Os alunos se reúnem para cantar, estudar a Bíblia e orar no intervalo das aulas.
Nátaly Nunes
Vídeos de alunos evangélicos estudando a Bíblia e realizando cultos nas escolas e faculdades têm circulado na internet nos últimos meses. Esse momento é conhecido como intervalo bíblico, quando os jovens separam um tempo para cantar, ler e evangelizar os colegas. Uma prática recorrente no mundo cristão mas que gerou polêmica nas redes sociais por estar acontecendo no ambiente educacional.
O que começou com pequenos grupos de colegas realizando seu devocional, agora, em alguns lugares, conta com a presença de pastores ou até mesmo influenciadores digitais religiosos. A questão levantada é se esses encontros podem acontecer dentro das instituições de ensino e quais os limites da liberdade religiosa dentro de um Estado laico.
A liberdade para se expressar
A aluna Maria Eduarda Tomaz participa desse projeto em sua faculdade. Ela conta que neste semestre havia muitos cristãos na sua turma e em outros períodos, então eles decidiram se reunir semanalmente para estudar a Bíblia. “Todos reagiram bem. No começo, alguns ficaram curiosos para saber se era uma reunião de alguma igreja específica e também tiveram dúvidas sobre o que era um Pequeno Grupo ou Célula”, comenta.
De acordo com o advogado Daniel Aragão, a Constituição Federal garante a liberdade de religião e também o direito de não seguir nada. “Nenhum aluno é obrigado a participar de práticas religiosas, como orações ou estudos bíblicos. Ao mesmo tempo, os outros também não podem ser impedidos de expressar sua fé, desde que isso seja feito com respeito aos demais”, ressalta.
Um espaço para a fé
O vereador Lucas Pavanato (PL) protocolou em abril uma lei que autoriza a realização de intervalos bíblicos nas escolas públicas e privadas de São Paulo. A lei autoriza os alunos a combinarem com a coordenação um momento que não prejudique as aulas para se encontrarem e realizarem os seus cultos. O vereador usa como pauta o artigo 5º da Constituição que garante liberdade ao culto.
Ele não foi o primeiro. Em fevereiro, a vereadora Léia Klebia (Podemos) também apresentou um projeto para inserir as células nas escolas dessa maneira mais dinâmica feita pelos próprios alunos, em Goiânia.
No caso das escolas confessionais, ou seja, ligadas a uma religião, o advogado explica que ao realizar a matrícula, o aluno e sua família já estão cientes da proposta pedagógica e religiosa da escola. “Nessas instituições, a participação em atividades religiosas faz parte da rotina escolar, sempre com respeito à diversidade e ao ambiente educacional”, completa Daniel.
O Censo Escolar da Educação Básica de 2020 apresenta que existem aproximadamente 20 mil escolas cristãs no Brasil. Uma pesquisa divulgada pela Escola OBCP apresenta que nas regiões sudeste e sul abrigam uma maior quantidade de escolas cristãs. Já o norte e o nordeste têm uma presença relativamente menor.
Maria Eduarda diz que em relação a faculdade, de início foi difícil para conseguir um espaço para o intervalo bíblico, mas que depois de reuniões e uma movimentação entre os alunos, eles conseguiram. Agora eles têm o apoio da faculdade, que mesmo não sendo uma instituição cristã, e se encontram no intervalo das aulas para estudar a Bíblia e pregar o evangelho.