Apesar do número ainda alto, ausência paterna tem índices de queda.
Príscilla Melo
Cerca de 20 mil crianças foram registradas apenas pelas mães entre 2024 e 2025, de acordo com a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil). Dados do Portal da Transparência de Registro Civil demonstram que esse número vem caindo nas capitais brasileiras.
O registro de nascimento pode ser feito apenas pela mãe quando o pai se recusa a realizá-lo. Nesses casos, a responsável pode indicar o nome do suposto pai ao cartório, que dará início ao processo de reconhecimento judicial de paternidade.
Para a psicóloga Rebeca Resende, nunca teremos uma resposta concreta sobre o porquê tantos homens fogem da responsabilidade de ser pai. Alguns evitam o reconhecimento por medo da responsabilidade financeira, outros por rupturas no relacionamento com a mãe, que nem sempre se encerram de forma saudável e amistosa, ou mesmo por despreparo e imaturidade afetiva ou emocional. ‘‘A verdade é que vivemos em uma sociedade que se construiu de maneira a priorizar o desejo e o prazer em detrimento da responsabilidade’’, destaca.
A socióloga Renata Souza, faz uma comparação entre como o meio social vê a função de pai e de mãe. Observando que quando crianças e adolescentes têm condutas consideradas erradas, nossa sociedade não hesita em perguntar onde está a mãe.
Isso ocorre porque ‘‘naturalizamos que a responsabilidade do cuidado com os filhos é exclusivamente feminina’’. Se uma mulher abandona o filho, é julgada nos tribunais da opinião pública e da Vara de Família. Mas ‘‘aos homens é dado o direito de viver suas vidas longe dos filhos, sem nenhum tipo de responsabilidade, preocupação e até sem culpa’’, completa Renata.
Apoio a mães solo
No dia 13 de agosto, a Comissão de Direitos Humanos validou sugestão apresentada pela senadora Jussara Lima (PSD-PI) ao Poder Executivo. A parlamentar propõe a criação de um projeto social voltado para as mães solo inscritas no CadÚnico, em que se exigiria pagamento em dobro do benefício para essas mulheres.
Segundo estudos da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, três a cada quatro crianças cadastradas no CadÚnico vem de famílias monoparentais, que são aquelas compostas por um único progenitor, nos quais 73% são compostas apenas pela figura feminina. Resende explica como essas mulheres são mentalmente afetadas por essa situação ao ‘‘assumirem sozinhas responsabilidades que deveriam ser compartilhadas’’.
Essas mães precisam cuidar, sustentar e educar sozinhas, muitas vezes em meio a jornadas de trabalho longas e exaustivas, com pouca ou nenhuma rede de apoio. Isso gera estresse, cansaço, culpa, medo e até sentimentos de solidão e impotência, e não raramente experienciam fragilidade na identificação como figura feminina, já que ser mãe solo envolve 100% do seu tempo e comprometimento. ‘‘Mas muitas mulheres encontram força, autonomia e propósito, sendo capazes de construir redes de apoio com familiares e amigos e se tornarem exemplos de resiliência e orgulho para os filhos’’, afirma a psicóloga.
Avanços nas capitais brasileiras
De acordo com dados do Portal da Transparência de Registro Cívil, o Brasil vem tendo uma queda no número de crianças sem registro paterno nos últimos anos. Se observa este avanço positivo através das regiões do país, a partir do recorte do dia dos pais entre 2021 e 2025.
A região norte caiu de 28.563 para 18.629, a região nordeste de 52.467 para 35.877, a região centro-oeste de 13.255 para 10.805, a região sudeste de 54.983 para 42.226 e a região sul de 17.170 para 13.809.



