Especialistas explicam se o consumo de bebida alcoólica desperta a vontade de fumar.
Estefany Antunes
Um estudo publicado no periódico Journal of the American Medical Association, em 2011, mostrou que fumantes que ingerem álcool têm 60% mais chances de fumar um cigarro nas 24 horas seguintes do que aqueles que não ingeriram álcool.
A dúvida que fica é: o consumo de bebida alcoólica pode despertar a vontade de fumar em tabagistas ou ex-fumantes? Essa associação é bem conhecida e documentada pela ciência. Os resultados da pesquisa apontam para a importância dos processos de recompensa e incentivo no uso contínuo de drogas e sugerem que o álcool intensifica os relatos em tempo real das consequências motivacionais do tabagismo mais fortemente do que o tabagismo afeta as avaliações correspondentes dos efeitos do álcool.
Segundo o Dr. Vinicius Fernandes, existem duas principais explicações para esse fenômeno. A primeira seria a explicação química. O álcool afeta o sistema nervoso central, aumentando a liberação de dopamina, um neurotransmissor associado ao prazer e à recompensa. Essa liberação de dopamina pode aumentar a vontade de fumar, pois o cigarro também libera dopamina.
A segunda explicação são os fatores sociais. Em momentos de socialização, usar as duas substâncias é comum em shows, festas e bares. Essas associações podem levar a um condicionamento pavloviano, no qual o álcool passa a ser um gatilho para a vontade de fumar.
“Há muitas pessoas que comentam, nossa, se eu não fumar eu fico louco. Ou seja, é um escape. Como não tem um acompanhamento terapêutico, como não tem um escape de um antidepressivo, como não tem um grupo de ajuda, acaba achando como amigo, entre aspas, o cigarro e o ato de fumar”, comenta o Dr. Dirceu Mello.
O vício como válvula de escape para o estresse
De acordo com o Dr. Vinícius Fernandes, em situação de estresse, o corpo tende a liberar hormônios como o cortisol e a adrenalina. Esses hormônios podem causar uma série de sintomas físicos e emocionais, como ansiedade, insônia, irritabilidade e dificuldade de concentração.
O álcool e o cigarro atuam no sistema nervoso central, alterando a produção de neurotransmissores, como dopamina, serotonina e endorfinas. Esses neurotransmissores estão envolvidos no controle do humor, do estresse e da dor. No curto prazo, o álcool e o cigarro podem aliviar os sintomas do estresse, proporcionando uma sensação de relaxamento e bem-estar.
No entanto, a longo prazo, eles podem causar uma série de problemas de saúde, incluindo dependência, doenças cardíacas, câncer e doenças pulmonares. Dessa forma, mesmo que inicialmente de forma consciente a pessoa esteja utilizando as substâncias nesse intuito, no longo prazo a tendência é de maiores riscos ao se comparar com possíveis benefícios.
Tratamentos
Usar essas substâncias como válvula de escape para lidar com os sentimentos pode ser perigoso. O consumo de álcool e cigarro pode contribuir para os riscos de saúde, como doenças pulmonares causadas pelo uso do cigarro. Existem alguns tipos de tratamentos que podem ser executados para que isso não ocorra.
“São muitas as opções de tratamento, dependendo do estado que você se encontra e do grau de dependência química que você tem. Para o tabaco indica-se terapia de grupo, há opções como chicletes e adesivos de nicotina”, informa o Dr. Dirceu Mello.
“Existem também algumas alternativas de tratamentos farmacológicos adjuntos no intuito de auxiliar no craving/abstinência e até no comportamento impulsivo se necessário pensando no auxílio na cessação aguda”, relata o Dr. Vinicius Fernandes.