O país é o sexto maior produtor de cacau no mundo.
Gabrielle Venceslau
O chocolate é uma das iguarias mais amadas em todo o mundo, mas nem todos conhecem a jornada que leva o cacaueiro, cientificamente conhecido como Theobroma cacao, até as barras vendidas nas lojas. Originário da América Central e do Sul, a espécie encontrou no Brasil um ambiente propício para se desenvolver.
O Brasil é o sexto maior produtor de cacau no mundo, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2022, a produção alcançou 273 mil toneladas. Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o país pretende atingir a meta de 300 mil toneladas até 2025.
Os estados da Bahia e Pará desempenham um papel crucial nesse cenário, sendo responsáveis por cerca de 95% da produção nacional de cacau. A riqueza dessas regiões em recursos naturais e condições climáticas favoráveis contribui para o sucesso da indústria cacaueira brasileira.
Como é a produção
O cultivo do cacau se dá de forma sustentável em plantações integradas a áreas florestais. Após a colheita manual, os frutos são abertos para extrair as sementes, que passam por um processo de fermentação para remover resíduos da polpa e reduzir a acidez. As sementes são secas ao sol, classificadas e enviadas aos fabricantes de chocolate. Além disso, também aproveita-se o fruto em diversos produtos como sucos, manteiga e licores.
Esse processo de produção enfrenta desafios relacionados à obra no campo, como compra e manutenção de maquinários e assistência técnica, para ter capital de giro. “Tem vários produtores que ainda não conseguem acessar ou têm dificuldade em acessar crédito para investimentos na sua produção”, afirma Cristiano Villela Dias, Diretor Científico do Centro de Inovação do Cacau (CIC).
A fundadora da Priscila França Chocolates, Priscila França, explica que há uma diferença no processo de produção de um cacau commodity – aquele utilizado pela indústria e o cacau fino – artesanalmente fabricado. “A indústria hoje de chocolate usa um cacau que foi simplesmente colhido e seco, não há fermentação […], se o cacau estava ruim ou bom, isso pra eles independe, porque vão encher o chocolate de essência, açúcar e aromatizante”, explica.
Priscila, que já ganhou “Melhor Chocolate do Brasil” pelo Prêmio CNA 2021 e duas vezes ouro no “Alliance Awards”, afirma que o que garante a qualidade do cacau fino é justamente o processo de colheita, fermentação, secagem e protocolo de torra adequado, negligenciado pela maioria das indústrias.
Perspectiva econômica futura
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab), o Brasil está entre os maiores produtores e exportadores de cacau e seus derivados. Somente no primeiro trimestre de 2023, o país exportou 11 mil toneladas de cacau. É possível atribuir o destaque internacional ao sistema “tree to bar”. Nele, todas as etapas da cadeia produtiva são realizadas em solo nacional, desde o cultivo até a embalagem, aproveitando o clima favorável do país para a produção do cacau.
A adesão a esse novo sistema acontece pois as pessoas começaram a questionar os meios de fabricação de produtos industrializados. “A gente não sabe se [o produto] veio de uma mão de obra explorada. Se a pessoa está recebendo o valor justo, como que essa cadeia produtiva está funcionando. Então, as pessoas hoje primam muito por transparência”, comenta Priscila, que após morar na França, desenvolveu uma curiosidade sobre o processo do chocolate.
O Diretor Científico do Centro de Inovação do Cacau explica que a indústria está vivendo um momento de alta no preço e de fomento a novas áreas. Por isso, tem trabalhado muito na questão da tendência de um cacau de qualidade como estratégia de valorização. Isso acontece para a agregação de valor para o produtor e melhoria da reputação do cacau brasileiro.
Importância do Dia do Cacau
No final da década de 80, o Brasil sofreu com uma praga que dizimou a produção de cacau. Após muitos anos, o país conseguiu reestruturar essa indústria, que hoje quer valorizar mais a qualidade em detrimento da quantidade. “Às vezes muitas pessoas não sabem que o dia 26 de março é o Dia do Cacau, e esse dia deve ser comemorado, principalmente por nós, brasileiros, que passamos por tantas questões sociais e econômicas”, afirma a chocolate maker.
Para o Centro de Inovação do Cacau, esta data representa a paixão pelo fruto. “O CIC existe para transformar essa cadeia num modelo mais justo, mais ético e mais sustentável. O nosso foco é valorizar o cacau brasileiro, o produtor que faz um trabalho de qualidade, também trabalhar na nossa reputação em termos de sustentabilidade e de qualidade”, ressalta.
Não há uma data oficialmente reconhecida pela legislação brasileira como o Dia do Cacau. Mesmo assim, a população informalmente reconhece o dia 26 de março para celebrar este fruto. Esta data não só ressalta a riqueza e a diversidade do cacau. Ela também oferece uma oportunidade para refletir sobre o papel dele na economia brasileira. Também é um momento para considerar medidas que possam proteger e promover o cultivo de cacaueiros no país. Deste modo, é possível garantir sua sustentabilidade e contribuição contínua para o desenvolvimento econômico e social.