Lia Costa
O inicio da nossa música foi marcada com bastante violência, e de escrava para Amélia as mulheres colocaram a boca no microfone para mostrar que são Garota de Ipanema
Na década de 50 o universo musical era caracterizado pelo romantismo e pela boemia, a chamada “era de ouro” do rádio no Brasil. Uma das músicas de sucesso era “Meu dono, meu rei” de Ângela Maria, expressando a casualidade da violência contra a mulher na época. Até então não existia uma discussão de gênero que valorizasse as mulheres. As cantoras e intérpretes brasileiras eram julgadas como mulheres imorais da desordem. Elas estavam desconsiderando os papeis sociais impostos pela visão conservadora da sociedade da época cuja composição era exclusividade masculina.
De acordo com o doutorando em língua e cultura Gilvan Costa, toda época tem a mulher como elemento principal de lirismo e poesia. Ele afirma que não havia mais compositoras, pois existia um claro silenciamento desses discursos. “Não era dado a essas mulheres o direito de se expressar. Algumas poucas de Chiquinha Gonzaga até Maisa e Dolores Duran conseguiram quebrar esses entraves a duras penas”, revela.
Wayne Gonçalves é mestre em história. Ela coleciona discos de vinil, canta, compõe e atua nas áreas de filosofia, sociologia e pedagogia. Nos anos 80, Wayne era adolescente e pegou vestígios da ditadura. Para ela, as cantoras e intérpretes brasileiras foram muito importantes na construção da sua própria imagem como mulher. “Aprendi o que é lutar. As lutas ideológicas são referentes de um povo”, diz. A professora confessa que se sente triste diante do âmbito social carente do país. “Luto muito para que as ideologias não morram”, alega.
As coisas mudaram muito desde “Dá Nela” até “Tá pra nascer homem”. Houve uma alteração de postura e vivência. Segundo a socióloga Manuela Manhães, a voz feminina e a composição que fala da mulher incentiva uma dinâmica na sociedade. “Essa dinâmica faz com que novos personagens surjam, novas formas de perceber a mulher surjam”, afirma. De acordo com ela, essa dinâmica é essencial para que a mulher saiba que pode ir além e cada vez mais ocupar um espaço que é dela também.
Gilvan não concorda que as músicas que cantavam sobre a violência contra a mulher foram um gatilho para o movimento feminista. No entanto, ele admite que mulheres como Joyce, Vanusa e Rita Lee já com influencias feministas fomentaram a formação do cancioneiro feminino brasileiro. “O que acontece é que os discursos apresentam ideologias em vigor. A sociedade, as exigências do tempo atuais e as revoluções foram moldando as expressões de arte para que elas se enquadrassem na nova realidade”, explica.
De acordo com Wayne, a música não é apenas sucesso, mas tem o poder de mudar as pessoas e movimentá-las socialmente. “É um grito de luta também”, afirma. Ela gostaria que todas as mulheres soubessem que cada um tem seu gosto pessoal e direito de ser. Por isso, roga pelo respeito. Para resumir, ela indica Caetano Veloso ao embalar “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”.
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