Os anos passam, mas será que as diversas línguas não prevalecem?

In Cultura, Geral

Entenda por quê o latim morreu, e como isso afeta as diferentes culturas e tradições.

Cristina Levano

As mudanças dos idiomas são como as mudanças biológicas, acontecem minuto a minuto, de geração a geração. Portanto, dizer que uma língua é realmente mais antiga que outra é errado, pois todas são tão antigas quanto a própria humanidade. Cada uma das línguas tem algo especial, algo único, mas o que acontece quando a padronização das civilizações faz com que, ao invés de surgirem novas línguas, sumam outras?

As línguas não nascem, elas se transformam

O tradutor e docente universitário, Marco Neves, escreveu no seu blog. “Andamos por aí com uma certa ideia do que é uma língua que nos leva a compará-la a uma pessoa: nasce, desenvolve-se, às vezes morre. Esta metáfora serve-nos em muitos casos. Mas, noutros, dá origem a ideias um pouco desastradas”, aponta.

Para Neves, “nunca a linguagem deixou de ser a linguagem completa na boca de cada falante”. Para sustentar esse pensamento, ele colocou como exemplo a origem das línguas latinas e o Latim. Antigamente o Latim era uma língua estável, que ao decorrer dos anos se desintegrou, mas no processo deu origem às sementes de outras línguas. Essas sementes acabaram por dar origem às línguas nacionais, como, espanhol, português, francês e assim por diante. Essas línguas se desenvolveram no auge da idade de ouro literária. 

Isso gera uma dúvida: será que a linguagem humana é menos capaz de expressar emoções, ou não permite conversa, amor, associação? Parece improvável, mas afinal, ninguém ainda encontrou uma linguagem que limite seus usuários, impedindo-os de experimentar uma emoção ou outra. 

“Para entender isso completamente, devemos completar um exercício: devemos esquecer de escrever. Agora, pensando na linguagem usada na rua. Imagine o tempo de Afonso Henriques ou até mais cedo. Imagine o que se dizia nas ruas de Guimarães há 100 ou 200 anos, quando Portugal se tornou um reino independente,” escreve Neves. 

Tendo como exemplo a língua portuguesa, só precisamos parar e escutar para perceber a extraordinária variedade e riqueza de palavras que usamos todos os dias, essa variedade está presente entre as pessoas que não sabem escrever. Mediante a linguagem, conseguimos persuadir, argumentar, brincar, conversar profundamente no terraço, inclusive participar de reuniões estratégicas na empresa.

“Esta capacidade de conversar e de viver não diminuiu quando o Império Romano desapareceu. Nunca houve um momento em que a língua deixasse de ser uma língua inteira na boca de cada falante. Da mesma forma, os romanos já receberam a sua língua do que vinha antes e assim continuamos”, explica o tradutor.

Não há um momento em que possamos dizer: esta língua nasceu hoje. Em geral, a linguagem é transmitida sem cortes radicais entre gerações. Como o escritor, jornalista e linguista holandês Gaston Dorren disse uma vez, ao se referir às línguas inglesa e irlandesa “elas não têm idade, ambas são tão antigas como a linguagem humana”.

Quando morre uma língua?

Por essa razão, ao percorrer os anos, milhões de idiomas foram se transformando e evoluindo. O historiador, Anizzio Pirozzi, esclarece que “é considerada uma língua morta quando nenhum falante a usa ou tem conhecimento básico. Mas isso não significa que a ausência de um falante impeça que outro ser humano não possa aprender em caso de uma língua escrita”.

Entre as línguas mortas mais estudadas se encontra o latim, que apesar de morta, ainda está presente em diversas áreas do conhecimento, principalmente na escrita, havendo muitas expressões que traduzidas são usadas no dia a dia como: Bis in idem, renda per capita, in memoriam, adsumus, curriculum vitae, erga omnes, etc..

O sânscrito é outra língua morta muito estudada, assim como o anglo-saxão, o grego arcaico e o antigo egípcio. O aramaico ainda não está totalmente extinto e o hebraico foi revitalizado como língua oficial. No Brasil, alguns dos idiomas indígenas que se encontram mortos ou em grave risco de extinção são: tupi antigo, tupiniquim, tamoio, pataxó, etc.

Infelizmente, o estudo das línguas mortas é pouco valorizado na sociedade, cingindo-se quase unicamente ao uso acadêmico.

Preservação

Como forma de reverter a extinção de muitas línguas indígenas, uma ação é incentivar os sistemas educacionais a favorecer o uso de línguas “ancestrais”, pois são carregadas de conhecimentos em áreas de estudo, como agricultura, biologia, astronomia, medicina e meteorologia. Dessa maneira, todos poderão conhecer a essência do que era relevante para a cultura das pessoas que a usavam, levando em conta os fatores objetivos ou subjetivos de uma linguagem.

“Acredito que a linguagem seja a maior ferramenta que a humanidade faz uso para se desenvolver enquanto espécie. Sem a linguagem não teríamos como sobreviver em um estado de natureza. A linguagem nos colocou em um diferente grau de desenvolvimento”, finalizou o historiador.

Línguas mortas.
Línguas antigas estão longe do vocabulário da sociedade atual.

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