Pessoas que trabalham no setor tecnológico contam suas experiências trabalhando para empresas no exterior.
Cristina Levano
Rodrigo Jornooki é brasileiro e gaúcho de Porto Alegre. Ele morou nos últimos seis anos em Brasília, onde trabalhou na área de TI de uma empresa que prestava serviço para o governo. Ele atuava no INEP (autarquia que faz os exames do ENEM, ENADE, etc.) assim como no Ministério da Cidadania. Isso durou até o ano passado, quando recebeu uma proposta em Portugal, onde está morando já há um mês e meio.
“A empresa daqui de Portugal achou meu currículo no LinkedIn e perguntou se eu estaria aberto a ouvir uma oportunidade. Achei interessante, fiz a entrevista, fui passando nas etapas, eles me fizeram uma proposta, valia a pena e aceitei”, relata Jornooki.
Por mais que às vezes ele sinta saudades da família, a mudança foi bem tranquila para ele, pois economicamente é melhor e ele se sente feliz no seu setor de trabalho.
Após a pandemia, o “home-office” se tornou em uma nova modalidade de trabalho, deixando deste modo uma brecha de oportunidades para que pessoas possam conseguir emprego fora do país sem deixar sua residência.
Natália Gomes é Partnership Marketing Assistant da ExitLag, uma empresa de tecnologia de otimização de jogos. Ela já trabalhava na área profissional de games e esportes desde o final de 2020, quando começou a produzir conteúdo no LinkedIn a fim de fazer mais networking na área de Hitmaker. Nesse tempo, Natália foi mandando vários currículos para diversas empresas, organizações de esporte e estúdio de games.
“Consegui fazer entrevistas para algumas organizações no ano passado, mas não rolou, e aí eu achei essa vaga da ExitLag em um site de plataforma de trabalhos de games e esportes”, disse a assistente de marketing.
Gomes conta que o seu processo seletivo demorou em torno de quase um mês porque ela tinha que desenvolver alguns projetos para poder ser validada. “O pessoal tinha que ver se eu tinha soft skill, heart skill e se era compatível com a vaga,” explica.
Hoje, ela trabalha diretamente com influenciadores e conta outros quinze colaboradores no seu setor. Alguns deles trabalham diretamente com a região do Norte da África, do Oriente Médio, Ásia, Latem e NA, enquanto Natália é responsável pela Europa.
Ela tem se beneficiado muito trabalhando a distância. “Você economiza em combustível e demais gastos. E o horário de trabalho é bem flexível, o pessoal que trabalha aqui é bem empático, isso é um ponto bom”, comemora.
Um Software Engineer (que preferiu permanecer em anonimato), brasileiro, formado em ciência da computação na Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), assim como Natália, encontrou uma oportunidade de emprego após criar um perfil de trabalho. Atualmente ele atua no desenvolvimento de aplicações backend para o setor financeiro, do Brasil para uma empresa nos Estados Unidos. “No mercado do desenvolvimento de software a maneira mais usual de conseguir conectar e ser recrutado para novas oportunidades é através do LinkedIn”, declara.
Ele disse que trabalhar a distância é muito vantajoso, pois pode passar tempo de qualidade com a família, pode trabalhar viajando, não gasta horas para chegar no escritório, pode dar uma volta pelo quarteirão para pensar em alguma solução, além de que “economicamente é bem mais vantajoso, não só porque você gasta menos com o combustível nas alturas, mas o salário é mais competitivo do que no Brasil,” declara.
Durante todo o período de quarentena, Natália trabalhou a distância, então ela não sentiu muita dificuldade trabalhando para os Estados Unidos, ela confessou que até prefere trabalhar nesta modalidade. “Às vezes a gente sente falta de estar em um espaço com o pessoal, mas a gente faz tudo pra ser o mais humanizado possível. E gosto muito desta modalidade porque você consegue adequar a sua rotina de casa melhor”, agrega.
A única dificuldade que ela sente é com o fuso horário. “Mas mesmo se eu trabalhasse presencial eu teria que me adaptar com o fuso horário de outros países. Às vezes fico um pouco perdida, mas depois que você se dá conta, você consegue levar tudo com muito mais tranquilidade,” esclarece.
Por outro lado, o software engineer continua dizendo que tudo tem suas vantagens e desvantagens, e um ponto negativo do home-office é a interação com o resto da equipe de trabalho. “A dificuldade é que você não se relaciona na mesma intensidade que quando você está dentro de um escritório, mas se a pessoa se organizar ela consegue manter um ótimo relacionamento entre o time,” explica.
Rodrigo Jornooki disse que a área de TI é carente no mundo todo, e que isso talvez deixe o caminho mais fácil, pois os brasileiros são bem vistos nessa área.
“A minha dica é, faça um bom planejamento, crie um perfil, faça um bom currículo no LinkedIn, colocando vários cursos que você tem feito, isso atrai os recrutadores. Comece a ver as vagas para os locais que você pretende ir,” sugere o programador.
O “software engineer”, concorda com Jornooki, e afirma que aprender outros idiomas, especialmente o inglês, é importante para conseguir emprego no exterior.
“Nem preciso falar que se tua intenção é trabalhar para fora, poste tudo em inglês e formate tudo para esse idioma. Dessa maneira você estará mais aberto a esse tipo de oportunidade, então tenha um ótimo inglês”, acrescenta.
Para Natália o networking é fundamental e te leva a outros patamares. Também destaca a importância de consumir diversos conteúdos. “Como sou criadora de conteúdo de Valorant e atuo num projeto voluntário para fomentar o cenário feminino, eu preciso saber a nível global como estão as equipes, formato anual do campeonato, entender sobre outros jogos, jogadores, publishers, figuras públicas, etc. E por isso preciso me informar de tudo,” exemplifica.
Além disso, a produtora de conteúdo também fala da importância de estabelecer alvos, como foco, área de desejo e um objetivo final. “Procure fazer vários processos seletivos, pois você pode ter vários “nãos”, mas se tiver um “sim” vai ter valido a pena”, confirma.