O acolhimento ao TEA

In Cultura, Geral

A importância de atendimentos especializados para indivíduos com espectro autista e a maternidade de uma mãe atípica. 

Hellen de Freitas

O transtorno do espectro autismo, TEA, é um distúrbio do neurodesenvolvimento, costuma se caracterizar por desenvolvimento atípico, déficits na comunicação e interação social além de padrões comportamentais repetitivos. Tais características podem restringir o interesse para as atividades que eles costumam fazer. 

Por ser um transtorno, necessita de um atendimento mais cuidadoso, visto que qualquer movimento errado desencadeia um desconforto e crises na pessoa que possui o TEA. De acordo com a ONU, no mundo existem mais de 70 milhões de pessoas com o espectro, já no Brasil, estima-se dois milhões de indivíduos.

Atendimento atencioso

Visto a delicadeza do transtorno, alguns cuidados são necessários para fazer um recebimento com proficiência em ambientes que tem uma abordagem mais pessoal, como no dentista ou barbeiro. Brenda Ribeiro é psicóloga especializada em ABA para autismo e outras deficiências intelectuais, e para ela é muito importante ter paciência e compreensão para entender as sensibilidades do paciente/cliente. 

‘’Muitos possuem hipersensibilidade dos sentidos, por exemplo, um dentista que irá usar o motor na consulta, também pode desencadear uma crise por conta do som ou a luz que fica acima na cadeira ou até mesmo pelo toque em muitas crianças. Em suma, o ideal a se fazer quando algo fora da rotina da criança for acontecer, é que os pais/responsáveis e terapeutas trabalhem com ela a ideia dos lugares que serão visitados. Os profissionais que os atenderão devem usar de recursos lúdicos estratégicos para adequar a situação ao paciente e seus limites evitando assim que o momento seja desconfortável’’, declara a profissional.

Felipe Pisom é barbeiro e viralizou em suas redes sociais ao mostrar como lida com clientes, em sua maioria crianças que possuem o espectro autista. Ele demonstra as diferentes formas do transtorno, cada criança com um grau de dificuldade e sua forma estratégica de lidar com isso. 

‘’A ideia foi criar um espaço para crianças em geral, mas dessa forma surgiu naturalmente as crianças com autismo e soube desenvolver um bom trabalho sem tanto sofrimento e com mais velocidade de atendimento que surpreendeu eu e as mães que os acompanhavam’’, declarou Felipe. 

O barbeiro ainda enfatiza que faltam muitos profissionais dispostos a querer atender clientes que possuem TEA, no mercado de barbearia os atuantes, inclusive, fogem de serviços dessa alçada. 

Mãe atípica 

Como funciona o mundo para aquelas que mais acompanham todo o processo, aquelas que escolhem guiar seus filhos? Joice Silveira é enfermeira e é uma mãe atípica, com um filho diagnosticado aos dois anos com o espectro autista, ela viu a sua realidade e de seu filho Nicolas mudar completamente. 

‘’No início tive muita dificuldade para aceitar e passei pelo período de negação. Quem sinalizou o diagnóstico previamente foram os meus pais que ao ver uma novela reparam semelhanças entre o personagem e meu filho. No começo não aceitei mas como mãe sempre senti no fundo que havia algo errado”, conta.

Após o diagnóstico, ir atrás dos recursos foi o próximo passo. Joice conta que foi até Manaus para a AMA, Amigos dos Autistas, de acordo com eles estruturar um serviço voltado ao atendimento da pessoa com autismo e seus familiares, para minimizar e/ou suprir a carência de serviços terapêutico, pedagógico e social voltadas a referida clientela.

A enfermeira conta que foi por carecer de qualquer informação sobre o TEA, disse ainda que os membros da organização ficaram surpresos ao ver uma mãe aceitando o diagnóstico e indo procurar ajuda, algo que a oito anos atrás não era tão comum. 

Sobre a inclusão em geral, para a mãe do Nicolas, é tudo muito fantasioso. De acordo com ela situações como ser xingada na rua já aconteceram. Ela percebeu ao longo dos anos que tentam mascarar e engambelar o atendimento que deveria ser empático. Joice cita que professores já falaram que não eram profissionais para o seu filho e sim a auxiliar que só está presente para intermediar qualquer situação que realmente necessite de sua interferência.

Por medo disso e de qualquer tratamento maldoso de terceiros com o Nicolas no futuro, ela se preocupa e sempre fez questão de ensinar a independência, desfazendo o mito do capacitismo e sua barreira. Ela sabe que os atendimentos especializados são necessários, mas a partir de que momento vira a chave para ele realmente se tornar eficiente? 

A partir de que momento a empatia é realmente verdadeira deixando de ser apenas forjada? Por existir variados questionamentos e preocupações, assim como toda mãe, há aquele ‘’quê’’ a mais. Contudo, vivendo dia após dia, ela aprendeu ao longo dessa caminhada a levar tudo de uma forma mais leve. “Vivo um dia de cada vez, sendo uma mãe atípica, não deposito expectativas no meu filho, vivo o que é e não no que pode vir acontecer’’, declara Joice.

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