O estudo do Cebrap e Amobitec analisou informações fornecidas pelas empresas iFood, Uber, 99 e Zé Delivery.
Lana Bianchessi
Segundo levantamento do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e da Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), existem atualmente 1.660.023 pessoas trabalhando como entregadores ou motoristas de aplicativo no Brasil.
O estudo utilizou dados fornecidos pelas empresas iFood, Uber, 99 e Zé Delivery, e entrevistou mais de três mil trabalhadores dessas categorias. Informações sobre faixa etária, sexo, raça e escolaridade dos entrevistados foram coletadas. Essas informações possibilitaram mapear o perfil da maioria dos motoristas ou entregadores de aplicativos.
Realidade dos motoristas de aplicativo
Alguns dados dos entrevistados: a idade média dos motoristas é de 39 anos e 60% deles têm Ensino Médio completo. 62% dos motoristas são pretos ou pardos; 35% são brancos; 3% são amarelos e 1% é indígena. Apenas 5% dos trabalhadores desta categoria são mulheres. Os motoristas de aplicativo trabalham, em média, de 22 a 31 horas semanais.
Ernesto Pina, de 44 anos, é Uber há mais de 4 anos e conta que no Uber ele trabalha em média doze horas por dia. “As vezes eu trabalho menos, depende de como está o dia de trabalho. Às vezes também passa de doze horas, mas a média mesmo são doze”, conta o motorista.
Benefícios e malefícios do trabalho
Trabalhar por meio de corridas e aplicativos pode ter suas complicações diversas, como lidar com pessoas diferentes o dia inteiro e muitas vezes não receber a quantidade necessária para suprir o valor dos gastos usados.
O motorista relata que o único benefício que ele consegue enxergar hoje em dia é a flexibilidade do horário. “Se acontece algum problema que eu tenho que resolver de forma imediata, eu consigo dar um jeito de estar no local para resolver, coisa que com trabalho formal eu teria que pedir autorização. Fora esse fator, eu hoje não encontro mais nada de benefício”, explica.
Antigamente, quando ele começou, existiam vários benefícios que hoje já não são assim considerados, como o faturamento. “Eu conseguia fazer bem o trabalho, o faturamento era bom, então conseguia dar um lazer melhor para minha família e não ficar dependendo de muito de cartão pra comprar as coisas. Mas em tese, hoje em dia é só a questão da flexibilidade de horário mesmo”, desabafa.
Outro fator negativo são as condições físicas que esse tipo de trabalho submete o indivíduo. Ernesto fala sobre trabalhar sentado o dia inteiro e com isso ter problemas da parte óssea, como a coluna que dói bastante ou às vezes na qual as pernas tremem ou ficam dormentes por ficar horas e horas sentado.
“Para ir ao banheiro também é difícil. Você não faz um exercício físico por ficar só dirigindo, a não ser que você termine um horário, mas aí você não fatura. Fora o estresse que é muito grande por causa do trânsito, por causa de levar em segurança o passageiro ao local de destino e a insegurança da violência”, expressa o motorista.
Vale a pena o emprego?
O número de entregadores e motoristas de aplicativo podem ter aumentado, mas a qualidade de vida talvez não seja a mais apropriada. O trabalhador brasileiro segue em busca da jornada de conseguir o pão de cada dia e o sustento da família.
Ernesto diz que se fosse lá atrás, quando ele começou a trabalhar com isso, diria que valia a pena, porque os ganhos eram bons. Mas hoje, para chegar na metade do valor que ele recebia antes por mês, tem que suar muito a camisa. “Hoje em dia você não consegue pagar um plano de saúde direito ou um plano dentário, aí sim eu vejo que o trabalho como CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), dependendo do empregador, pode te fornecer isso com mais facilidade do que o trabalho formal de motorista de aplicativo”, relata ele.