População sem religião cresce 6% desde o último Censo

Pesquisa Datafolha de 2022 indica que, em nível nacional, os “sem religião” são 14% da população. Entre os jovens, o percentual chega a 25%.

Ana Júlia Alem 

De acordo com as pesquisas Datafolha de 2022, a comunidade sem religião cresce um pouco mais a cada década. Atualmente, totaliza 14% da população brasileira, crescendo 6% em relação ao Censo de 2010. Em alguns estados, como São Paulo e Rio de Janeiro, a população sem religião é maior que evangélicos e católicos. 

A pesquisa declara que, em São Paulo, entre jovens de 16 a 24 anos, os sem religião chegam a 30%. No Rio de Janeiro, chegam a 34%, superando evangélicos (32%), católicos (24%) e outras denominações (19%). 

“Desde pequena, cresci frequentando diferentes igrejas com meus pais e avós. Por causa disso, conheci muitas crenças e gosto de cada uma delas”, declara Maria Fernanda Rodrigues, paulista de 19 anos.

“Então, decidi não escolher uma religião. Prefiro conhecer um pouco de todas.” A estudante de medicina finaliza dizendo que se sente feliz dessa forma e que não precisa estar ligada à uma igreja para poder manter sua relação com Deus.

Quem são os brasileiros ‘sem religião’

De acordo com Silvia Fernandes, cientista social e professora da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), os sem religião são pessoas que estão afastadas de instituições religiosas, mas que, muitas vezes, mantém crenças relacionadas ao cristianismo.

Dentro desse grupo, os ateus e agnósticos estão incluídos também. Porém, como apresentado no Censo de 2010, eles são minoria. Dos 15,3 milhões de pessoas que se declaram sem religião, apenas 4% são ateus e 0,8% agnósticos.

Por que o grupo ‘sem religião’ cresce cada vez mais

Lúcio Henrique Pereira, pastor universitário do UNASP Hortolândia, observa que existem três grandes motivos para que cada vez mais brasileiros se afirmem ‘sem religião’. “O primeiro deles são as tradições. A geração atual precisa de uma justificativa, motivo ou uma explicação do por quê elas estão fazendo aquilo. E muitas vezes, as comunidades religiosas não explicam esses rituais, o que distancia ainda mais as pessoas da fé”, explica o pastor. 

O segundo motivo, de acordo com o pastor Lúcio, é a falta de compromisso. “As pessoas sabem que para pertencer a uma comunidade religiosa, precisam assumir um compromisso. É necessário mudar e adquirir certos hábitos. E, hoje em dia, assumir compromissos é uma enorme dificuldade para as pessoas”, comenta Lúcio.

O pastor acredita também que o princípio bíblico que justifica a ideia de igreja é viver em comunidade, para estudar a palavra de Deus e praticá-la entre si e para as pessoas. “Algumas pessoas tornam esse princípio complicado quando julgam, excluem e afastam outros membros. Essas atitudes fazem com que adultos, e principalmente jovens, não vejam mais sentido em estar dentro de uma instituição que prega, mas não coloca em prática. Esse é o principal motivo do afastamento de pessoas das instituições”, finaliza o pastor.

De acordo com Lúcio, o distanciamento das comunidades com jovens é maior por conta da fase de experimentação, quando tudo parece mais interessante e a religião se torna arcaica perto das outras coisas que ele tem oportunidade de conhecer.

Novas maneiras de ter fé 

Para Pedro Rodrigues, de 19 anos e estudante de Teologia, buscar encontrar a si próprio e um lugar a que se encaixem, faz com que as pessoas descubram novas maneiras de ter fé, novas tradições e novas relações. É daí que surgem comunidades que abrangem diferentes grupos de pessoas. A Nova Semente e o Projeto Caju são grandes exemplos dessas novas comunidades. 

O estudante conclui dizendo que as novas maneiras de manter uma relação com Deus não anula as maneiras antigas. Apenas acolhe quem não havia se sentido acolhido até então.

 

Sair da versão mobile