Estudo mostra que 93% da população tem contato com Inteligência Artificial, mas apenas 54% sabem sua definição.
Luisa Firmino
Cerca de 93% dos brasileiros usam ou já utilizaram alguma ferramenta de Inteligência Artificial (IA), mas apenas 54% declaram entender o que ela realmente é e significa. Os dados são de uma pesquisa realizada pelo Datafolha em parceria com o Observatório Fundação Itaú.
Segundo especialistas, esse contraste aponta para uma lacuna entre o conhecimento e o uso prático, o que influencia diretamente como a sociedade encara os desafios trazidos por essa tecnologia.
Perfil demográfico dos usuários de IA
A pesquisa entrevistou 2.798 pessoas de 16 anos ou mais em todas as regiões do país, entre os dias 7 e 15 de julho. Os dados mostram que o convívio com o termo “ IA” varia conforme idade, escolaridade e classe econômica.
Entre os jovens de 16 à 24 anos, cerca de 94% afirmam conhecer o termo, mas a porcentagem cai para 69% entre aqueles com 60 anos ou mais.
Outro fator de influência é a escolaridade. Enquanto 97% dos brasileiros com ensino superior já ouviram falar de IA, o índice cai para 91% entre os que têm ensino médio e para 61% entre aqueles com apenas o ensino fundamental.
Quanto às classes sociais, cerca de 94% das pessoas das classes A/B demonstram conhecimento sobre o tema, contra 88% na classe C e 66% nas classes D e E. Já no uso prático, aproximadamente 75% reconhecem a Inteligência Artificial na sua rotina, sendo que 32% afirmam que ela está muito presente, mas apenas 43% utilizam a IA generativa, como criadores de imagem ou chat books.
Esses dados indicam que, embora a tecnologia esteja presente em atividades cotidianas como rotas de GPS, playlists de músicas e feed das redes sociais, a percepção popular ainda entende a IA como máquina ou sistema sofisticado, como um robô.
Compreensão limitada
Segundo o pesquisador e cientista de dados Ilicio Junior, a principal diferença da Inteligência Artificial entre outras tecnologias está na sua capacidade de aprender continuamente com dados. “IAs generativas são pré-treinadas e podem aprender baseadas em linguagem natural, enquanto IAs preditivas podem aprender desde o zero com informações específicas dos usuários”, explica o especialista.
Além disso, o pesquisador explica que a naturalização do uso inconsciente da IA levanta sérios riscos. Ao interagir com os sistemas tecnológicos sem ter noção de sua profundidade e consciência de seus mecanismos, as pessoas se tornam suscetíveis à manipulação de dados, desinformação e impactos na saúde mental dos jovens.
Ilicio complementa que não basta apenas explicar para a população como funciona a IA, é necessário entender como lidar com ela e os seus desafios no cotidiano. Para isso, é necessário uma cultura tecnológica no país, pois, essa tecnologia se baseia 100% em informações que nem sempre são verdadeiras ou que podem estar fora de contexto.
Corrigindo pensamentos equivocados
De acordo com o docente de Engenharia Elétrica no Centro Federal de Educação e Tecnologia (CEFET) José Henrique, o maior equívoco popular sobre a IA está na sua humanização, que atribui a ela pensamentos ou compreensão, mas são características únicas de um ser biológico. O professor explica que isso se dá ao fato da popularização dos LLMs (large language models), como o famoso ChatGPT.
José evidência que a IA é bem mais que os LLMs. Isso acontece porque há técnicas de inteligência artificial aplicadas nas mais diversas áreas como:
- Biologia: predição de estruturas proteicas e redes de regulação gênica;
- Robótica: tomadas de decisão e aprendizado por reforço;
- Construção civil: posicionamento de vigas e treliças e otimização de estruturas;
- Engenharia mecânica: design automático de peças;
- Engenharia elétrica: determinação do melhor ponto de conexão de eólica offshore no Sistema Interligado Nacional e projeto automático de circuitos digitais, dentre outros.
Aplicação imperceptível
Além de assistentes virtuais e redes sociais, a IA está presente em diversas atividades do cotidiano brasileiro que passam despercebidas. Entre elas, o professor cita a análise de dados em solicitações de crédito, como compras de imóveis ou pedidos de cartão, realizada por sistemas de IA.
Outro exemplo é a publicidade direcionada, no qual o sistema observa o comportamento do usuário e indica para ele anúncios de seu agrado. Sistemas de recomendação também utilizam as preferências do indivíduo para entregar conteúdo de seu agrado e o induzir a ficar nas redes sociais.