelo seu pai que também praticava karatê, e desde então, não desapegou do Kimono.
Ele conta que desfruta muito praticar o esporte, e o que mais gosta do karatê é o respeito mútuo que há dentro do grupo. “Nós conseguimos enxergar a hierarquia que existe, mas os de cima nunca menosprezam os que estão iniciando, ao contrário, temos uma cultura de apoio e suporte coletivo”. Além do respeito, ele destaca a disciplina e perseverança, e assegura que os valores e experiências adquiridas no karatê vão muito além do momento de praticar o esporte.
Hoje em dia, essa experiência é uma inspiração para o Natan de sete anos. Ele enxerga em seu pai uma referência de cidadão e profissionalismo no esporte. Dalisson esclarece que não obrigou o Natan a praticar karatê, de fato, foi o menino quem demonstrou interesse e teve a iniciativa de aprender. Para ele, o fato de inculcar valores nas crianças é muito importante para o seu desenvolvimento pessoal. “Através do karatê desenvolvemos valores que serão utilizados pelo resto da vida, então que a criança possa ter essa oportunidade desde pequena, facilita muito mais o processo de educação”. Natan segue os mesmos passos do avô e do pai, e já se destaca em competições na sua cidade.
Valores são sumamente importantes e já foram destacados tanto pelo treinador Van como por Dalisson. Porém, a psicologia vai além, e dialoga sobre os benefícios sociais que a prática das artes marciais pode oferecer às crianças. A psicóloga e pós graduada em saúde coletiva Ester dos Santos, aponta que além da liberação de endorfinas que já é de conhecimento geral há anos, as atividades físicas – e especificamente as artes marciais – melhoram a interação social dos pequenos. Ela confirma que “os esportes praticados em grupos melhoram a resistência à frustração”. Outro ponto que Ester enfatiza é o desenvolvimento de resiliência, que é a capacidade de se adaptar a situações negativas ou diferentes. “Nem sempre é possível ganhar todas as vezes”, afirma a profissional.
As artes marciais tem relação também com o estilo de vida. Ester defende este argumento, e garante: “quem faz a prática ainda de criança, consegue internalizar os princípios dessa prática que são; autocontrole, senso de colaboração, respeito ao próximo, e também conseguir perceber o seu limite”.
As crianças precisam ser respeitadas para saber respeitar. O instrutor Van de jiu-jitsu, recebe eles para treinar com muito ânimo antes de fazer uma oração para começar. Após passar uma lista de assistência e antes de começar o treino, ele pergunta se alguém se machucou ou não se sente bem. “Devo saber como estão fisicamente e como se sentem de ânimos”, acrescenta Van, “treinar crianças não é fácil, mas é satisfatório”.
O instrutor se coloca como exemplo de que as artes marciais podem melhorar uma pessoa. Portanto, são uma excelente ferramenta de ensino. Ele conclui: “O jiu-jitsu brasileiro mudou minha vida. Desde que descobri essa arte sou um homem feliz, seguro de mim, motivado e desfruto de boa saúde física e mental”.