A OMS e a Academia Americana de Pediatria emitiram diretrizes que recomendam a limitação de telas para crianças de 2 a 5 anos.
Camylla Silva
Seja assistindo televisão, jogando videogame ou usando celulares e tablets. Falar de excesso de telas é uma realidade que atinge milhares de crianças e adolescentes. Segundo um novo estudo publicado no The Journal of the American Medical Association Pediatrics, crianças de 1 ano expostas a mais de quatro horas de tela por dia apresentam atrasos no desenvolvimento, habilidades de comunicação e resolução de problemas dos 2 aos 4 anos de idade.
A pesquisa também mostrou que crianças de 1 ano que foram expostas a mais tempo de tela que outras apresentaram atrasos aos 2 anos no desenvolvimento de habilidades motoras, pessoais e sociais. Mas esses atrasos pareciam se dissipar aos 4 anos de idade.
Para garantir que as crianças pratiquem atividade física e sono adequado, a Organização Mundial da Saúde e a Academia Americana de Pediatria emitiram diretrizes que recomendam limitar o tempo de tela, incluindo 1 hora por dia para crianças entre 2 a 5 anos.
No entanto, uma meta-análise recente relatou que apenas uma pequena proporção de crianças cumpre estas diretrizes. Além disso, o tempo de tela das crianças aumentou nos últimos anos devido à rápida disseminação dos dispositivos digitais e à pandemia de COVID-19.
As pesquisas conduzidas por estudiosos no Japão se baseiam na análise de questionários aplicados a quase 8 mil pais de crianças. Somente 4% dos bebês foram expostos a telas por quatro ou mais horas por dia, enquanto 18% foram examinados duas a menos de quatro horas de tela por dia e a maioria durante menos de duas horas.
Em geral, o estudo mostrou que crianças com maior tempo de tela nascem de mães jovens e de primeira viagem, com menor renda e escolaridade e sofrem de depressão pós-parto.
Real ou virtual?
Segundo Iuri Victor Capelatto, psicólogo especialista em neuropsicologia aplicada à neurologia infantil, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), os bebês nascem com imaturidade neurológica para compreender totalmente as informações do meio. Para seu desenvolvimento, eles necessitam de estímulos sensoriais e afetivos, além da segurança física e emocional.
“Eles ainda não têm maturidade para compreender o mundo virtual, recebendo as informações das telas (celular, tablets, computadores, televisores etc.), como se fossem reais, não sabendo discernir o real do virtual, gerando uma perda da noção de realidade”, enfatiza o psicólogo.
Catherine Cavalcante, mãe de dois filhos com idades entre dois e sete anos, apresentou preocupação ao relatar que ficou desconfortável após sua mãe deixar a filha de quatro meses exposta à TV. “Depois que eu olhei para minha filha (mais nova) estática sem expressão nenhuma na frente da televisão aquilo me incomodou muito porque eu chamava várias vezes e ela não me olhava”, revela.
Apreensiva, Catherine buscou informações em sites que abordam o tema e pesquisas sobre os impactos das telas para crianças. “Eu fiquei apavorada com isso e procurei saber mais na internet, com pesquisas atrás de pesquisas, e no fim encontrei dicas que me auxiliaram a cuidar quanto ao perigo das telas, domínio das tecnologias e aos limites”, destacou.
De acordo com a pediatra Camila Chevis, do Instituto Glia focado em neurologia e desenvolvimento, o uso de dispositivos digitais por crianças e adolescentes atualmente é uma realidade difícil de ser modificada e é preciso ter muito cuidado. “Crianças menores de 2 anos devem evitar ao máximo essa exposição uma vez que traz mais riscos do que benefícios”, acrescenta. “Atividade física e tarefas de casa devem ser priorizadas, assim como o tempo junto com os filhos é o melhor substituto das telas”, aconselha a pediatra.
Iuri também alerta que “a necessidade de dar telas para as crianças é mais uma angústia dos pais do que uma necessidade real da infância. Então, sempre que puderem, participem das atividades, brinquem e aproveitem o tempo que passa rápido”, finaliza.