Vídeo oficial ganha mais de 2 milhões de dislikes e acarreta inúmeros comentários de descontentamento.
Hellen de Freitas
O live-action da A Pequena Sereia teve seu primeiro trailer lançado durante a Disney D23 Expo, feira anual para celebrar a franquia e suas novidades. Tendo como protagonista a atriz e cantora negra, Halle Bailey, o trailer teve cerca de 2 milhões de dislikes, apesar do YouTube remover a visualização dos números de reprovação, desde novembro de 2021, os extensores nos navegadores permitem essa visibilidade. Já no Brasil, o trailer do novo filme foi bem recebido, com o número de likes maior do que os ‘’não gostei’’.
A adaptação de A Pequena Sereia estava recebendo críticas desde 2019, quando a atriz foi anunciada como escolhida para interpretar a famosa princesa. Na época também se encontrava muitos comentários odiosos nas redes sociais da artista, que por sua vez demonstrou estar realizando um sonho. ‘’Sinto como se estivesse sonhando e estou apenas grata, não presto atenção a negatividade. Vai ser lindo e estou muito empolgada por fazer parte disso”, afirmou a atriz durante o evento The Power of Young 2019.
Apoio nas redes sociais
Apesar da rejeição em massa, houve um apoio e recebimento também surpreendente na internet. Vídeos de crianças pretas reagindo ao trailer e se emocionando por se sentirem representadas, viralizaram em todas as redes sociais, nele elas enfatizam a protagonista e a semelhança por ela ser da mesma cor que as crianças. Frases como ‘’Ela é preta’’ e ‘’Ela se parece comigo’’, foram ditas por elas, enquanto as mães filmavam suas reações.
Racismo ou tradicionalismo
Devido a grande repercussão da adaptação da Ariel, que originalmente teria uma pele branca, a internet ficou dividida entre racismo e tradicionalismo. Um lado acredita que as críticas estão fundamentadas em um pilar totalmente racista, contudo, a outra vertente afirma que é apenas uma questão de tradição, em que se deve respeitar as características originais da personagem.
Para Brenda Ferreira, estudante de Direito, o racismo estrutural é o principal motivo da rejeição. Segundo ela, diferente das outras princesas da Disney, a Ariel é totalmente fictícia, pois as sereias não existem, seria diferente se fosse a Pocahontas, pois a história dela retrata fatos da realidade, entre uma indígena e um colonizador. Brenda também enfatiza que o foco principal da trama não é a aparência em si e sim a voz, que foi o motivo da salvação do príncipe e o fator que desenrola a trama da personagem Úrsula, que rouba a voz da princesa. Sendo assim a principal característica que seria imutável.
‘’Dentro da Disney, já tiveram outras adaptações em que personagens não brancos foram interpretados por atores brancos, a feiticeira escarlate, por exemplo, teve uma adaptação totalmente inválida e ninguém fala sobre isso, como não irão falar nada da Úrsula não ser roxa igual um polvo’’, declara.
Entretanto, não se pode esquecer das opiniões baseadas nas tradições. Eric Branco, engenheiro civil, pensa que as más reações vem devido a história de A Pequena Sereia se embasar em um desenho infantil de longa data, no qual as pessoas se apegaram às características clássicas da história, incluindo traços físicos. ‘’Assim como criticaram o filme Sonic por não se parecer com o personagem, creio que mesmo que haja comentários racistas no meio, o descontentamento generalizado é por olhar a obra e não trazer lembranças ao personagem original’’, acredita.
Deixando os dois lados da moeda à parte, algumas pessoas não se inclinam para nenhum dos dois aspectos. Lygia Pantoja, estudante de Psicologia, entende que seria um pouco dos dois. ‘’Alguns grupos não gostaram do live-action por não ser cem por cento de acordo com o desenho ao qual passaram a vida toda assistindo, posso falar por mim mesma, a Ariel sempre foi a minha princesa favorita e me senti um pouco decepcionada, pelo cabelo não ser tão vermelho’’, menciona.
A estudante no entretanto diz que vê o quanto o outro grupo rejeitou a personagem de A Pequena Sereia de uma forma extremamente agressiva pelo simples fato dela ser negra, ao ponto de darem milhões de dislikes e tecer comentários extremamente maldosos sobre a aparência da atriz, excedendo o limite de ser apenas um descontentamento de não ser parecida com o desenho.
