Data de 21 de março foi instituida desde 1966 pela ONU.
Gabrielle Ramos Venceslau
Apesar do dia 21 de março ser relembrado anualmente como o Dia Internacional contra a Discriminação Racial, o preconceito racial ainda é presente em todo o mundo. No Brasil, a população branca recebe, mensalmente, quase o dobro do valor em relação à negra, de acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Além disso, em média, os brancos sofrem menos com o desemprego pois possuem um nível de escolaridade superior em comparação a população preta, parda e indígena do país, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso exemplifica a importância da data para relembrar o combate aos tipos de intolerâncias ainda vigentes relacionadas à etnia, raça ou cor de pele da população brasileira.
Origem da data
Desde 1966, O Dia Internacional contra a Discriminação Racial é relembrado no dia 21 de março, reforçando a luta contra o preconceito racial mundialmente. Esta data foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em memória ao “Massacre de Shaperville”, ocorrido em 21 de março de 1960, em Joanesburgo, África do Sul. Nesse dia, 69 dos vinte mil manifestantes foram mortos por tropas militares do Apartheid, regime de segregação racial, por protestar contra a “lei do passe”, que privava a população negra de circular em determinados locais dentro da cidade.
Discriminação social no Brasil
A discriminação social no país é presente desde os tempos de escravidão, “o fato do Brasil ter sido colônia de exploração de Portugal e os portugueses terem explorado os índios e negros foi suficiente para criar essa desigualdade, é como se apenas o sangue europeu devesse ser respeitado”, afirma a historiadora Michelle Sinara. Esse conjunto de práticas assiduamente colocava um grupo étnico em uma posição superior aos outros, dando origem ao racismo estrutural brasileiro.
No Brasil, a falta de projetos integradores, promovidos pelo Estado, para a população negra, após a abolição da escravidão em 1822, dificultou a inclusão desse grupo na participação da sociedade. Evidenciando a construção de uma sociedade racista desde os primórdios, sendo possível perceber que “ o racismo é uma planta de raízes firmes e sólidas”, enfatiza Michelle.
Desse modo, o combate contra a discriminação no Brasil começou a se intensificar apenas em 1988, com a nova Constituição Federal, que abordava o racismo como crime, ganhando força com a atuação do movimento negro e indígena, que promovem a igualdade racial até os dias atuais.
Impacto na vida das pessoas
Atualmente, a sociedade ainda sente os impactos da discriminação racial. A estudante de Jornalismo Ellen de Freitas afirma que “a discriminação no Brasil é algo verídico e recorrente, apesar de muitos indivíduos tentarem maquiar essa verdade, as estatísticas não mentem sobre a real situação de racismo em nosso país”.
Embora 9,4% dos brasileiros se identifiquem como pretos e 1,1% como amarelos ou indígenas, Apenas 11,9% dos maiores salários gerenciais são pagos a trabalhadores pretos e pardos, de acordo com o IBGE. Como diz a historiadora Michelle, o papel do negro na sociedade ainda é inferiorizado.
Isso mostra que o racismo é vivenciado por boa parte dos cidadãos brasileiros em pleno século XXI. “Já passei por diversas situações, desde ser chamada de nomes ofensivos a ser confundida em lojas por acharem que eu trabalhava lá, mesmo não estando de uniforme, sem contar a perseguição de seguranças em variados ambientes”, afirma Ellen.
Dessa forma, as políticas públicas Estado procuram trabalhar por meio da educação promovida para todos, sem exceção, porque “a raça, cor ou etnia não define o caráter e nem a capacidade de ninguém”, diz Michelle. Além das leis para aqueles que cometerem atos de discriminação contra as minorias.
Contudo, essa luta deve ser enfrentada não apenas pelo Estado, mas “de pessoa para pessoa, das individualidades para o todo, pois “é algo mais humanitário que governamental”. Assim, as pessoas se tornarão mais respeitosas e “respeitarão o outro porque é ser humano, independente da sua raça ou cor, tornando a sociedade mais igualitária” diz a historiadora.