1 em cada 6 meninas menores de 18 anos já sofreram violência sexual no país.
Luisa Oliveira Firmino
O Anuário de Segurança Pública, divulgado em julho pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, destacou o crescimento crítico do número de violência sexual infantil, estrupo vulnerável (vítimas menores de 14 anos) e abuso, que se refere a qualquer ato de contato físico indesejado. Em maio, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) publicou, no documento Atlas da Violência, dados de violência pública nos últimos dois anos, que corroboram esse crescimento.
Mais de oitenta e quatro mil crianças sofreram algum tipo de violência sexual em 2024. Na maior parte dos casos, os crimes acontecem dentro de casa por pessoas próximas à vítima e, em 87% das vezes, as vítimas são meninas menores de dezessete anos.
Um crescimento preocupante nas denúncias on-line
A partir do ano de 2022, o Brasil começou a crescer no ranking de denúncias online sobre o abuso sexual infantil. Ele estava na 27° posição, e atualmente se encontra na 5°, estando respectivamente atrás da Bulgária, Reino Unido, Holanda e Alemanha.
Os relatórios não demonstram apenas um aumento nos crimes, mas um maior acesso a plataformas de denúncia, que incentivam as vítimas a falarem. Campanhas e vídeos de conscientização sobre a adultização e a violência digital nas plataformas de comunicação social também são responsáveis por esse aumento nas denúncias.
De acordo com a psicóloga e pedagoga Lucienne Dornelles, o número real de casos pode ser bem maior.
“A criança fica muito vulnerável quando isso acontece, e a tendência é se fechar, além do medo de não acreditarem que ela está falando a verdade”, diz a especialista.
Esse silêncio, de acordo com a especialista, impede a vítima de se abrir e pedir ajuda para denunciar a violência sofrida.
Consequências da violência sexual na vida da criança
Segundo a psicóloga, vítimas de violência têm maior chance de possuir distúrbios cognitivos, como dificuldade de concentração e aprendizagem, sentimento de inadequação e desinteresse acadêmico e em determinados casos, ocorre a evasão escolar.
Distúrbios emocionais também têm grande probabilidade de ocorrer com a vitima de violência sexual. Podem apresentar insegurança, medo e desconfiança, além de vigilância excessiva, isolamento social, depressão, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), pesadelos, tristeza, crises de choro ou agressividade.

Dornelles também explica que, quando adulta, é de grande possibilidade que a vítima tenha depressão, ansiedade, isolamento e pensamentos suicidas, uso de drogas ilícitas e comportamento sexual inadequado, se não for tratada corretamente durante a infância.
Proteção e prevenção contra a violência sexual infantil
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) garante que, após a realização de uma denúncia, ela seja encaminhada para os órgãos responsáveis pela proteção infantil, como o Conselho Tutelar ou a Delegacia da Infância e Juventude, que oferecem proteção física e psicológica à vítima.
Se o agressor for de laço familiar e viverem juntos, a criança recebe sua medida de afastamento do agressor.
As denúncias on-line podem ser feitas de maneira anônima pelo Disque 100 on-line e o Aplicativo Direitos Humanos Brasil, disponível para Android e iOS .