A falta de recursos financeiros é um dos motivos da baixa qualidade na alimentação escolar e má nutrição.
Cristina Levano
A alimentação adequada e correto aporte nutricional é de fundamental importância no desenvolvimento físico, mental e cognitivo de uma criança. Ainda assim, a má alimentação nas escolas públicas brasileiras é um problema de saúde pública que atinge milhares de crianças e jovens em todo o país.
Manter uma alimentação nutritiva é a base não só na prevenção, mas também no tratamento de doenças. Altos níveis de obesidade, desnutrição, diabetes e outras doenças relacionadas à dieta são uma preocupação constante para o país, educadores e autoridades de saúde.
E a nutrição no Brasil?
A falta de recursos financeiros é um dos motivos da baixa qualidade na alimentação escolar. A nutricionista do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) Ana Paula Görgen explica que “com os custos cada vez maiores, é impossível oferecer uma alimentação de qualidade utilizando o recurso repassado somente pelo governo federal. Isso tem obrigado os municípios a aumentarem o valor que destinam para complementar esse recurso federal repassado”.
Com a dimensão do Brasil, esse repasse pelos municípios varia muito, comprometendo assim que a qualidade seja a mesma em todo o território do país.
Para combater este problema, as autoridades têm implementado várias medidas nas escolas públicas. Uma delas é o Acordo de Cooperação Técnica Interministerial, assinado na primeira semana de abril deste ano para promover alimentação saudável e fortalecer a agricultura familiar nas escolas do país. O acordo tem vigência de 48 meses.
O documento estabelece parcerias entre o FNDE, o MDA, o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome e o Ministério da Saúde, com foco no combate à má nutrição no ambiente escolar.
A perspectiva do governo é a de destinar, ao longo de 2023, R$5,5 bilhões para alimentar cerca de 40 milhões de estudantes da educação básica pública, o que seria um crescimento de 36%. Assim, o Acordo de Cooperação Técnica atenderá às recomendações do Programa Nacional de Alimentação Escolar.
Da mesma maneira, têm sido promovidos programas de educação nutricional junto aos alunos, com o objetivo de promover hábitos alimentares saudáveis desde pequenos. Os alunos recebem informações sobre os benefícios de uma alimentação balanceada e aprendem a identificar os alimentos saudáveis e os que devem ser evitados.
A nutricionista Larissa Mendes, declara que a falta de recurso ainda é limitada, mas em comparação a outros anos, tem melhorado. “Em termo de valor nutricional, tem se encaminhado para cada vez ser melhor, inclusive até melhor do que em casa para algumas crianças. Claro que não vai ser alimentação perfeita, mas é uma alimentação mais in natura, mais alimento, do que industrializado,” afirma Larissa.
Tem-se também trabalhado para melhorar as condições das cozinhas escolares, com o objetivo de garantir que os alimentos sejam preparados e conservados de forma segura e adequada. Padrões de higiene e qualidade foram estabelecidos para a preparação de alimentos, e os trabalhadores da cozinha foram treinados para garantir que atendam aos padrões exigidos.
Requisitos nutricionais
Outra medida importante é a regulamentação da comercialização de alimentos não saudáveis nos estabelecimentos escolares, no qual destaca-se o PNAE, um guia de normas e orientações para uma alimentação saudável e balanceada, com a inclusão de frutas, verduras, legumes, proteínas e carboidratos nos cardápios escolares.
Alguns deles, segundo a nutricionista do PNAE são: priorizar a oferta de alimentos in natura e minimamente processados (frutas, verduras, feijão, batata, mandioca, etc.), oferta reduzida de doces (máximo um por mês), não podem ser oferecidos alimentos com gordura trans na composição (estão fortemente relacionados com doenças cardíacas), oferta de produtos cárneos no máximo dois por mês, oferta limitada e margarina nos cardápios, limite de oferta de sal, açúcar, gordura e alimentos ultraprocessados (biscoitos industrializados, iogurte com sabor, pães com aditivos, etc.).
É proibida a oferta de alimentos ultraprocessados e a adição de açúcar, mel e adoçante nas preparações culinárias e bebidas para crianças até três anos de idade.
Da mesma forma, entre os 18 alimentos de oferta proibida segundo o PNAE estão: refrigerantes ou refrescos artificiais, bebidas ou concentrados à base de xarope de guaraná ou groselha, chás prontos para consumo e outras bebidas similares, cereais com aditivo ou adoçado, bala e similares, confeito, bombom, chocolate em barra e granulado, biscoito ou bolacha recheada, bolo com cobertura ou recheio, barra de cereal com aditivo ou adoçadas, gelados comestíveis, gelatina, temperos com glutamato monossódico ou sais sódicos, maionese e alimentos em pó ou para reconstituição.
Precisamos mudar
Larissa Mendes acrescenta que para melhorar a qualidade alimentar, “é preciso de mais profissionais capacitados para averiguar de perto o correto uso e manipulação dos alimentos, mais verba disponibilizada para compra de insumos e educação nutricional com o objetivo de incentivar a adesão a uma alimentação saudável por parte dos alunos”.
De igual maneira, é importante entender que o ambiente alimentar da escola é todo o espaço, desde as condições dentro da infraestrutura como fora delas, onde os alimentos estão disponíveis, obtidos, comprados e/ou consumidos. Isto inclui seu conteúdo nutricional, preço e a publicidade ou informação que a comunidade escolar recebe sobre a alimentação.
Por isso é importante o trabalho em conjunto entre todos os envolvidos: governantes, pais, professores, nutricionistas, merendeiras, diretores, secretários de educação, etc. Todos têm seu papel e sua importância no processo de oferecer uma alimentação de qualidade aos alunos da Rede Pública de Ensino.
“É preciso recursos, mas também é necessário que as pessoas entendam que o papel da alimentação na escola é de formar hábitos alimentares saudáveis. Essa alimentação oferecida na escola não tem só o objetivo de satisfazer uma necessidade biológica, mas também educar esse aluno sobre a importância de uma alimentação saudável”, finaliza Ana Paula.