Pais com características semelhantes tem influenciado no desenvolvimento mental dos filhos e especialistas abordam como superar os efeitos.
Fernanda Reis
Já enfrentou uma situação difícil e atribuiu sua reação ao modo pelo qual você foi criado por seus pais? A chamada “criação tóxica” tem sido um dos principais motivos para a busca por auxílio psicológico, segundo especialistas. Os padrões de comportamento adotados por pais com características semelhantes têm exercido uma influência significativa no futuro dos filhos.
A psicóloga argentina Camila Saraco, notou que os casos que mais chegavam ao seu consultório eram de pessoas em que problemas familiares estavam ligados à procura de tratamento. O relato dos pacientes sempre remetia aos pais, classificando-os como abusivos, manipuladores, controladores e negligentes.
O que são pais tóxicos?
Para a psicóloga Adriana Reis, pai ou mãe tóxicos são aqueles que causam danos à saúde mental dos filhos, pode ser de maneira proposital ou involuntária, pode vir através das falas, atitudes e outras formas de externar crenças negativas. “Adultos mal resolvidos, podem sim, ser abusivos com seus filhos. Às vezes podem até ser em forma de uma superproteção, mas não deixa de ser uma relação tóxica”, afirma.
Para a especialista, o desenvolvimento emocional está intimamente relacionado à presença ou não de pais que são abusivos, não necessariamente o abuso físico de uma criança, mas agressões verbais e emocionais. A comparação desnecessária também seria um tipo de atitude na criação tóxica. “Pais controladores, querendo evitar qualquer sofrimento ou frustração, que negligenciam as necessidades físicas, emocionais, sociais e acadêmicas dos filhos que são manipuladores, fazem com que o filho faça tudo conforme sua vontade, sem ter motivos”, diz.
O que dizem os filhos?
Para o estudante Kali Neves, seus pais são extremamente controladores. A relação com os genitores nunca foi boa, os altos e baixos indicam uma criação tóxica. “Agora eu gosto de você, agora não mais. Eu só gosto de você se você fizer o que eu quero, dizem os pais. Até hoje tenho a sensação de que todo mundo vai me largar”, afirma.
A criação que Kali teve influenciou intimamente nas suas relações e escolhas. Hoje ele relembra que perdeu amigos por querer ter uma relação boa com os pais e vive a mercê de ansiedades e cobranças.
A servidora pública Simone Alencar, contempla o ato muitas vezes involuntário do seu pai, desde a negligência emocional ao abuso verbal. “Ele sempre foi mais ‘durão’, acredito que pela sua criação, sempre muito tradicional, interferia até mesmo no corte do meu cabelo, mas mesmo assim foi difícil para mim sendo criança ainda”, explica.
Como lidar e evitar a criação tóxica?
De acordo com Adriana Reis, é possível lidar com esse comportamento. “Os pais precisam ter tempo para olhar para si e ver questões que precisam ser avaliadas, como instabilidade emocional, perda de razão com facilidade, dependência dos filhos, ansiedade com paranoias na criação da criança e insegurança, emoções autodestrutivas, prejuízo na comunicação, entre outros pontos”, garante.
Se você cresceu com pais permissivos e superprotetores, a especialista assegura que o ideal é tomar a decisão de sair dessa superproteção. “Não tem como argumentar com eles, nem entender como eles pensam, porque eles têm outra forma de ver as coisas, e você deve evitar entrar em discussões que não levam a lugar nenhum. É necessário aprender a estabelecer limites emocionais e físicos, trabalhar a autoestima e segurança para não ceder às manipulações e não hesitar naqueles momentos em que as frases desses pais podem nos intimidar ou desestabilizar”, finaliza.