O Ministério da Saúde aponta aumento de 49% nos atendimentos por transtornos mentais e índice de insatisfação entre jovens.
Ester Correa
A infelicidade entre jovens brasileiros tem crescido silenciosamente. Mesmo com liberdade, acesso à informação e tecnologia, é paradoxalmente a geração mais infeliz, que enfrenta muitas crises emocionais profundas, principalmente em escolas, redes sociais e dentro de casa. É uma geração com tudo nas mãos, mas com o coração cada vez mais distante do que realmente importa.
O que está acontecendo com os jovens?
Segundo a BBC, os índices de ansiedade e depressão entre jovens aumentaram drasticamente nos últimos anos. As redes sociais, a pressão estética, a comparação constante e a instabilidade do mundo são fatores que pesam sobre uma geração aparentemente “livre”, mas emocionalmente sobrecarregada.
Para o psicólogo e palestrante Paulo Lins, que atua com ressignificação de traumas e resolução de conflitos emocionais, a infelicidade pode ser um reflexo da felicidade que foi sequestrada por um sistema de valores superficiais. “Os jovens não estão mais infelizes porque o mundo piorou, mas porque a percepção deles sobre o que é felicidade está distorcida. Vivemos numa sociedade capitalista que nos ensinou a associar felicidade com aquilo que se tem. Mas quem estuda isso sabe: felicidade não está ligada só a conquistas”, explica.
Ele afirma que a geração atual tem mais acesso, mas menos profundidade. “Antes, ser feliz era sobre ter casa, emprego, estabilidade. Hoje, com tudo isso, muitos ainda se sentem vazios e potencializaram os problemas de saúde mental. Isso mostra que o problema não é o que temos, e sim como nos vemos”, ressalta.
Geração Z: liberdade sem preparo
A chamada Geração Z (nascidos entre 1997 e 2009) cresceu cercada por telas, possibilidades e facilidades. Mas essa liberdade também gerou um efeito colateral: a fragilidade emocional. “Uma geração que não precisa se esforçar para ter as coisas acaba menos resiliente. E quando a dor chega, ela derruba mais rápido. O emocional também precisa de treino, de resistência”, diz Lins. Ele relata que em suas palestras, que já impactaram mais de 200 mil jovens, sempre há quem o procure dizendo que sente um vazio difícil de explicar. “Eles têm dificuldade de nomear o que sentem. Estão perdidos dentro de si”, relata.
Fama não é sinônimo de felicidade
Amanda, criadora de conteúdo digital e estudante de Psicologia no Centro Universitário Adventista de São Paulo, tem usado as redes sociais para compartilhar não apenas conquistas, mas também vulnerabilidades. Para ela, a felicidade passa por autoconhecimento e aceitação. “Se eu pudesse dar um conselho para os jovens, seria: façam terapia, se conheçam, se aceitem. O ser humano é complexo, e a gente vive ansiando por ter e possuir — mas isso nunca preenche de verdade”, orienta.
Amanda conta que, apesar de enfrentar preconceitos e julgamentos pelo que publica, escolheu viver em aliança com os próprios valores. Faz até de seus momentos frágeis um uma oportunidade para criar conteúdo. “Não é fácil. A gente se magoa. Mas entendi que cada um tem seu tempo, e que viver de forma real, mesmo que doa, é o que me mantém firme”, conta.
Viver por fé, vínculos e propósito
Apesar da crise emocional, há quem encontre equilíbrio em pilares que parecem esquecidos: Deus, vínculos e missão. É o caso da jovem Emille Sambata, 23 anos, estudante de Enfermagem na Universidade Católica do Pernambuco (Unicap), e casada. Mesmo enfrentando solidão e saudade da família, ela sustenta sua felicidade com base em princípios sólidos. “Os jovens de hoje pautam a felicidade em coisas, como: um relacionamento, bens ou dinheiro. Mas esquecem do essencial, que é Deus e a família, tanto a que a gente constrói quanto a que já tem”, afirma.
Ela conta que o momento mais difícil emocionalmente é quando está sozinha por causa das viagens do marido. “Por ser um lugar novo pra mim, às vezes me sinto desamparada. Mas o que me fortalece é lembrar que tudo é passageiro, e que eu quero fazer essa chance de viver valer a pena”, conta. “Acredito que a felicidade não vem de uma coisa só. É um combo: meu casamento, minha família, minha fé. Quero ser minha melhor versão para os meus pacientes, para quem amo e pra mim mesma”, explica.
Para Lins, isso é reflexo da era da inteligência social, em que tudo muda rápido: os vínculos, os valores, as identidades. “O jovem está mais infeliz porque a sociedade inteira está. E enquanto a felicidade for buscada em coisas que não sustentam a alma, essa infelicidade vai continuar”, conclui o psicólogo.