Pesquisa aponta que 40% das espécies de insetos estarão sob ameaça de extinção nas próximas décadas.
Sâmilla Oliveira
O estudo da revista Biological Conservation afirma que as principais causas da diminuição da biodiversidade de insetos são a agricultura intensiva com agrotóxicos e fertilizantes, a urbanização e a monocultura. Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e das universidades federais de São Carlos e do Rio Grande do Sul reuniram informações que comprovam a tendência de queda.
O estudo apontou que os insetos têm uma taxa de extinção anual superior a de mamíferos, répteis e aves em até oito vezes. Isso significa que, nesse ritmo, esses animais podem desaparecer em um século.
De acordo com o engenheiro florestal Bruno Moreira, os insetos são alimentos para certos animais, que, por sua vez, servem de alimento para outros. Ele afirma que é isso que mantém o ecossistema em funcionamento. Segundo ele, um exemplo prático de como seria a terra sem os insetos é pensar nas abelhas. Elas são agentes polinizadores, o que significa que elas são responsáveis pela formação de frutos e sementes. Esse processo é importante para a reprodução das plantas, o que influencia diretamente na produção agrícola.
O pesquisador e biólogo Orlando Ritter defende que os insetos desempenham um valor econômico para o ser humano e um valor ambiental para as plantas e animais. Ele comenta que animais como abelhas, vespas e borboletas promovem o equilíbrio da cadeia alimentar. Mamíferos, aves e anfíbios se alimentam e extraem energia deles. “Se eliminássemos os insetos hoje, a cadeia alimentar não se sustentaria. Seria um desastre, um efeito dominó onde os organismos perdem suas fontes de energia”, declara Orlando.
Sem a classe Insecta, o maior grupo de plantas (angiospermas), que são as árvores frutíferas, não teria o grupo responsável pela polinização e reprodução. Além disso, a Agência Brasil também destaca que os insetos são o primeiro passo para a decomposição de matéria orgânica.
Causas e medidas
Segundo o engenheiro florestal, o ser humano interfere na biodiversidade dos insetos há muito tempo. “O desenvolvimento urbano e rural sem planejamento são os principais fatores responsáveis pela diminuição da diversidade de insetos”, completa o profissional.
A primeira causa apontada por Bruno é a fragmentação de habitats. De acordo com Yanna Dias, pesquisadora da UFSCar, isso ocorre quando um habitat no seu tamanho original é dividido em tamanhos menores, geralmente com perda de áreas e isolamento desses fragmentos, transformando a paisagem.
Em segundo lugar, está a monocultura. Conforme explica o engenheiro, essa técnica implica no plantio de apenas uma espécie vegetal em uma grande extensão de terra. Para ele, isso é resultado de um fenômeno denominado “Revolução Verde”, que é a adoção de um sistema de produção tecnológico, que resulta na eliminação dos sistemas naturais.
Bruno sustenta que o ser humano poderia contribuir grandemente para manter o planeta saudável e com alimentos se investisse em um sistema de produção no qual os seres que habitam naquele ambiente fossem minimamente afetados.
O pesquisador Ritter ressalta que, apesar da população não reconhecer a importância dos insetos, sem eles, diversos ecossistemas do planeta simplesmente não funcionariam. Como apontado pela entomologista Erica McAlister, curadora sênior do Museu de História Natural de Londres, “se removermos todos os insetos do mundo, também morreríamos”.
Foto: Jasson de Faria