Festas juninas aquecem a economia do Nordeste

Cidades como Caruaru (PE) e Campina Grande (PB) lideram as festas de São João, com grande fluxo de turistas e aumento nas vendas locais. 

Gabrielle Ramos

O mês de junho é marcado pelas tradicionais festas de Santo Antônio, São Pedro e São João. Mais do que uma época de celebração e entretenimento, o período pode movimentar até R$7,4 bilhões na economia. A estimativa, feita por especialistas a pedido da CNN, destaca especialmente o impacto nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, nas quais a tradição é mais forte e o movimento econômico mais expressivo.

Segundo a economista Priscilla Cordêiro, essa movimentação é impulsionada pelo aumento no fluxo de pessoas, nas vendas do comércio, na ocupação da rede hoteleira e na demanda por serviços. “Essa tradição faz com que o período funcione quase como uma ‘alta temporada’, na qual há um aumento significativo no consumo local”, explica.

Empregos temporários 

Durante esse período, é comum ver pessoas com barraquinhas de lanche ou vendendo artesanato nas ruas e nos arredores dos eventos. A economista explica que essa característica faz com que o São João funcione como uma espécie de “13º salário antecipado” para muitas famílias, já que o aumento da demanda por produtos e serviços gera diversas vagas temporárias, especialmente nos setores de comércio, alimentação, turismo e eventos.

Esse é o caso da autônoma Zuleide Araújo, que, nesta época do ano, se dedica à produção e venda de comidas típicas em Recife, Pernambuco.  “É nessa época que consigo um volume maior de vendas. Com o que ganho em junho, consigo organizar minhas finanças, investir no meu negócio e garantir uma certa estabilidade ao longo do ano”, conta.

A autônoma explica que o aumento nas vendas está ligado ao desejo das pessoas de reviver memórias afetivas associadas às festividades juninas. Isso impulsiona o consumo, o que garante uma boa oportunidade de faturamento para quem trabalha nesse período.

Turismo e vendas

Para receber esse grande volume de pessoas, o economista Ricardo Rocha destaca que os preparativos começam meses antes do evento. A organização envolve desde a contratação de artistas regionais e nacionais, passa pela estruturação de feiras e apresentações de quadrilhas, até a logística de hospedagem e transporte.

Os economistas explicam que essa grande mobilização impulsiona a economia local por meio de uma movimentação intensa tanto de turistas quanto de moradores, o que fortalece o turismo e diversos setores, como comércio, serviços e cultura.

Entre os setores mais beneficiados estão os de alimentos e têxtil. “O setor de alimentos, por exemplo, experimenta um pico de demanda por produtos típicos como milho, amendoim, coco e derivados. Isso aquece tanto o comércio local quanto a agricultura familiar”, afirma Priscilla.

Já o setor têxtil e de artesanato ganha destaque com a produção e venda de roupas juninas e itens decorativos, geralmente confeccionados por pequenos produtores. A economista explica que esse aumento na demanda estimula a produção local, fortalece as economias regionais e valoriza a cultura nordestina como um diferencial competitivo.

Investimento do governo

Um dos fatores de destaque para o sucesso desses eventos é o apoio de setores comerciais e públicos. “Muitas cidades do Nordeste recebem apoio de prefeituras do setor privado para organizar grandes festas, o que aumenta o alcance e a profissionalização dos eventos”, afirma Ricardo.

Em Campina Grande, por exemplo, o São João iniciou em 30 de maio e vai até 6 de julho. Esta é a 42ª edição da festa, com cinco dias a mais que no ano anterior. No ano passado, o evento recebeu 2,93 milhões de pessoas. Agora a expectativa é superar esse número.

Já em Caruaru, conhecida como a capital do forró, uma das novidades deste ano é a criação de um espaço tipo camarote, que oferece uma visão privilegiada do palco principal. A proposta é tornar a experiência ainda mais atrativa para o público.

Além dos grandes shows e estruturas, governos municipais e estaduais também costumam incentivar pequenos empreendedores, como vendedores ambulantes, artesãos e comerciantes locais. “É uma forma de impulsionar a economia criativa e gerar renda para diversos setores da sociedade”, garante Priscilla.

Tradição junina

Dados do Serasa, produzidos pelo Instituto Opinion Box, mostram que 65% dos cidadãos brasileiros celebram as festas juninas, sendo 51% na sua própria cidade e pelo menos 14% em outros municípios ou estados.

Pedro Oliveira, que é do interior de São Paulo, participa das festas de São João em sua própria cidade. Mas há cinco anos, decidiu organizar a própria celebração. No início, o objetivo era lucrar com o evento, mas, o espírito acolhedor da sua família falou mais alto. “Por minha família ser mineira, e gostarmos de ser bem receptivos, acabamos focando mais em usar todo dinheiro da organização na festa”, explica.

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