Com confusões nos calendários, o dia 30 do segundo mês existiu mais de uma vez.
Paula Orling
Todos sabemos que o mês de fevereiro tem 28 dias, 29 quando damos a sorte do calendário mais comprido no ano bissexto, mas você sabe que o dia 30 de fevereiro já existiu? Mais absurdo do que isso, esta data existiu três vezes.
Eu vou te contar o porquê destes dias 30 terem existido, mas, antes, vamos por partes. Antes de tudo, é importante lembrarmos que estamos inseridos em uma sociedade que segue o calendário gregoriano.
Este é um calendário solar, que separa o tempo com base nas estações do ano. Ele foi criado na Europa em 1582, por iniciativa do papa Gregório XIII. Antigamente, no entanto, o Império Romano utilizava o calendário romano. Este era um calendário lunar, baseado nas fases da lua. Neste sistema, alguns meses duravam 29 dias, outros, 30.
Além disso, o ano contava com apenas 10 meses, de março a dezembro, e 304 dias. Os 61 dias eram um “vácuo temporal” durante o inverno. Eles não pertenciam a mês nenhum. Dá para acreditar que isso já aconteceu?
A mudança do calendário romano
Ainda na civilização romana, o calendário passou por uma série de mudanças em 700 a.C. Nesta época, os meses de janeiro e fevereiro foram adicionados, incluindo os dias de inverno na contagem. Alguns dos meses tinham 31 dias, outros apenas 29. O mês de fevereiro ficou com apenas 28 para fechar o número de 355.
Eu sei o que você está pensando: “mas o ano tem 365 dias”. Sim! Hoje, os equipamentos astronômicos são precisos. É fácil de detectar que 365 dias é mais ou menos o tempo que a Terra demora para dar uma volta em torno do Sol. No passado, a contagem era muito mais difícil. Por isso os antigos observavam o fenômeno mais fácil de contabilizar, as 12 fases da lua, que completam 354 dias, arredondados para 355.
Agora pense que loucura era essa organização. Ao longo dos anos a data caía em estações diferentes. Eu nasci na primavera, mas, depois de alguns anos, meu aniversário seria no inverno. Incomodado com esta situação, um líder político do 1º século a.C. decidiu inovar o calendário novamente. Nesta época entendia-se que um ano, na verdade, durava 365,25 dias.
Estou falando de Júlio César. Ele determinou os anos bissextos. Seriam três anos com 365 dias e o quarto teria 366, dia 29 de fevereiro. Além disso, trocou o nome do sexto mês para “julho” (na grafia portuguesa) em homenagem a si mesmo.
Acontece que um erro crasso foi cometido na época. Na verdade, o ano não tem 365,25 dias, mas 365,2422 dias. 1.500 anos depois, o errinho virou um errozão. No final das contas, o ano estava 10 dias atrasado. Foi o papa Gregório XIII que instaurou o sistema que usamos hoje. Só que para isso dar certo, ele aboliu 10 dias do ano de 1582.
O dia 30 de fevereiro
Acontece que nem todos os países aceitaram perder 10 dias do ano. Um destes lugares foi a Suécia. Eles decidiram em 1700, quando decidiram adotar o calendário gregoriano, que não teriam ano bissexto até 1740. Assim corrigiram o calendário pouco a pouco.
A grande loucura é que os suecos ignoraram o ano bissexto em 1700. Depois de 12 anos não se encaixando em nenhum dos dois calendários, eles decidiram compensar o dia faltante com um dia a mais no ano que já seria bissexto em 1712 e voltar para o calendário juliano. Este foi o dia 30 de fevereiro de 1712! Apenas em 1753 eles finalmente conseguiram migrar pro gregoriano.
30 de fevereiro na União Soviética
A Suécia não foi o único lugar a ficar confuso com as datas. Em 1929, a URSS teve um “surto coletivo”, que, na verdade, era uma estratégia política. Decidiu-se criar um novo calendário, em que as semanas tivessem apenas cinco dias, com o objetivo de aumentar as jornadas trabalhistas.
O grande problema foi que cinco ou seis dias sobravam na contagem de semanas de cinco dias e meses de 30 dias. Por isso, lá, 1930 e 1931 tiveram o dia 30 de fevereiro. É claro que esta contagem do tempo era totalmente adversa e acabou sendo abolida posteriormente, em 1940.