Após a morte do papa Francisco, o Vaticano se prepara para o Conclave.
Julia Viana
Poucas tradições religiosas carregam tanto mistério e solenidade quanto a escolha de um novo papa. O Vaticano, com seus corredores silenciosos e suas cerimônias milenares, se tornou o centro das atenções do mundo inteiro sempre que um pontífice encerra seu mandato. Entre rituais antigos e o suspense das fumaças que sobem da Capela Sistina, a sucessão papal é um evento que mistura fé e história nos bastidores da Igreja Católica.
Após a morte do papa Francisco, o primeiro papa sul-americano da história, os olhos de fiéis e curiosos se voltam novamente para Roma, onde os cardeais se preparam para iniciar o Conclave, o processo sagrado e sigiloso que definirá o próximo líder da Igreja. Enquanto a fumaça branca não sobe ao céu, o mundo aguarda o anúncio.
Como acontece a escolha?
A escolha de um novo papa é feita por meio de um processo eleitoral altamente sigiloso, conduzido por cardeais, tradição que remonta à Idade Média. Entre o 15º e o 20º dia após a morte do pontífice, os cardeais devem se reunir no Vaticano, onde ficam hospedados em acomodações específicas durante o período da eleição.
Quando é necessário eleger um novo papa, todos os cardeais são convocados ao Vaticano para participar do Conclave, um processo eleitoral tradicional que existe há cerca de 800 anos. O primeiro dia começa com uma missa na Basílica de São Pedro, seguida pelo isolamento dos cardeais na Capela Sistina, ao som da ordem “extra omnes”, expressão em latim que significa “todos fora”.
A partir desse momento, os cardeais permanecem reclusos no Vaticano até que escolham o novo pontífice. O termo “conclave” vem do latim e significa “com chave”, simbolizando o isolamento rigoroso do grupo até a definição do novo líder da Igreja Católica.
Quem pode se tornar papa?
A eleição de um novo papa ocorre após a morte ou renúncia do pontífice, como no caso de Bento 16 em 2013. O escolhido vai se tornar o líder da Igreja Católica Romana, o Sumo Pontífice. Embora qualquer católico batizado possa ser eleito, o cargo geralmente recai sobre um cardeal.
São os cardeais que escolhem o novo papa. Existem 252 cardeais no mundo, em sua maioria também bispos, mas apenas os com menos de 80 anos têm direito a voto. O número ideal de eleitores é 120, porém, atualmente, 138 estão aptos, após a nomeação de 21 novos cardeais por Francisco em dezembro de 2024.
Como funciona o conclave?
Durante o Conclave, os cardeais vivem em completo isolamento, não podem sair do Vaticano, nem ter acesso a rádios, TVs, jornais ou qualquer tipo de comunicação externa. Apenas médicos, equipe de limpeza e padres confessores podem entrar em seus aposentos. Todos juram manter absoluto sigilo sobre o processo.
Nas pausas entre as votações, os cardeais discutem as qualidades dos possíveis candidatos, embora não possam fazer campanha abertamente.
Duas vezes ao dia, as cédulas de votação são queimadas, e a fumaça que sai da chaminé da Capela Sistina revela ao mundo o andamento do Conclave. A fumaça preta indica que ainda não há consenso, a fumaça branca, por sua vez, sinaliza que um novo papa foi escolhido.
Quando acontecerá o conclave?
O Conclave começará no dia 7 de maio, conforme anunciou o Vaticano nesta segunda-feira (28). A decisão foi tomada durante uma reunião a portas fechadas, conhecida como Congregação Geral, que durou cerca de três horas e meia.
Essa foi a quinta congregação realizada desde a morte do papa Francisco, e contou com a presença de aproximadamente 180 cardeais. No entanto, segundo informações oficiais, pouco mais de 100 deles estão aptos a participar da votação, já que o direito ao voto é restrito a cardeais com menos de 80 anos.
Nomes mais citados como possíveis sucessores de Francisco:
- Angelo Scola, italiano, 83 anos;
- Fridolin Ambongo Besungu, congolês, 65 anos;
- Luis Antonio Gokim Tagle, filipino, 67 anos;
- Peter Erdo, húngaro, 72 anos;
- Peter Kodwo Appiah Turkson, ganês, 76 anos;
- Pietro Parolin, italiano, 70 anos;
- Pierbattista Pizzaballa, italiano, 60 anos;
- Marc Ouellet, canadense, 80 anos;
- Michael Czerny, canadense, 78 anos;
- Reinhard Marx, alemão, 71 anos;
- Robert Prevost, americano, 69 anos;
- Robert Sarah, guineense, 79 anos.
Despedida do Papa
Na segunda-feira (21) o papa Francisco, Jorge Mario Bergoglio, morreu aos 88 anos. Ele foi o primeiro papa sul-americano e jesuíta da história da Igreja Católica e ocupou o cargo por 12 anos. O Vaticano ainda não confirmou detalhes ou as causas da morte do pontífice.
As cerimônias fúnebres do papa Francisco tiveram início horas depois que a sua morte foi anunciada. Às 14h (horário de Brasília), uma missa de sufrágio na Basílica de São João de Latrão foi presidida pelo cardeal Baldo Reina. Em seguida, o camerlengo Farrell conduziu os ritos de constatação da morte do corpo no caixão, na Capela de Santa Marta. Ambos os momentos seguem os tradicionais ritos fúnebres da Igreja Católica.