Número de desemprego entre jovens brasileiros é mais que o dobro da taxa analisada em grupo com mais idades, aponta pesquisa do FGV Ibre.
Nicoly Maia
A permanência por longos anos em uma mesma empresa, o que antes era símbolo de estabilidade e sucesso, está deixando de ser regra para os jovens no mercado de trabalho. A alta rotatividade entre profissionais mais novos se tornou uma situação cada vez mais comum, o que deixa visível as mudanças, tanto nos valores da geração, quanto nas estruturas do próprio mundo corporativo.
Em busca de propósito e do novo
Segundo a psicóloga Belly Passos, esse comportamento tem raízes geracionais. “Essa nova geração vive numa constante busca por novidades, por satisfações imediatas, por experiências que não envolvam tanta ‘castração’, que é um conceito da psicologia ligado à rotina, frustrações e limitações”, explica. Para a especialista, a saúde mental e a vontade de encontrar propósito no trabalho vêm substituindo o velho ideal de crescer dentro da empresa, mesmo que isso implique em maior instabilidade.
Victor Valério, gestor de RH, concorda. Ele destaca que os jovens saem dos empregos muito mais rápido do que as gerações anteriores porque priorizam propósito, aprendizado rápido e qualidade de vida. Fatores como baixa remuneração, ambientes tóxicos, poucas oportunidades de crescimento e falta de flexibilidade aparecem como principais causas de insatisfação.
Por não saberem ao certo qual caminho seguir em sua vida profissional, os jovens acabam por possuir expectativas muito altas, permanecendo nesse embate entre o ideal e a fantasia, explica a psicóloga. Quando se deparam com a realidade da vivência do ofício, surge o estresse.
Impacto nas empresas
Essa mudança de comportamento, no entanto, também afeta diretamente as empresas e o mercado de empregos. A alta rotatividade aumenta os custos com recrutamento e treinamento, reduz a produtividade e pode afetar o clima organizacional. Em resposta, muitas companhias estão se reinventando: aceleram planos de carreira, oferecem benefícios flexíveis, promovem culturas de feedback e abrem espaço para inovação e autonomia, como explica Valério.
Entretanto, para que essa relação seja saudável para ambos os lados, é preciso equilíbrio. “Precisamos aceitar que ainda existem ambientes de trabalho tóxicos e sair desses espaços não é sinônimo de fraqueza”, afirma Belly. Ao mesmo tempo, ela aponta que desenvolver resiliência é necessário, e isso começa com o autoconhecimento. “É importante se perguntar: se eu sair desse emprego, é para me proteger ou para fugir de algo que estou precisando enfrentar?”, enfatiza.
Para reter talentos jovens, Valério acredita que é essencial oferecer mais do que salários competitivos para seus empregos. “As empresas precisam oferecer autonomia, desafios constantes, reconhecimento, oportunidades de crescimento e flexibilidade no trabalho”, afirma. Ele ainda aponta que a tendência de priorizar propósito e bem-estar deve continuar, mesmo que o cenário econômico se torne menos favorável.
“Pessoas seguras de suas atuações tendem a trabalhar melhor. Reconhecer o jovem não só pelo resultado que ele apresenta, mas pela competência e dedicação’’, completa Belly.