Por que o PIB do Brasil não avança como o de outros países?

In Economia, Geral

A economia brasileira registra baixo crescimento desde a década de 80.

Príscilla Melo

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 0,4% no segundo trimestre de 2025. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a economia brasileira movimentou cerca de 3,2 trilhões.

Após um acúmulo de 16 trimestres de alta consecutivos, o PIB alcançou o maior nível da série histórica, que teve início em 1996. O resultado mostrou um declínio em relação ao PIB do primeiro trimestre que marcou 1,3%, mas um aumento de 2,2% se comparado com o mesmo período do ano de 2024. Apesar deste percentual estar crescendo, desde os anos 2000 o Brasil está abaixo de países como Chile, Colômbia, Peru, Índia e China. Além disso, a percepção do brasileiro a respeito do crescimento do país é negativa.

Para a economista Beatriz Pimentel, o baixo crescimento econômico brasileiro deriva de uma combinação de fatores estruturais relacionados à armadilha da renda média, pouca produtividade sistêmica, deficiências institucionais crônicas e coordenação inadequada das políticas macroeconômicas. Isso forma um ‘‘círculo vicioso’’ que perpetua o subdesenvolvimento econômico.

Por que as nações fracassam? 

O economista Evaldo Heiderich explorou o tema a partir do ponto de vista do livro “Por que as Nações Fracassam”, de Daron Acemoglu e James Robinson. Segundo ele, os autores defendem que o motor do desenvolvimento é a qualidade das instituições políticas e econômicas. Instituições inclusivas promovem crescimento porque garantem propriedade privada, Estado de Direito, competição e incentivos para inovação. Instituições extrativas, ao contrário, concentram poder e renda em grupos específicos, o que bloqueia inovação e limita o crescimento.

Ele comenta que no caso do Brasil, o país consolidou uma democracia estável, mas mantém traços extrativos fortes, como o clientelismo político, burocracia pesada, captura do Estado por grupos de interesse e baixa segurança jurídica. ‘‘Isso gera insegurança para investimentos de longo prazo, perpetua a desigualdade e trava a produtividade. O ciclo extrativo se reforça porque elites econômicas e políticas conseguem preservar privilégios em vez de abrir espaço para maior inclusão’’, enfatiza.

A riqueza e a pobreza das nações

Ao observar o cenário sob a ótica do livro ‘‘A Riqueza e a Pobreza das Nações’’ de David Landes, Evaldo Heiderich conclui que o autor enfatiza fatores culturais, históricos e geográficos. Sobre o tema da cultura e valores, destaca que ‘‘sociedades que cultivam disciplina, confiança, educação técnica e trabalho produtivo tendem a prosperar’’. No Brasil, há déficits persistentes de capital humano, como a baixa qualidade educacional, baixa produtividade da mão de obra e mentalidade de curto prazo. 

Em relação a geografia, embora o país tenha recursos naturais abundantes, existe a chamada “maldição dos recursos”, que é a dependência de commodities, volatilidade macroeconômica e menos incentivo à diversificação produtiva. 

Raízes históricas da estagnação

A economista Beatriz Pimentel, explica que a compreensão do baixo crescimento brasileiro contemporâneo deve partir da análise da década de 80, período que marcou uma ruptura estrutural na trajetória de desenvolvimento do país. Durante esse período, denominado “década perdida”, o Brasil enfrentou uma junção de choques externos e fragilidades internas que estabeleceram as bases da persistente semi-estagnação posterior. 

‘‘A crise da dívida externa, que elevou o endividamento de US$ 17,2 bilhões para US$ 65,7 bilhões entre 1977 e 1983, combinada com a hiperinflação descontrolada e severa instabilidade política, criou um ambiente de incerteza fundamental que, conforme a análise keynesiana, desestimula sistematicamente as decisões de investimento produtivo’’, explica Beatriz.

A média de crescimento do PIB, que havia sido de 7% nos anos 1970, despencou para apenas 2% na década de 1980, estabelecendo um patamar inferior que se mantém até os dias atuais. ‘‘Esta quebra estrutural evidencia que os problemas brasileiros transcendem flutuações cíclicas normais, configurando-se como um padrão persistente de baixo dinamismo econômico’’, destaca a economista.

Armadilha da renda média

O conceito de armadilha da renda média, desenvolvido pelo Banco Mundial e outros organismos internacionais, oferece um marco teórico fundamental para compreender a situação brasileira. Trata-se de países que alcançaram um nível intermediário de renda per capita (entre US$ 1.136 e US$ 13.845), mas enfrentam barreiras estruturais que dificultam a transição para a condição de alta renda.

A economista Beatriz comenta que o Brasil se encontra nesta condição há décadas, sendo ‘‘incapaz de superar as limitações que impedem a evolução para uma economia baseada em inovação e alta produtividade’’. Para ela,  a análise estruturalista de Celso Furtado fornece visões teóricas cruciais para compreender esta condição. 

‘‘Furtado argumenta que o subdesenvolvimento brasileiro não constitui uma fase transitória do desenvolvimento, mas uma condição específica derivada de uma conexão precisa entre dependência externa e exploração interna’’, aponta.

Esta dependência cultural externa, combinada com estruturas produtivas inadequadas, perpetua um padrão de especialização em setores de baixo valor agregado e impede a diversificação tecnológica necessária para escapar da armadilha. O Brasil representa apenas 0,2% das exportações mundiais de produtos manufaturados, mantendo uma pauta exportadora concentrada em commodities primárias. 

Dessa forma Beatriz Pimentel revela que o baixo crescimento econômico brasileiro, desde a década de 1980, não deriva de causas isoladas ou conjunturais, mas sim de um complexo sistema de fatores estruturais inter-relacionados que se reforçam mutuamente. Isso perpetua um padrão de semi-estagnação econômica.

You may also read!

Falta de acesso à creche afeta famílias brasileiras

Algumas crianças chegam a passar meses na fila de espera. Nátaly Nunes No Brasil, mais de 2 milhões de

Read More...

Câmera do árbitro estreia no Brasil e abre debate sobre impacto no futebol

Tecnologia foi usada pela primeira vez em jogo do Paulistão Feminino e pode chegar ao masculino em 2026. Amanda

Read More...

Denuncias on-line sobre violência sexual infantil crescem no Brasil

1 em cada 6 meninas menores de 18 anos já sofreram violência sexual no país. Luisa Oliveira Firmino  O

Read More...

Leave a reply:

Your email address will not be published.

Mobile Sliding Menu