Saiba o que os artistas circenses fizeram para manter a chama do espetáculo vivo durante a quarentena.
Cristina Levano
Após quase dois anos de muitas adaptações devido às restrições da pandemia da Covid-19, os circenses voltaram com os espetáculos na modalidade presencial.
A diretora e acrobata do circo Colore, Ellen Moreira, formada em Educação Física, trabalha com circo há 14 anos, e por mais que não seja a vida inteira dela, o circo lhe dá muita alegria para viver. Para ela, voltar para o presencial é muito impactante. “Posso me reconectar com o que é a minha essência de verdade”, afirma.
Desde o início da quarentena, os circenses têm enfrentado grandes desafios para manter o espetáculo em andamento. Muitos dos shows tiveram que fechar por não ter os recursos necessários, outros se incorporaram ao mundo virtual oferecendo espetáculos “de casa”.
Ellen explica que eles tiveram que agir de acordo com as restrições e normas vigentes na cidade e só assim descobriram se encontros de ensaio seriam possíveis. Isso afetou muitos dos projetos que os artistas possuíam, como a construção do espetáculo Itinerantes que, devido a pandemia, teve muita dificuldade de se estruturar e ainda está em processo.
No período pandêmico, a lei emergencial Aldir Blanc, do fundo emergencial para cultura, foi o principal auxílio que os artistas receberam, além disso, o circo Colore desenvolveu novas propostas. “Criamos o Lona virtual, espetáculos on-line. Foi difícil continuar nessa modalidade , pois o audiovisual é uma linguagem artística que não é nossa área de domínio”, narra Ellen.
Geovane Brascuper, diretor artístico e apresentador do circo Kroner, relata que o tempo parado não foi fácil. Por mais que recebessem o auxílio do governo no começo da quarentena, eles tiveram que trabalhar fazendo outras coisas, desde entrega de comida, até vender bala na rua. Alguns outros artistas encontraram trabalhos na cidade e decidiram deixar os espetáculos de lado, atitude que foi necessária mas também prejudicial ao circo.
Geovane explica: “Infelizmente nós circenses somos assim, dependemos da bilheteria, dependemos do público. Então foram dois anos à base de cesta básica, nós íamos na Secretaria de Cultura, ou nas ONGs, supermercados, [falávamos] com empresários que tinham mais condições para que pudessem nos ajudar”.
No início de setembro de 2021, tiveram a primeira apresentação do retorno com o cinquenta por cento do público, mas o público está voltando aos poucos. “Não está vindo muita gente por medo da ômicron, mas acho que em um mês voltaremos a trabalhar com cem por cento do público”, explica o apresentador.
Heloisa Oliveira, produtora artística, praticante e pesquisadora de roda cyr, swing flag e acrobacias solo, acredita que o maior impacto que a pandemia causou nela, além do aspecto financeiro, foi a falta de contato com o público. “O artista circense é movido pela platéia, pelo suspiro do público. Assim como as outras pessoas, nós sentimos no emocional, na nossa saúde mental, mas nós re-adaptamos, buscamos outras maneiras de estar em cena com o público”, narra a acrobata.
Larissa Harmônica, bambolista e pirofagista, concorda com Heloise sobre as dificuldades de não estar em cena presencialmente. “O circo ficou comprometido, a minha formação ficou comprometida em função do isolamento social, e tivemos algumas limitações no sentido criativo”, complementa. Mas apesar de tudo, a bambolista declara que “a maior satisfação da nossa profissão vem da superação de limites”.
O circo passou por muitas adaptações durante os dois últimos anos, de qualquer forma, mesmo que não seja como antes, os artistas estão felizes de se reconectar com o público. “É muito bom estar de volta presencialmente, comunicar-nos por meio da linguagem corporal com os espectadores, ver os olhos das pessoas e saber o que estão sentindo e pensando do nosso trabalho, é gratificante”, disse Larissa.