Cesarianas se tornaram uma pandemia, e a América Latina é uma das regiões com a maior taxa do mundo desse tipo de parto
Kawanna Cordeiro
Dados do Ministério da Saúde (MS) revelam que 55% das crianças que nascem no Brasil são por meio de parto cirúrgico. No sistema privado o número aumenta para 84%. Mas, para a Organização Mundial de Saúde (OMS), somente de 10% a 15% das cesarianas são justificadas por motivos médicos. O restante faz parte de um fenômeno que se tornou pandemia e se espalha pela América Latina e Caribe e, segundo um estudo da revista científica Plos One, são as regiões com a maior taxa de cesarianas do mundo.
A doula e fundadora da ONG Parto Normal em Fortaleza Priscilla Rabelo explica que o processo se tornou um problema cultural. “As coisas se inverteram, a cesárea é tratada como regra e o parto normal como exceção. Tem médicos que dizem logo que não fazem parto normal e tem os que ficam adiando o assunto”, revela. Existem as mulheres que iniciam o pré-natal desejando parto normal e esse número vai diminuindo. Há um desestímulo ao longo das consultas, e um dos principais motivos de cesáreas desnecessária no Brasil é a alegação de que o cordão umbilical está enrolado no pescoço do bebê e que isso coloca sua vida em risco no parto normal. Não há um estímulo ao parto normal, as mulheres são convencidas pelo médico a optar pela cirurgia.
O obstetra Antonio Carlos Oliveira culpa a baixa remuneração, paga pelo SUS e pelos convênios de saúde e a falta de qualidade e estrutura das maternidades disponíveis. “Não é difícil entender que num sistema originalmente falho, os caminhos encontrados pelos diversos atores nele envolvido, sejam também, igualmente falhos,” desabafa. A ginecologista Juliana Sá Ferraz concorda com Oliveira no quesito da falta de remuneração, que aliada à diferença de tempo entre uma cesariana e um parto vaginal, acaba fazendo com que os médicos não acreditem que “vale a pena” o tempo gasto com a assistência ao parto normal que pode durar até 18hrs. “Muitas mulheres são, assim, submetidas à cesariana eletiva por falta de opção ou por serem induzidas a essa escolha”, explica.
Além disso, muitas grávidas têm medo da dor, de não conseguir, de ser vítima de violência obstétrica, de não ter acompanhamento adequado e ocasionar danos ao bebê. A cesárea se tornou um problema cultural. Segundo o Ministério da Saúde, a cesariana “é sempre um procedimento de dor e sofrimento” que, quando não indicado corretamente, traz inúmeros riscos, como aumento da probabilidade de surgimento de problemas respiratórios para o recém-nascido e grande risco de morte materna e infantil. Além disso, afirma que a ideia de que ela é mais segura que o parto normal é um mito e não deve ser feita indiscriminadamente.
É necessário saber que os benefícios do parto normal tanto para a mãe como para o bebê sejam do conhecimento de todos. É obrigação do médico apresentar os riscos e os benefícios das vidas de nascimento e também de toda a sociedade. De acordo com a OMS, as principais recomendações para casos específicos para a realização do método cirúrgico são:
– A operação cesariana não é recomendada como forma de prevenção da transmissão vertical em gestantes com infecção por vírus da hepatite B e C;
– A operação cesariana programada é recomendada para prevenir a transmissão vertical do HIV;
– A operação cesariana é recomendada em mulheres que tenham apresentado infecção primária do vírus Herpes simples durante o terceiro trimestre da gestação;
– A operação cesariana não é recomendada como forma rotineira de nascimento de feto de mulheres obesas;
– A operação cesariana é recomendada para mulheres com três ou mais operações cesarianas prévias;
– O trabalho de parto e parto vaginal não é recomendado para mulheres com cicatriz uterina longitudinal de operação cesariana anterior, casos em que há maior comprometimento da musculatura do útero, aumentando o risco de sua ruptura no trabalho de parto.
*Foto: https://goo.gl/mSWyVs