Nobel de literatura mostra a influência dos livros internacionais na estante dos leitores brasileiros

In Cultura, Educação

A presença da literatura nas redes sociais desperta novos hábitos e transforma a forma como os jovens se relacionam com os livros.

Príscilla Melo

O Prêmio Nobel de Literatura 2025 foi concedido ao escritor húngaro László Krasznahorkai. O secretário da Academia sueca Mats Malm, descreveu a obra do autor como ‘‘convincente e visionária que, em meio ao terror apocalíptico, reafirma o poder da arte’’. O escritor foi escolhido pelo conjunto da sua obra como um todo e o prêmio recebido é equivalente a 11 milhões de coroas suecas. O anúncio foi feito no dia nove de outubro.

Ao longo dos anos os Estados Unidos se consolidaram como um grande ditador de tendências no cenário mundial. O comércio do entretenimento americano dissipa sua cultura pelo mundo através de propagandas, músicas e cinema. Elementos esses responsáveis por influenciar o que as pessoas vestem, ouvem, pensam e comem. Entretanto, quando o assunto é literatura, o país americano não é o protagonista.

Um passo atrás

O continente europeu carrega uma vasta riqueza literária, a França atualmente acumula um total de 16 prêmios nobéis de literatura, ficando a frente dos Estados Unidos que detém 12, seguido pelo Reino Unido que conquistou 11 nobéis. Confira a lista dos ganhadores do Nobel nos últimos dez anos:

  • 2025: László Krasznahorkai, (Hungria);
  • 2024: Han Kang, (Coreia do Sul);
  • 2023: Jon Fosse, (Noruega);
  • 2022: Annie Ernaux, (França); 
  • 2021: Abdulrazak Gurnah, (Tanzânia);
  • 2020: Louise Gluck, (Estados Unidos);
  • 2019: Peter Handke, (Áustria);
  • 2018: Olga Tokarczuk, (Polônia);
  • 2017: Kazuo Ishiguro, (Reino Unido); 
  • 2016: Bob Dylan, (Estados Unidos). 

Mais que um hobby

O leitor Thiago Vieira, conta que a literatura tem um papel muito importante em sua vida. ‘‘Leio desde pequeno e considero os livros como verdadeiros amigos. Eles estão ao meu lado nos bons e maus momentos, e me ajudam a enxergar o mundo de forma lúcida e crítica’’, destaca.

A professora de literatura Kelly Cominoti, enfatiza que o hábito da leitura exercita o cérebro, expande o vocabulário, aprimora o pensamento crítico, e melhora a concentração e a compreensão textual. A docente ainda salienta que a literatura nos ajuda a formar opiniões com argumentos coerentes e embasados, especialmente em tempos da alta das fake news.

O que está na prateleira dos leitores?

A leitora assídua Suellen Ruiz, diz que costuma ler mais livros internacionais, especialmente os clássicos russos como Dostoiévski, Tolstói, Tchékhov e Gógol. ‘‘O que mais me chama atenção na literatura russa é que eles não têm medo da dor. Eles vão onde quase ninguém tem coragem de ir: culpa, desespero, fé, orgulho e redenção. É uma leitura que te rasga, mas te deixa mais lúcido’’,  ressalta.

A jovem criadora de conteúdo sobre livros Bruna, assim como Suellen, diz ser mais próxima de livros estrangeiros, mas garante que ‘‘existem diversas obras incríveis em diferentes aspectos que precisam ser apreciadas independentemente da nacionalidade’’. Bruna tem um apego pela questão existencial e profunda dos russos e a superação de vida e gótico dos ingleses, principalmente se forem da Era Vitoriana. 

A professora de literatura Patrícia Viana, argumenta que os livros internacionais ampliam o horizonte cultural e nos colocam em diálogo com outras visões de mundo. ‘‘Conhecer autores de diferentes países e épocas é entender que a condição humana, com suas dores, sonhos e dilemas, é universal’’, reitera.

Além disso, ela relembra que obras estrangeiras frequentemente trazem referências históricas, filosóficas e sociais que ajudam a compreender melhor o presente e a projetar futuros possíveis.

O nascimento do Bookgram

Com o uso excessivo e frequente das redes sociais nos dias de hoje, plataformas como o Instagram abriram suas portas e se tornaram espaços para as comunidades literárias. E assim nasceram os Bookgrams ou Bookstagrams, o termo consiste na junção de ‘‘book’’, livro em inglês, e ‘‘Instagram’’, o nome da plataforma. De acordo com a agência publicitária Chatter Blast Media, a hashtag #bookstagram foi utilizada em 119 milhões de publicações na plataforma Instagram, até agosto de 2025. 

O termo surgiu como uma hashtag para que os amantes de livros pudessem compartilhar suas leituras mais recentes e sugerir opções para clubes de leitura. Atualmente, os bookstagram são perfis no qual os usuários compartilham seus livros favoritos, resenhas literárias, criam amizades e incentivam a leitura.

Um novo tipo de conteúdo

A dona do bookgram ‘‘subsolorusso’’ Suellen Ruiz, declara que não lê para fugir da realidade, mas para encará-la de frente. Segundo ela, cada livro ajuda a colocar ordem no caos, entender o que sente e o que as pessoas escondem. Para ela essa é a forma mais honesta de me aproximar da verdade.

Suellen afirma ser curioso possuir uma conta nas redes sobre literatura, pois o Instagram sempre foi visto como um espaço superficial. ‘‘A literatura tem força estética, mas também tem profundidade. Então o perfil virou uma ponte entre o visual e o existencial, entre o clássico e o contemporâneo. Ver tanta gente se encontrando nos textos, comentando e refletindo, é a prova de que o público quer mais verdade’’, aponta.

Thiago Vieira administrador do ‘‘thiago.book’’ comenta que usar o Instagram para compartilhar suas impressões de leitura tem sido uma experiência muito positiva, pois o fez entrar em contato com mais leitores, que viraram amigos. E essa troca de ideias é algo muito valioso para ele.

Já Bruna, administradora da conta ‘‘brunaelivros’’ diz ser desafiador no começo, mas depois é possível sonhar com uma perspectiva de trabalho. ‘‘Hoje em dia, crescendo também no canal do Youtube e com um clube de leitura por assinatura, descobri que as redes sociais são uma vitrine e podem ser muito positivas para continuar agregando essa troca literária e reconhecimento no trabalho que faço’’, atesta.

Saiba mais sobre o ganhador do Nobel

Nascido em 1954, em Gyula, na Hungria, László afirma ter crescido em uma situação difícil, em um país onde ‘‘uma pessoa amaldiçoada com uma sensibilidade estética e moral aguçada como ele simplesmente não consegue sobreviver’’. 

Seu livro mais famoso intitulado ‘‘Sátántangó’’ de 1985, foi a primeira obra publicada por ele na Hungria, a história narra a chegada de um homem misterioso a uma vila rural húngara. Em 1994, Satantango foi adaptado para um filme de sete horas e meia, que carrega o mesmo nome, através do trabalho do cineasta Béla Tarr em parceria com László. Em 2013 o livro venceu o prêmio de melhor romance traduzido para o inglês. 

Esse é o único livro do autor traduzido para o português e está despertando a curiosidade do público brasileiro, após a entrega do Nobel.

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